Os lucros de milhões e o preço dos combustíveis

porÁlvaro Arranja

14 de April 2008 - 0:00
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Um roubo perfeitamente legalizado atinge cada português que se dirija a uma bomba de gasolina. Ao contrário do que nos querem fazer crer, são as margens de lucro cada vez maiores que nos fazem pagar os combustíveis mais caros da Europa, não os impostos ou o preço do barril de petróleo.

É graças a este aumento galopante dos preços decidido pelas empresas que, em 2007, a GALP aumentou os seus lucros em 71% e Américo Amorim se tornou o 1º no ranking das maiores fortunas de Portugal.

A GALP deveria ser uma empresa de capitais públicos, a ser usada pelo Governo para conter os apetites especulativos das empresas privadas, no interesse do consumidor e da economia. Pelo contrário, o processo de privatização transformou-a num maná para os felizes contemplados. Amorim, com dezenas de anos na indústria corticeira, nunca conseguiu uma ínfima parte dos lucros que a presença no capital da GALP lhe garante. Toda esta teia de interesses se reflecte duramente na carteira dos portugueses, perante a passividade de governantes mais interessados no seu lugar futuro num Conselho de Administração...

Apesar dos aumentos de lucros, em 2007 a GALP pagou menos 14 milhões de euros de IRC que no ano anterior. Os benefícios fiscais e a consequente diminuição das receitas do Estado, deram também uma contribuição decisiva para os avultados lucros da empresa.

Apesar da "cassette" constantemente repetida numa comunicação social dependente do poder económico, Portugal não tem dos mais elevados impostos sobre os combustíveis. Só sete países da União Europeia têm impostos inferiores e, em alguns países com impostos superiores, como a França e a Suécia, os preços de venda ao público são menores que em Portugal.

Outro facto revelador, é o dos preços do barril de petróleo em euros terem diminuído 11% em 2007, em comparação com o ano anterior, enquanto os preços ao consumidor aumentaram.

Milhares de portugueses, próximos da fronteira, optam por se abastecer de combustíveis em Espanha, já que a diferença entre os preços nos dois países é muito superior à diferença de impostos.

Em Portugal, uma verdadeira operação de extorsão, atinge o consumidor e paralisa uma economia refém de custos de combustíveis artificialmente inflacionados, para garantir lucros astronómicos a alguns grupos.

Álvaro Arranja
Sobre o/a autor(a)

Álvaro Arranja

Professor e historiador.
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