A reversão das reversões

porPaulo Mendes

07 de April 2016 - 14:27
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Passos Coelho veio dizer o que há muito sabíamos: a indisponibilidade total para admitir que a receita austeritária falhou e continuará a falhar.

Antes que certos colunistas, à laia de correspondentes do PPD na Assembleia da República – porque o PSD continua com enormes dificuldades para encontrar a social-democracia – venham contar as diatribes que a esquerda anda por aí a fazer, seria pertinente sublinhar a mais recente incursão do PPD pelo poder, na semana passada, ao responder ao desafio, lançado por António Costa, para participar na discussão daquilo que designou como “Plano Nacional de Reformas”, e que confirma, mais uma vez, a indisfarçável incapacidade de se libertar do dogma da austeridade como meio para alcançar a redenção dos nossos pecados, mesmo que nunca cometidos pelo comum dos portugueses.

Pedro Passos Coelho veio então dizer o que há muito sabíamos: a indisponibilidade total para admitir que a receita austeritária falhou e continuará a falhar, razão para que colocasse em campo, a sua imposição dourada para viabilizar qualquer programa de reformas: reverter as reversões. Nada de surpreendente, antes pelo contrário. É a continuidade do comportamento do PPD que votou contra a devolução da sobretaxa, reposição de salários, aumento do complemento solidário para idosos, o aumento do rendimento social de inserção, abono de família, do subsídio social de desemprego, a gratuitidade de manuais escolares, o alargamento da tarifa social de eletricidade ou a redução do IMI. Não porque considera que as medidas de reversão da austeridade seriam insuficientes para beneficiar as famílias, tal como deram a entender alguns colunistas em busca pela social-democracia perdida, mas porque continuam a acreditar rigidamente que a única solução é empobrecer e precarizar as famílias.

Assim não dá, mesmo que continuem a tentar convencer as famílias de que viviam num paraíso insustentável e que não podem, nem devem, almejar um nível de vida digno e uma sociedade bem menos desigual. Por este caminho, nunca encontrarão a social-democracia e estarão cada vez mais próximos de uma sociedade controlada por uns poucos, graças a um povo com poucas oportunidades culturais e educacionais, pobres, mas totalmente conformados à sua condição, pois melhor será impossível.

Paulo Mendes
Sobre o/a autor(a)

Paulo Mendes

Deputado à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores. Membro do Bloco de Esquerda Açores. Licenciado em Psicologia Social e das Organizações
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