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Cronologia: da invasão ao Estado Islâmico

Entre janeiro de 2002 e março de 2015, 13 anos de cronologia. Da invasão e derrube de Saddam Hussein à explosão da guerra civil; do proconsul Paul Bremmer ao governos de Al-Maliki; da saída das tropas dos EUA à conquista de amplo território pelo Estado Islâmico.

2002

29 de janeiro - O presidente americano George W. Bush inclui o Iraque no "Eixo do mal", juntamente com a Coreia do Norte e o Irão.

fevereiro - O diplomata norte americano Joseph C. Wilson viaja para a Nigéria, a pedido da CIA, para investigar a possibilidade de Saddam Hussein ter comprado urânio enriquecido. Joseph Wilson conclui que “é altamente duvidoso que tal transação tenha ocorrido”.

9 de setembro - O assessor de imprensa do primeiro ministro britânico, Alastair Campbell, envia um memorando a John Scarlett, presidente do Comité de Inteligência Conjunta, em que dá instruções no sentido de o dossier britânico sobre o Iraque ser "um documento que complemente, e não seja contraditório,” as reivindicações dos Estados Unidos.

20 de setembro - O primeiro ministro português, Durão Barroso, afirma, na Assembleia da República, que “O Iraque tem armas de destruição maciça, biológicas e químicas, e pode estar na eminência de possuir armas nucleares”.

24 de setembro - O governo britânico publica um dossier sobre o Iraque no qual é assegurado que o Iraque poderia desencadear um ataque químico ou biológico em 45 minutos (ver 9 de setembro).

outubro - O relatório “National Intelligence Estimate” (Avaliação Nacional de Inteligência), elaborado pelos serviços secretos norte americanos, refere aquisições iraquianas de urânio na Nigéria.

8 de novembro - O Conselho de Segurança da ONU aprova por unanimidade a resolução 1.441, que obriga o presidente iraquiano Saddam Hussein a aceitar o retorno dos inspetores de armas ao país.

11 de outubro - O Senado americano autoriza o presidente Bush a usar força contra o Iraque. A medida já tinha sido aprovada pela Câmara dos Deputados.

18 de novembro - Uma equipa de 30 inspetores das Nações Unidas chega ao Iraque. A mesma é chefiada pelo chefe da Comissão das Nações Unidas de Vigilância, Verificação e Inspeção (UNMOVIC), o diplomata sueco Hans Blix, e pelo diretor da Agência Internacional da Energia Atómica, Mohamed El Baradei.

 

2003

3 de janeiro a 12 de abril - Grupos anti-guerra  organizam protestos em vários pontos do mundo. Calcula-se que, neste período, 36 milhões de pessoas em todo o mundo tomaram parte em quase 3.000 protestos contra a guerra do Iraque, sendo as manifestações de 15 de fevereiro as maiores e mais ativas.

28 de janeiro - George Bush afirma, perante os parlamentares norte americanos, que os EUA estão preparados para usar a força no Iraque, mesmo que os aliados discordem ou o Conselho de Segurança da ONU não aprove.

5 de fevereiro - Colin Powell, secretário de Estado dos EUA, apresenta na ONU documentos, gravações telefónicas e relatos de desertores que supostamente provariam que Saddam seria um risco iminente para o mundo.

9 de fevereiro - Mohamed El Baradei, afirma, após uma missão de 36 horas no Iraque: “Verificámos hoje o início de uma cooperação plena. Se prosseguir, penso que contribuirá para um acordo pacífico”.

28 de fevereiro - O chefe da UNMOVIC, Hans Blix, apresenta o seu décimo segundo comunicado trimestral ao Conselho de Segurança no qual reafirma que o Iraque está a cooperar, que não existem quaisquer provas concretas de que o Iraque possui armas de destruição em massa e que as inspeções estão a avançar.

8 de março - O responsável da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) esclarece que os documentos segundo os quais o Iraque tinha tentado importar urânio de Níger são falsos.

