O mundo em 2020 além da pandemia

Reunimos aqui alguns dos principais acontecimentos do ano a nível internacional, à margem do tema omnipresente na atualidade informativa em 2020. Dossier organizado por Luís Branco.

20 de December 2020 - 16:00
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O mundo em 2020 além da pandemia

Como fazer um resumo do ano sem falar da pandemia? É uma tarefa impossível. A crise económica que resultou da importante paragem da produção e da circulação de pessoas e mercadorias é de tal dimensão que ninguém arrisca ainda prever quando vai terminar e quanto vai custar. O desemprego disparou, apesar das ajudas dos Estados para conter o efeito da crise, a pobreza aumentou e as desigualdades também, com os super-ricos a aproveitarem-se do momento para aumentarem a sua riqueza. 

Ao longo do ano, fomos publicando algumas análises de economistas (e não só) acerca das diferenças em relação à crise financeira de 2008 e de como a relação de forças saída dessa crise está a influenciar o desenrolar da que hoje vivemos. Selecionamos alguns desses artigos para este dossier.

Além da crise, há temas que persistem em não deixar a ribalta da atualidade internacional e alguns prometem ficar por muitos anos. É o caso da crise climática, num ano marcado por impasses e vitórias. Apesar do decréscimo das emissões poluentes devido à paragem da produção, a sua concentração na atmosfera bateu recordes, tal como as temperaturas médias. O degelo e a desflorestação continuaram a contribuir para as alterações climáticas e a mobilização ativista ficou comprometida pelo confinamento. Apesar disso, houve boas notícias em Portugal, com uma importante vitória contra a prospeção e exploração de combustíveis fósseis.

A crise dos refugiados às portas da Europa teve novos desenvolvimentos, marcados sobretudo pela escalada da tensão entre a Grécia e a Turquia. Ainda antes da pandemia, enquanto Erdogan ameaçava Bruxelas com o fim do acordo que põe a Turquia a reter a passagem de migrantes para a União Europeia, a Grécia lançava gás lacrimogéneo para mandar milhares de migrantes de volta à Turquia. Pouco depois, um violento incêndio destruiu por completo o sobrelotado campo de Moria, símbolo do fracasso da política europeia de acolhimento, onde milhares de pessoas esperavam há anos em condições insalubres por uma resposta aos seus pedidos de acolhimento. No outro lado do mundo, a perseguição à minoria muçulmana rohingya na antiga Birmânia continuou em 2020 e as condições de acolhimento destes refugiados na Indonésia e Bangladesh foram mais uma vez alvo de denúncias por parte das organizações humanitárias.

Na política internacional, selecionamos para este dossier os acontecimentos do ano nos Estados Unidos, abalados por uma vaga de protesto impressionante contra o racismo após um novo assassinato policial, a poucos meses das eleições que derrotaram Trump mas deixaram bem vivas as feridas abertas numa sociedade cada vez mais dividida. Mas também na China, que conseguiu controlar a pandemia a tempo de a aproveitar para reforçar a repressão contra a minoria uigur e os defensores da autonomia e da democracia em Hong Kong.

Em Angola, a esperança num aumento das liberdades em relação ao autoritarismo do anterior chefe de Estado e à corrupção dos seus próximos transformou-se em desilusão, com novas prisões e assassinatos de manifestantes por parte das forças de segurança do regime. Foi da América Latina - com as importantes mobilizações na Argentina pelo direito ao aborto, no Chile por uma nova Constituição e na Bolívia com a derrota dos golpistas nas urnas, sem esquecer a revolta no Peru - que vieram alguns sinais de esperança num ano que muita gente vai querer esquecer.

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