Está aqui

Saúde nos Açores, para além do limite

Só em maio deste ano, a afluência ao Hospital de Ponta Delgada bateu recordes, com 1.300 pessoas a recorrerem àquela valência em três dias. Artigo de Jessica Pacheco.

Nos últimos tempos foram debatidas várias propostas no parlamento dos Açores para que os médicos do serviço de urgência trabalhem para além do limite anual de horas extraordinárias estipulado no acordo coletivo de trabalho, que é de 150 horas.

É sabido que a afluência ao serviço de urgência ocorre não só porque as pessoas estão em situação grave de saúde, mas também porque não existe capacidade de resposta ao nível dos cuidados de saúde primários.

Só em maio deste ano, a afluência ao Hospital de Ponta Delgada bateu recordes, com 1.300 pessoas a recorrerem àquela valência em três dias.

Existe um claro problema no Serviço Regional de Saúde (SRS), que não se resolve sobrecarregando os seus profissionais, mas sim com medidas e investimentos estruturais, promovendo melhores condições de trabalho através de regimes de exclusividade facultativos e de investimento aos vários níveis da saúde. Mas porque não se investe de forma estrutural na saúde? Porque os resultados levam tempo, são investimentos a longo prazo e a realidade é que os políticos são chamados de 4 em 4 anos para apresentar programas e resultados. É aqui que tem de existir mudança de paradigma, caso contrário continuaremos a pagar as pesadas faturas dos remendos que vão continuamente destruindo o SRS e consequentemente a nossa saúde.

No caso dos médicos, a decisão do Governo Regional e do PAN foi a de apresentar propostas que partem do princípio de que se os médicos já fazem horas a mais para além do limite legal, então devemos incentivar e obrigar a isso, pagando mais. O Bloco foi o único partido a votar contra todas as propostas, alertando insistentemente para o potencial burnout dos médicos, o risco para os utentes, para a ausência de parecer dos sindicatos médicos e para o trabalho extraordinário sem limites. Assim os utentes não saberão quantas horas estará a trabalhar o médico que têm à sua frente no serviço de urgência e como estará física, mental e emocionalmente para o exercício das suas funções.

A proposta do Governo acabou por ser vetada pelo Representante da República, dando razão às preocupações do Bloco, algo que a coligação também reconheceu ao apresentar uma proposta de alteração já com a introdução de limites máximos, assim como exigindo o acordo dos trabalhadores para o trabalho suplementar para além do limite legal.

No entanto, e em espécie de corrida em cima do joelho, esta proposta foi aprovada em comissão na segunda-feira para ser votada na quarta, sem novamente ouvir os sindicatos dos médicos. O que pensam os médicos sobre isso? Ninguém sabe, porque a direita e o PAN preferiram ser eles próprios a decidir sobre o trabalho dos médicos.

Penso que um assunto destes, com implicações diretas no trabalho e vida dos médicos, sem esquecer as implicações para a segurança dos utentes, não pode ser tratado desta forma leviana e até irresponsável.

Quando já se gasta mais em horas extraordinárias do que em salários num dos hospitais da nossa região, isto deve levar-nos a refletir se é este o caminho que queremos na saúde, que neste momento não é de todo extraordinária.

Sobre o/a autor(a)

Enfermeira e presidente da VegAçores-Associação Vegana dos Açores.
(...)

Esquerda Saúde 3

Já saiu a revista Esquerda Saúde nº 3

17 de Novembro 2023

A edição de novembro de 2022 já está disponível online. Em destaque, a crise do SNS e a falta de respostas do Governo. Leia aqui a revista em formato pdf.

Editorial: Verão quente na Saúde

17 de Novembro 2022

Mudarão as políticas de saúde em Portugal? Não tenhamos grandes ilusões, mais do que mudanças de personalidades, o que conta são as opções políticas. E essas, infelizmente, continuarão idênticas. Editorial de Mário André Macedo.

Negociações sindicais no congelador, enfermagem fora do Orçamento

17 de Novembro 2022

O OE 23 pretende remunerar as primeiras 150 horas extras ao valor atual, apenas majorando após atingir esta marca. Ou seja, os enfermeiros terão de trabalhar 1 mês extra, antes de serem devidamente pagos pelo valor do seu trabalho. Artigo de Luís Mós.

 

A crise do SNS não é um fenómeno estival

17 de Novembro 2022

Foi badalado até à exaustão o fecho de maternidades, as transferências de grávidas, as mortes de mães e de bebés, que produziram suculentas manchetes. Poucas vezes se foi ao fundo da questão e se expôs a verdadeira razão e dimensão dos problemas. Artigo de Tânia Russo.

A minha história de enfermeira na Bélgica

17 de Novembro 2022

Ser independente, ter condições de trabalho vantajosas e possibilidade de progressão na carreira; estas foram as razões pelas quais emigrei para a Bélgica. Após nove anos, ainda cá estou, satisfeita. Esta é a minha história. Artigo de Maria Ribeiro.

Os TSDT e a eterna injustiça na saúde

17 de Novembro 2022

O nosso trabalho vale pouco para quem manda. Quem se senta durante o dia em frente ao Excel, não percebe o valor de trabalhar noite dentro a semear hemoculturas, efetuar uma TAC a um doente com AVC ou realizar um ECG numa sala de reanimação. Artigo de Eloísa Gonçalves Macedo

 

O SNS e os TSDT: o que aconteceu?

17 de Novembro 2022

O valor das profissões que a carreira de Técnico Superior de Diagnóstico e Terapêutica abrange é incalculável para a qualidade de vida dos utentes do Serviço Nacional de Saúde. Artigo de Nuno Malafaia.

Ensino médico: da academia à enfermaria

17 de Novembro 2022

Embora nos encontremos num período de inovação e experimentação alargada no ensino médico, onde a voz estudantil parece contar um pouco mais do que há alguns anos, os métodos de avaliação continuam a insistir de modo arcaico no exame de escolha múltipla ou no conjunto de frequências compostas por questões da mesma tipologia. Artigo de Pedro Vilão Silva.

 

Valorização da enfermagem é mais eficiência no SNS

17 de Novembro 2022

A situação global dos Enfermeiros/as é o espelho que reflete o estado da Saúde no nosso país: desinvestida, desmembrada e desmotivada. Artigo de Fernanda Lopes.

 

Desafios para a Gestão do Serviço Nacional de Saúde

17 de Novembro 2022

Os contratos programa devem ser divulgados por todos os profissionais da unidade de saúde para que se sintam envolvidos, para que saibam quais as metas a atingir, quais as estratégias a adoptar e que variáveis- métricas devem ser elencadas para avaliar a qualidade de cuidados prestados. Artigo de Gisela Almeida.

 

Saúde nos Açores, para além do limite

17 de Novembro 2022

Só em maio deste ano, a afluência ao Hospital de Ponta Delgada bateu recordes, com 1.300 pessoas a recorrerem àquela valência em três dias. Artigo de Jessica Pacheco.

O que se passa com os serviços de urgência

4 de Setembro 2022

Não há praticamente nenhum programa de governo para a saúde que não reconheça que há um problema nas urgências. No entanto, aqui estamos, com problemas semelhantes nos serviços de urgência ao longo dos últimos 40 anos. Artigo de Mário André Macedo.