16 de março - George W. Bush, Tony Blair e José Maria Aznar são recebidos pelo ex primeiro ministro português Durão Barroso, na Base das Lajes, nos Açores, para uma cimeira, conhecida por Cimeira das Lajes ou Cimeira da Guerra, onde foi acertada a intervenção militar contra o Iraque.

A maioria dos membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas decide não apoiar o uso da força contra o Iraque.

17 de março - George Bush afirma, num comunicado geral à nação, que: “A informação recolhida por este e por outros governos não deixa qualquer dúvida de que o regime do Iraque continua a possuir e a esconder algumas das mais letais armas jamais inventadas”. Bush dá um prazo de 48 horas para Saddam e os seus filhos deixarem o Iraque.

18 de março - Os inspetores da UNMOVIC são retirados do Iraque.

20 de março - A coligação militar de países liderada pelos EUA e Inglaterra lança uma ofensiva contra o Iraque, na qual participam 125 mil soldados, comandados pelo general Tommy Franks.

30 de março - Donald Rumsfeld afirma: “Sabemos onde estão as bombas nucleares. Estão cerca de Tikrit e Bagdad e um pouco ao Este, ao Oeste, ao Sul e ao Norte".

abril - George W. Bush, anuncia o envio de mais 100 mil soldados para o Iraque.

8 de abril - Tanque americano atinge o Hotel Palestina, matando dois jornalistas, o cinegrafista da agência de notícias Reuters Taras Protsyuk e José Couso, do canal espanhol Telecinco. Outros três jornalistas ficaram feridos.

9 de abril - Bagdade passa a ser controlada pelas forças dos EUA, que derrubam a estátua do presidente iraquiano.

13 de abril - As forças militares multinacionais tomam o último bastião de Saddam Hussein - Tikrit, a sua cidade natal.

21 de abril - A coligação multinacional criou a Autoridade Provisória da Coligação, liderada por Jay Garner, que se revestiu de autoridade legislativa, executiva e judicial.

28 de abril - Cerca de 200 pessoas desafiam, em Fallujah, o toque de recolher imposto pelos americanos e exigem a reabertura de uma escola secundária usada como quartel-general militar. Soldados da 82ª Divisão Aérea disparam contra a multidão matando 17 civis e ferindo 70 .

1 de maio - George Bush faz o discurso da “Missão Cumprida” durante uma visita ao porta-aviões USS Abraham Lincoln, que regressara de uma missão que incluíra serviço no Golfo Pérsico.

6 de maio - Bush nomeia Paul Bremer, ex-embaixador e ex-chefe da divisão
de combate ao terrorismo do Departamento de Estado, para ser o administrador civil americano no Iraque, assumindo a liderança da Autoridade Provisória do Iraque.

22 de maio - Conselho de Segurança da ONU aprova a resolução 1.483, que põe fim a quase 13 anos de sanções contra o Iraque e outorga o comando às forças de ocupação por período indeterminado.

6 de julho - Joseph C. Wilson (ver fevereiro de 2002) afirma, num artigo publicado no The New York Times, que “algumas das informações que eu transmiti, relacionadas com o programa de armas nucleares do Iraque, foram distorcidas para exagerar a ameaça iraquiana”.

13 de julho - O Conselho de Governo Iraquiano -formado por 25 iraquianos escolhidos sob supervisão dos EUA - promove o seu encontro inaugural em Bagdade.

15 de julho - Conselho de Governo Transitório iraquiano anuncia a criação de um tribunal para julgar os crimes de guerra cometidos durante o regime de Saddam Hussein.

22 de julho - Soldados matam filhos e netos de Saddam Hussein.

19 de agosto - Um caminhão-bomba explode junto à sede da ONU em Bagdade, causando 22 mortos.

29 de agosto - Um carro-bomba mata quase cem pessoas em Najaf, em frente a uma importante mesquita xiita. Entre as vítimas está o aiatolá Muhammad Bakr Al Hakim, que apoiou a ação dos EUA.

3 de setembro - Tomada de posse do primeiro governo pós-Saddam, de Iyad Allawi.

2 de outubro - O Grupo de inspeção no Iraque admite não ter encontrado nenhuma arma de destruição em massa no Iraque.

