Eric Toussaint

Eric Toussaint

Politólogo. Presidente do Comité para a Anulação da Dívida do Terceiro Mundo

Contrariamente a uma ideia aceite, a missão do Banco Mundial não consiste na redução da pobreza nos países em desenvolvimento. Artigo publicado no portal do CADTM, o segundo da série "Os setenta anos de Bretton Woods, do Banco Mundial e do FMI".

Há setenta anos, a 22 de julho de 1944, terminava a conferência de Bretton Woods, da qual resulta a criação do Banco Mundial e o FMI. Para evitar a repetição de crises do tipo da de 1929, mas também para assegurar a sua liderança no mundo, após a Segunda Guerra Mundial, o governo dos Estados-Unidos dedica-se desde cedo à criação de instituições financeiras internacionais.

A forma permissiva com que as autoridades dos principais países industrializados tratam a manipulação das taxas de juro demonstra às claras que a nova doutrina "demasiado grande para ser condenado" se aplica a grande escala.

O HSBC está envolvido em inúmeros crimes financeiros, desde o branqueamento de capitais, à manipulação do mercado de taxas de câmbio e de juros interbancários, venda abusiva e fraudulenta de derivados sobre as taxas de juros e de créditos hipotecários nos EUA, manipulação das cotações do ouro e prata e organização a grande escala da evasão fiscal de importantes fortunas. 

No decurso do último década, o HSBC colaborou com os cartéis da droga do México e da Colômbia – responsáveis por (dezenas de) milhares de assassínios com armas de fogo – no branqueamento de dinheiro num montante de cerca de 880 mil milhões de dólares. As relações comerciais do banco britânico com os cartéis da droga perduraram, apesar das dezenas de notificações e avisos de diversas agências governamentais dos EUA.

 “Estados Unidos: Os abusos dos bancos no setor imobiliário e as ações de despejo ilegais” é o segundo artigo da série “Os bancos e a doutrina ‘demasiado grandes para serem condenados’” de Eric Toussaint, CADTM.

Tudo indica que as políticas impostas pelas instituições financeiras internacionais, principais financiadoras do regime ditatorial do general Juvenal Habyarimana, aceleraram o processo que levou ao genocídio no Ruanda. 

O facto de a especulação e os crimes financeiros terem causado a pior crise económica desde o século passado pesa muito pouco na balança da justiça.

Através das suas actividades de trading, os bancos são os principais especuladores nos mercados grossistas e a prazo das matérias-primas e dos produtos agrícolas, dispondo de meios financeiros nitidamente mais avultados que os restantes intervenientes.

Os bancos são os principais atores do mercado de câmbios, mantendo em permanência a instabilidade das taxas de câmbio. Mais de 95% das trocas de moeda são de tipo especulativo. Apenas uma ínfima parte das transações diárias de divisas está relacionada com o investimento, o comércio de bens e serviços da economia real, as remessas de emigrantes...