Lembram-se do encontro entre Mike Pompeo e Benjamin Netanyahu em Lisboa, em dezembro do ano passado? Não sabemos de que falaram, até porque as duas administrações de extrema-direita têm muitas agendas em comum, entre elas, o apoio mútuo em campanhas eleitorais. Mas sabemos que pouco tempo depois, em janeiro, Trump apresentou o seu plano para o Médio Oriente.
O essencial sobre esse plano foi dito pelo relator especial da ONU para a situação dos direitos humanos no território palestino ocupado por Israel desde 1967, Michael Lynk: “Este ato unilateral mina o direito dos palestinianos à autodeterminação e ameaça arrastar o mundo de volta para tempos mais sombrios, quando a conquista era aceitável, as fronteiras podiam ser redesenhadas e a integridade territorial era abalada regularmente”.
Resumindo, é bastante plausível que Portugal tenha sido anfitrião de uma conspiração contra o direito internacional a pedido de um país responsável por apartheid, massacres, colonização violenta, ocupações ilegais e crimes contra a humanidade. E é possível que o desfecho seja em breve, e sangrento.
Neste momento, enquanto o mundo tem os olhos postos num vírus, Israel prepara-se para anexar 30% dos territórios palestinos ocupados em 1967, incluindo todo o vale do rio Jordão e os colonatos construídos ilegalmente na Cisjordânia. Segundo este plano, a Palestina nunca existirá e Jerusalém será entregue a Israel. O executante será Netanyahu, um cão de guarda que pode ser equiparado a qualquer terrorista internacional, mas quem se prepara para enterrar qualquer possibilidade de paz no Médio Oriente é Donald Trump.
Há muita gente que entende a importância do que se vai decidir em Israel nos próximos dias. Avraham Burg, ex-porta-voz do Knesset (Parlamento israelita), é uma dessas pessoas. Dirigiu uma carta a milhares de parlamentares europeus “de coração pesado e com enorme preocupação sobre a possibilidade de anexação da Cisjordânia por Israel, território que é, na prática e legalmente, uma parte essencial de qualquer plano viável para a existência de um Estado palestiniano”.
Nessa carta, que deu origem a um alerta internacional que vários deputados do Bloco de Esquerda também assinaram, o ex-parlamentar israelita fez um apelo à Europa para que levasse a sério esta ameaça à paz, à vida de israelitas e palestinianos e ao direito internacional.
Olhando para a tragédia que pode acontecer enquanto se desvia o olhar, será assim tanto pedir à comunidade internacional que, mesmo em tempos de pandemia, ponha os olhos na Palestina?
Artigo publicado no Jornal “I” a 2 de julho de 2020