13 de novembro - O primeiro contingente do chamado Grupo Alfa, composto por 128 membros da Guarda Nacional Republicana portuguesa, chega a Basra, no sul do Iraque.

13 de dezembro - Saddam Hussein é capturado numa quinta perto de Tikrit.

 

2004

11 de janeiro - O antigo secretário do Tesouro de George Bush afirma que o presidente tomou posse, em inícios de 2001, já com a firme intenção de invadir o Iraque. Segundo Paul O'Neill, oito meses antes do 11 de setembro, Bush pediu aos seus conselheiros para encontrarem um pretexto para a invasão.

5 de fevereiro - O diretor da CIA, George J. Tenet, reconhece que as forças americanas podem ter super estimado o arsenal de armas químicas do Iraque.

8 de fevereiro - O Chefe da UNMOVIC, Hans Blix, acusa, durante uma entrevista à BBC, os governos norte americano e britânico de dramatizarem a ameaça de armas de destruição maciça no Iraque, por forma a justificarem a invasão do país.

2 de março - Explosões coordenadas de homens-bomba, morteiros e explosivos atingem mesquitas xiitas em Karbala e Bagdade. Pelo menos 181 pessoas morrem.

8 de março - O Conselho de Governo Iraquiano assina a Constituição interina do país pós Saddam.

4 abril - Tem início o primeiro cerco a Fallujah. Confrontos causaram cerca de 600 mortes entre os civis.

28 abril - A rede televisiva americana CBS divulga imagens de supostos maus tratos a presos iraquianos na prisão de Abu Ghraib.

17 de maio - Um ataque suicida com carro bomba mata o líder do Conselho de Governo Iraquiano, Izzedim Salim.

1 de junho -  O Conselho de Governo Iraquiano dissolve-se. O xiita Iyad Allawi é nomeado primeiro-ministro e Ghazi Mashal Ajil al-Yawer presidente. O presidente americano, George W. Bush, elogia a formação do governo interino e afirma que Allawi é um "líder forte" e um "patriota".

28 de junho - É dissolvida a Autoridade Provisória da Coligação.

9 julho - A Comissão de Inteligência do Senado americano conclui que: "A maior parte das principais conclusões dos serviços de inteligência, em outubro de 2002, referentes ao acompanhamento dos programas de armas de destruição em massa (ADM) no Iraque foram exageradas ou não estavam apoiadas em informações".

16 de setembro - Kofi Annan, Secretário Geral da ONU, afirma que a invasão do Iraque foi ilegal.

6 de outubro - Charles Duelfer, apresenta ao Senado dos EUA o relatório final do Grupo de Pesquisa do Iraque no qual se conclui que não existiam armas de destruição em massa nesse país. No documento, é referido um amplo esquema de corrupção criado pelo regime de Saddam Hussein que envolveria a França e a Rússia.

7 de novembro - Início do segundo cerco a Fallujah, que deu origem ao confronto mais sangrento da guerra no Iraque, e durante o qual o exército britânico e norte americano usam fósforo branco e o agente MK77 (ver 8 de novembro de 2005). Cruz Vermelha lista, pelo menos, 800 vítimas civis.

 

2005

30 de janeiro - A xiita Aliança Iraquiana Unida vence as primeiras eleições legislativas. A maioria dos sunitas boicota as eleições.

3 de fevereiro - Ataque de carro bomba em Hilla causa 114 mortos.

28 fevereiro - Ataque reivindicado pelo líder da Al-Qaeda no Iraque, Abu Musab al-Zarqawi, deixa 118 mortos em Hilla, no centro do país.

31 março - Comissão presidencial conclui que os serviços de inteligência dos EUA se equivocaram nas suas estimativas sobre a presença de armas de destruição em massa no Iraque.

6 de abril - Jalal Talabani toma posse como presidente do Iraque e nomeia Ibrahim al-Jaafari como primeiro-ministro.

