Andreia Galvão

Andreia Galvão

Atriz, ocasional jornalista freelancer. Membro da Comissão Política do Bloco de Esquerda.

A direita europeia muitas vezes não se opõe diretamente a nenhuma etnia nem usa tão flagrantemente um discurso xenófobo, mas utiliza um discurso que apela à manutenção da identidade nacional.

Quando se quer falar de monopólios energéticos, da falta de recursos para fazer a transição climática e garantir trabalho digno, da impossibilidade de crescer indefinidamente sobre recursos finitos, quando se quer tocar onde doí - aí a direita não toca. E esse é o programa da Esquerda.

Os países que têm sido mais vigorosos na defesa da conexão UE-Mercosul são Espanha e Portugal. Irónico que seja um país como o nosso tão aparentemente comprometido com a resolução da crise climática. O espaço entre a retórica e a ação torna-se, a cada dia, mais incomportável.

Olhar para a crise climática sem apresentar uma lente intersecional para a crise em questão é falhar em apresentar propostas políticas que colmatem as grandes dificuldades das comunidades que estão na linha-da-frente da crise climática.

A reflexão e a filosofia são indissociáveis da prática política. De que outro modo podemos evidenciar as ideias inerentes ao nosso sistema e as nossas vidas, que foram secularmente neutralizadas, normalizadas e enraizadas como inerentes à essência humana?

Estes dois anos de desespero, insegurança, medo e instabilidade marcaram o mundo que conhecemos e a forma como conhecemos o mundo. O COVID-19 deixou a nu as engrenagens do capitalismo.

Diversos fenómenos nos últimos dias têm aprofundado o agudizar da consciência social sobre a crise climática. Na última semana dezenas de pessoas morreram no Canadá no meio a uma onda de calor sem precedentes que bateu recordes de temperatura.

A atenção internacional só foi captada a partir do momento em que se verificaram lesados estrangeiros - sete mortos no ataque terrorista em Palma, levando-nos a questionar se há preocupação com as vidas moçambicanas quando não se colocam questões de conflito geopolítico.

Hoje celebramos o dia internacional contra a discriminação racial. E estamos cansadas - já sofremos estas discriminações há demasiado tempo. E não toleraremos mais nenhuma.

Há um momento, na vida de todas as crianças afro-descendentes, em que descobrimos o que o mundo nos traduz como uma verdade penosa sobre nós próprios.