Um concelho em passo lento

porMiguel Martins

16 de April 2024 - 23:36
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Ao invés de apresentar um plano concreto e que dê respostas a estas questões, a Câmara Municipal de Barcelos limita-se a copiar propostas de outros municípios, apresentando medidas a conta-gotas que apenas retiram dinheiro aos contribuintes e de nada servem para mudar a situação.

A mobilidade e o direito à cidade têm ganho cada vez maior atenção por parte dos responsáveis políticos. Em Barcelos, o Executivo camarário não é diferente, mostrando grande preocupação com estas questões. Ainda assim, vai uma grande diferença entre o papel e a prática.

Na nossa cidade, o trânsito está cada vez pior, tem-se tornado mais caótico e a falta de soluções é gritante. Por muito boas que sejam as intenções da Câmara Municipal, o Executivo tem sido incapaz de responder, em condições, a estes problemas. São muitas as situações a que me refiro, já bem conhecidas pelas e pelos barcelenses.

Desde logo, a “joia” do urbanismo de Barcelos: o Campo da Feira. Em vez de ser reabilitado e devolvido à população, este espaço continua a ser um depósito de carros no centro da cidade. Por que não devolver o Campo da Feira à cidade e às suas pessoas, tornando-o um espaço verde e para usufruto da população, garantindo que a Feira ali continuaria a decorrer? Arrisco-me a lançar um desafio que seria interessante: o Executivo camarário criar estacionamentos, gratuitos ou com valores acessíveis, nas saídas da cidade, de forma a reduzir os carros que circulam na cidade, e reinventar o Campo da Feira. A decisão em torno do Campo da Feira seria democrática e aberta a todos os residentes, nomeadamente através de um concurso de ideias, com o apoio de especialistas em planeamento urbano.

Mas não ficamos por aqui. Junto à Urbanização de S. José, ao lado do Mercadona, o trânsito não flui – fica estancado, com as ruas entupidas de carros. Ou deslocações na zona da rotunda de acesso a S. Veríssimo que, como é habitual em hora de ponta, são impossíveis devido ao trânsito. Ou, ainda, a problemática da passagem de nível de Arcozelo, em que as ligações para Lijó, Roriz, Galegos, entre outras freguesias, são marcadas por um “pára-arranca” infernal. E sobre esta último percurso, a Câmara há muito diz ter soluções para o problema da passagem do nível – concretização é que nem vê-la.

Uma outra promessa que tem sido constantemente adiada prende-se com o conhecido Nó de Santa Eugénia e os problemas que cria ao nível da fluidez de trânsito. A variante criada pelo Executivo de Fernando Reis, do PSD, nunca foi finalizada, tendo já muita tinta corrido sobre essa obra. O Executivo do PS nada fez para resolver esta situação, enquanto o atual, da coligação de direita, nada fez, ainda que esteja prometido. Continuamos a aguardar, sem muita esperança, mas com muita paciência.

Face a todos estes casos e entre tantos outros, a preocupação da Câmara Municipal não se prende com a resolução dos problemas. Pelo contrário, importante é que as pessoas paguem para estacionar os carros na cidade, conforme já foi noticiado, criando uma série de outros problemas. Por exemplo, como vai ser nas ruas onde os moradores estacionam os carros na rua? Vão ter de arranjar um cartão identificativo e pagar uma mensalidade para estacionar o carro à porta de casa? É lamentável que o Executivo camarário esteja fixado em ir diretamente à carteira dos contribuintes, em vez de arranjar soluções para os seus problemas.

Ao invés de apresentar um plano concreto e que dê respostas a estas questões, a Câmara Municipal limita-se a copiar propostas de outros municípios, apresentando medidas a conta-gotas que apenas retiram dinheiro aos contribuintes e de nada servem para mudar a situação. A cidade vai ficar cheia de lugares de estacionamento pagos. Mas, e o trânsito?

Precisamos de fazer um debate alargado em Barcelos, que discuta, seriamente, a estratégia para a mobilidade no concelho. Precisamos de soluções para os problemas que todas e todos nós conhecemos, mas também de um investimento sério nos transportes públicos, para que liguem as várias freguesias à cidade e permitam que as pessoas se possam deslocar de forma eficaz.

Artigo publicado no jornal Barcelos Popular a 11 de abril de 2024

Miguel Martins
Sobre o/a autor(a)

Miguel Martins

Sociólogo. Mestrando em Geografia na Universidade do Minho. Deputado municipal do Bloco de Esquerda em Barcelos
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