1 de maio - O The Sunday Times divulga o conteúdo de um memorando secreto de oito páginas, conhecido por “Memorando Downing Street”, que descrevia um encontro entre o primeiro ministro britânico, Tony Blair, e altos responsáveis da política de segurança, que teve lugar a 23 de julho de 2002. No encontro, o então chefe do MI6, John Dearlove, descreve a conversa que tivera com George Tenet, diretor da CIA, em Washington, três dias antes, e explica que George Bush decidira atacar o Iraque e que a guerra devia ser “justificada pela conjunção de terrorismo e armas de destruição em massa”.

5 de agosto - Tropas americanas começam uma ampla ofensiva para controlar a desértica província de Anbar.

14 de setembro  - Mais de uma dúzia de bombas detonadas simultaneamente em Bagdade deixam 178 mortos.

15 de outubro  - Cerca de 78% dos iraquianos aprovam a nova Constituição, contestada pelos sunitas.

19 de outubro  - Saddam Hussein é julgado por crimes contra a humanidade.

29 de outubro  - O Pentágono apresenta a sua primeira estimativa de civis vítimas da guerra: 25.902 mortos ou feridos.

19 de novembro - Massacre de Haditha - militares americanos fuzilam 24 iraquianos à queima roupa, incluindo dez mulheres e crianças.

8 de novembro - É transmitido o programa "Fallujah, o massacre escondido", na televisão pública italiana Rai News 24, que revela que foi usado fósforo branco e o agente MK77, uma variante do napalm usado no Vietname, na ofensiva norte-americana contra a cidade de Fallujah, em novembro de 2004.

15 de novembro - Porta-voz do Pentágono, Barry Venable, confirma, em entrevista à BBC, a utilização de fósforo branco por parte de exército norte americano no Iraque.

15 de dezembro - Eleições parlamentares no Iraque. Registam-se várias explosões em Bagdade.

 

2006

10 de fevereiro - Os resultados finais das eleições dão à aliança xiita a maioria dos assentos no Parlamento, com 128 cadeiras. Os sunitas conseguem 58 e os curdos, 53.

22 de fevereiro  - Explosão numa mesquita xiita de Samarra gera onda de violência generalizada que causa a morte de, pelo menos, 450 pessoas.

22 de abril - É empossado o presidente curdo Jalal Talabani, que encarrega o xiita Nuri al-Maliki de formar novo governo.

23 de abril  - Tyler Drumheller, chefe da CIA de operações clandestinas para a Europa, afirmou, no programa “60 Minutes" da CBS, que a agência recebeu informações documentais de Naji Sabri, ministro das Relações Exteriores de Saddam, que indicavam que não existiam armas de destruição maciça no Iraque.

20 de maio - É formado o governo de união.

7 junho  - Líder da Al-Qaeda no Iraque, Abu Musab al-Zarqawi, é morto em ataque aéreo.

7 de setembro  - Governo iraquiano assume o comando militar.

5 de novembro  - Saddam é condenado à morte pela execução de 148 xiitas em 1982.

8 de novembro - Secretário da defesa, Donald Rumsfeld pede demissão e Robert Gates assume o seu lugar. Tropas passam a ser lideradas por David Petraeus.

23 de novembro  - Pelo menos 215 mortos em atentados em série em um bairro xiita de Bagdade.

6 de dezembro  - O relatório Baker recomenda o início de retirada das tropas em 2008.

30 de dezembro - Saddam Hussein é executado.

 

2007

10 de janeiro  - Bush anuncia o envio de 21.500 soldados adicionais para o Iraque. Até meados de junho, cerca de 30 mil soldados são enviados para o Iraque.

16 de janeiro  - ONU divulga o primeiro balanço anual de civis mortos no Iraque e diz que o número ultrapassou 34 mil em 2007.

14 de fevereiro  - O primeiro ministro iraquiano Nouri al Maliki lança a nova ofensiva de segurança proposta pelos EUA em Bagdade, que conta com 80 mil soldados iraquianos e americanos.

15 de junho  - Os militares dos EUA anunciam o fim da fase de reforços militares, que elevaram o contingente a 160 mil soldados.

24 de junho  - "Ali Químico", primo de Saddam, é condenado à morte pelo massacre de 182 mil curdos em 1988. Ele é executado em janeiro de 2010.

7 de julho  - Caminhão-bomba mata 160 pessoas em Kirkuk.

20 de março  - Ex-vice-presidente Taha Yassine Ramadan é enforcado.

18 de abril  - Pelo menos 191 pessoas são mortas após a explosão de quatro bombas em áreas xiitas de Bagdade.

14 de agosto  - Quatro camiões bomba explodem no norte do Iraque, em Qahataniya matando mais de 500 pessoas, membros da minoria Yazidi.

3 de setembro  - Visita surpresa de Bush, que sugere uma possível retirada de soldados. Grã-Bretanha retira as suas tropas de Basra. 

10 de setembro  - O comandante dos EUA no Iraque, general David Petraeus, recomenda reduzir o contingente em mais de 20 mil soldados até meados de 2008.

16 de setembro  - Funcionários da Blackwater, empresa de mercenários com sede em Moyock, na Carolina do Norte, contratada pelos EUA, matam 17 civis numa praça de Bagdade durante missão de proteção de um comboio diplomático.

14 de outubro - Mais de 400 mortos em atentados na província de Ninive (norte) contra a minoria religiosa curda dos Yézidis.

novembro - Durão Barroso afirma: “Houve informações que me foram dadas, a mim e a outros, que não corresponderam à verdade. Tive documentos na minha frente dizendo que o Iraque tinha armas de destruição maciça. Isso não correspondeu à verdade”.

 

2008

2 de março - Visita do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, a Bagdade.

março - Confrontos em Basra entre o Exército e a milícia do líder xiita Moqtada al-Sadr deixam mais de 300 mortos

22 de julho – Contingente militar é reduzido para 147 mil soldados, segundo informa o exército norte americano.

17 de novembro - Iraque e EUA assinam acordo que prevê a desocupação militar até o final de 2011. Este acordo dá ao governo local autoridade sobre as tropas dos EUA, substituindo um mandato do Conselho de Segurança da ONU.

 

2009

1 de janeiro  - Pacto de segurança EUA-Iraque entra em vigor, colocando 140 mil soldados dos EUA sob a autoridade iraquiana. Iraque assume a segurança da Zona Verde de Bagdade.

20 de janeiro de 2009 - Barack Obama toma posse como presidente dos EUA.

21 de janeiro  - O então ministro da Defesa português, Nuno Severiano Teixeira, anuncia o fim da participação portuguesa no Iraque devido “à alteração das condições de segurança” e à ausência de um acordo com o “governo iraquiano sobre o estatuto dos militares” no país.

27 de fevereiro  - Barack Obama, estipula para agosto de 2010 o fim das missões de combate no Iraque, estabelecendo que permanecerão no país cerca de 50 mil militares para tarefas de formação e apoio aos soldados iraquianos até a retirada total, no final de 2011.

30 de junho  - Todas as unidades de combate dos EUA retiram-se dos centros urbanos e estabelecem-se em quartéis mais isolados.

Entre agosto e dezembro  - Atentados em Bagdade contra prédios do governo causam 386 mortos.

11 de novembro  – O New York Times noticia que executivos da empresa americana de mercenários Blackwater aprovaram pagamentos secretos de cerca de 1 milhão de dólares para "silenciar o espírito crítico" de funcionários iraquianos, na sequência do massacre da Praça Nissour (ver 16 de setembro de 2007).

24 de novembro  - Governo britânico abre um inquérito sobre o papel das tropas britânicas na guerra do Iraque e o ex primeiro ministro Tony Blair é convocado a depor.

 

2010

7 de março - Eleições parlamentares no Iraque. O Bloco Iraqiya, laico, apoiado pelos sunitas e dirigido por Iyad Allawi (xiita) vence as eleições legislativas. Maliki não reconhece a sua derrota.

4 de junho - Exército dos EUA afirma que só se encontram 88 mil soldados no Iraque.

2 agosto - Obama confirma o fim da missão de combate em 31 de agosto.

18 agosto - Última brigada de combate dos EUA retira-se do Iraque.

31 de agosto - O presidente dos EUA, Barack Obama, declara o fim da missão americana no Iraque. Com o fim oficial das operações de combate, o contingente dos EUA cai para 49,7 mil. Acaba a "Operação Liberdade", que começou em 2003.

1 setembro -  Início da "Operação Novo Amanhecer", na qual os soldados americanos que permanecerão no Iraque cumprirão missões de assessoria.

22 de outubro - Site WikiLeaks divulga quase 400 mil documentos militares americanos sobre a Guerra do Iraque com relatos de tortura, morte de insurgentes em rendição, entre outros.

21 de dezembro - Criação de um governo de união que inclui todas as tendências.

2011

19 de abril - Segundo o The Independent, o governo de Tony Blair tinha planos para explorar as reservas de petróleo iraquianas cinco meses antes de se aliar aos Estados Unidos para a invasão daquele país. Documentos citados pelo jornal londrino provam que existiram pelo menos cinco reuniões entre funcionários do governo britânico e responsáveis das petrolíferas BPe Royal Dutch Shell em finais de 2002 e que a ministra do Comércio, baronesa Symons, prometeu defender os interesses da BP e Royal Dutch Shell e BG (British Gas) junto do governo dos EUA.

22 de maio - Fim da presença militar britânica.

outubro - Barack Obama anuncia que o governo norte-americano vai retirar todas as tropas do Iraque até o final do ano. Segundo o"The Washington Post", a decisão surgiu após o fracasso da tentativa americana de chegar a um acordo com as autoridades iraquianas para deixar milhares de soldados no país para operações especiais e treino.

18 de dezembro - Os Estados Unidos retiram últimos soldados do Iraque.

19 de dezembro - Mandado de prisão por complô contra o vice-presidente sunita Tarek al-Hachemi (refugiado na Turquia). O Iraqiya boicota o Parlamento (até 31 de janeiro) e, depois, o governo (até 7 de fevereiro).

 

2012

20 de março - Crise com o Curdistão que apelida Maliki de ditador.

8-9 de setembro - Uma série de atentados deixa mais de 100 mortos no país. setembro é o mês mais violento em dois anos.

9 de setembro - Hachemi é condenado à morte à revelia por ter encomendado assassinatos.

setembro - O arcebispo sul-africano e prémio Nobel da Paz, Desmond Tutu, afirmou ao jornal britânico Observer que o ex-presidente americano George W. Bush e o ex primeiro ministro britânico Tony Blair deveriam ser julgados na Corte Internacional de Haia pela guerra no Iraque, que se baseou, segundo o religioso, "numa mentira".

novembro - Ex-ministro dos Negócios Estrangeiros António Martins da Cruz afirma: "Portugal tem sempre que manter junto dos Estados Unidos a percepção de que há dois interlocutores na Península Ibérica e que Madrid não é o único interlocutor. Aliás, para mim, a principal razão do envolvimento de Portugal junto dos Estados Unidos na guerra no Iraque foi porque a Espanha e o governo Aznar tinham mudado completamente a sua política em relação aos Estados Unidos e tinham-se aproximado e muito de Washington e Portugal não pode permitir que para Washington haja só um interlocutor".

21 de dezembro - Prisão dos guarda-costas do ministro sunita das Finanças provoca uma onda de manifestações de sunitas, que se dizem marginalizados e exigem a saída de Maliki.

 

2013

28 de fevereiro - Bagdade anuncia a libertação de 4.000 prisioneiros desde o início do ano, uma das reivindicações dos manifestantes que protestam há mais de dois meses contra o governo dominado pelos xiitas.

1 de março - John Prescott, ex vice-primeiro-ministro de Blair, afirma que a guerra no Iraque “não pode ser justificada”.

14 de março – É divulgado o relatório do Projeto Custos da Guerra do Instituto Watson para Estudos Internacionais da Universidade Brown, que adianta que guerra já matou pelo menos 134 mil civis iraquianos e pode ter contribuído para as mortes de até quatro vezes esse número.

19 de março – Dia mais sangrento dos últimos seis meses no Iraque. Mais de uma dezena de carros-bomba e homens-bomba explodiram em bairros xiitas na capital do Iraque, Bagdade, e em outras regiões do país, matando quase 60 pessoas na véspera do 10º aniversário da invasão liderada pelos Estados Unidos. O Governo decidiu adiar as eleições regionais por um máximo de seis meses por causa da situação de segurança.

20 de abril – Realizam-se eleições em 12 das 18 províncias do Iraque. A coligação O Estado da Lei, do primeiro-ministro Nouri al-Maliki, vence, conquistando no total cerca de 115 lugares, seguida do Conselho Supremo Islâmico do Iraque, dirigido pelo jovem clérigo Ammar al-Hakim, que obteve perto de 80, e pelo movimento Sadrista, com 50. A vitória de Maliki, porém, não foi suficiente para formal governos provinciais sem a necessidade de fazer coligações, algo que era o seu objetivo primeiro.

23 de abril – O Exército iraquiano reprime um protesto sunita em Hawija, perto de Kirkuk, matando cerca de 50 pessoas e provocando protestos e confrontos noutras cidades. Dois dias depois, milicianos sunitas ocupam uma esquadra de polícia em Mossul e tomam reféns, em ação de protesto contra o massacre de Hawija. O Exército e a polícia assaltaram o local, e no final o confronto saldou-se com mais de 50 mortes.

22 de julho – Pelo menos 500 prisioneiros, a maioria dos quais militantes da al-Qaeda, fogem das prisões de Abu Ghraib e de Taji.

21 de setembro – Eleições nas províncias do Curdistão, ganhas pelo Partido Democrático do Curdistão.

Outubro – O governo anuncia que o mês foi o mais mortífero desde abril de 2008, com mais de 900 mortos provocados na sua maioria por atentados com carros-bomba, refletindo o conflito sectário que se instalou no país.

Dezembro – Segundo as Nações Unidas, 2013 foi o mais sangrento dos últimos cinco anos, com cerca de 9000 mortos, entre civis e forças de segurança. Esta cifra macabra só foi superada pelas 10 mil mortes de 2008, o ano mais mortífero da guerra do Iraque.

2014

Janeiro – Forças do Estado Islâmico do Iraque e do Levante tomam as cidades de Fallujah e Ramadi depois de meses de violência crescente na província maioritariamente sunita de Anbar. O Exército iraquiano recaptura Ramadi mas não consegue fazer o mesmo em Fallujah.

Fevereiro – O religioso xiita Moqtada al-Sadr anuncia a sua saída da política e a dissolução do seu partido.

30 de abril – A coligação do primeiro-ministro Al-Maliki vence as primeiras eleições no país desde a retirada das tropas norte-americanas, mas não consegue maioria absoluta.

5 de junho – Começa a ofensiva do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS, da sigla em inglês), que mais tarde mudou o nome para Estado Islâmico, contra o governo iraquiano, no Norte do país. A ofensiva começou com um ataque a Samarra, a que se seguiu a conquista de Mossul (a segunda cidade do Iraque) em 10 de junho, e de Tikrit no dia seguinte. O Exército iraquiano debandou logo no dia 13, quatro divisões “derreteram”, com os soldados despindo os uniformes e fugindo em roupas civis. Forças curdas assumiram o controlo do pólo petrolífero de Kirkuk.

Note-se que as tropas do EI eram comandadas por um ex-coronel do Exército iraquiano dos tempos de Saddam Hussein.

No final do mês, o EI já controlava também a fronteira com a Jordânia e a Síria.

10 de junho – Nouri al-Maliki declara o Estado de Emergência.

29 de junho – O EI proclama um Califado, que inclui a Síria e o Iraque, tendo como califa Abu Bakr al-Baghdadi.

5 de agosto – Diante da ofensiva do Estado Islâmico da região curda, os EUA enviam armas aos Peshmerga, as forças militares do governo autónomo do Partido Democrático do Curdistão.

7 de agosto – Os EUA lançam ajuda humanitária de medicamentos, comida e água aos civis cristãos yazidis que fugiram das forças do EI, refugiando-se nas montanhas Sinjar. Estes contam com o apoio terrestre de forças do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

8 de agosto – Os EUA começam a atacar por ar as tropas do EI.

19 de agosto – O EI divulga um filme em que exibe o assassinato por decapitação do refém americano James Foley. A esse primeiro assassinato vão-se seguir os de Steven Sotloff, a 2 de setembro, David Haines, a 13 de setembro, Hervé Gourdel, a 24 de setembro, Alan Henning, a 3 de outubro, Peter Kassig, a 16 novembro, Haruna Yukawa em janeiro de 2015, Kenji Goto a 30 de janeiro de 2015.

14 de agosto – Pressionado pelos Estados Unidos e pelo próprio partido, Al-Maliki renuncia à chefia do governo.

8 de setembro – O Parlamento iraquiano elege o xiita Haider al-Abadi para o cargo de primeiro-ministro.

Dezembro – O governo iraquiano e o da região autónoma curda assinam um acordo de partilha dos recursos do petróleo e das forças militares, numa tentativa de unir os esforços contra o Estado Islâmico.

2015

O sítio arqueológico de Nimrud. Foto de Staff Sgt. JoAnn Makinano [Public domain], via Wikimedia Commons

Janeiro – A chamada coligação contra o Estado Islâmico, liderada pelos EUA, realiza mais de 900 ataques aéreos contra as tropas do grupo.

Março – O Estado Islâmico destrói os sítios arqueológicos assírios de Nimrud e Hatra. Tropas que agrupam milícias xiitas, o Exército iraquiano, com o apoio e comando de generais iranianos lança uma ofensiva para reconquistar Tikrit.  

(...)

Neste dossier:

O Iraque 12 anos depois da invasão

Foi há 12 anos que as tropas comandadas pelos EUA e o Reino Unido invadiram o Iraque, numa ação militar que parecia um passeio e se tornou no pior dos pesadelos. Um inferno desde logo para o massacrado povo iraquiano, mas também para Washington, que acumula desastres e hoje, 3 anos depois da saída das suas tropas, assiste impotente às vitórias do Estado Islâmico e ao crescimento da influência do Irão. Esse é o tema deste dossier, coordenado por Luis Leiria.

Tanques dos EUA entram em Bagdade. Parecia um passeio. Só parecia. Foto de: Technical Sergeant John L. Houghton, Jr., United States Air Force - http://arcweb.archives.gov/

Invasão do Iraque: crime de guerra

Há doze anos uma coligação dos EUA e seus lacaios europeus invadiram o Iraque. “Crime de Guerra” foi, na altura, uma tentativa a quente de caracterização do ato sem precedentes (Afeganistão incluído) de violação ostensiva e consentida das regras de relacionamento internacional inscritas na Carta da ONU. Por Mário Tomé

A mentira inicialmente repetida como um refrão; a euforia das semanas da invasão, com os bombardeamentos e o avanço dos tanques pintados como uma “libertação”.

(Ex)citações de apoio à guerra

O mais empenhado propagandista da invasão do Iraque foi José Manuel Fernandes, hoje mentor do diário de direita Observador. Há doze anos, não esteve sozinho. Lembremos quem fez da palavra a apologia de um crime.

Cronologia: da invasão ao Estado Islâmico

Entre janeiro de 2002 e março de 2015, 13 anos de cronologia. Da invasão e derrube de Saddam Hussein à explosão da guerra civil; do proconsul Paul Bremmer ao governos de Al-Maliki; da saída das tropas dos EUA à conquista de amplo território pelo Estado Islâmico.  

Execuções em massa divulgadas em vídeo para provocar pavor

Estado Islâmico: Gestores de selvajaria

A brutalidade sectária do Estado Islâmico (EI) permitiu ao presidente sírio, Bashar al-Assad, fazer-se passar dissimuladamente por vítima: o incendiário que aparece como um bombeiro. Artigo de Muhammad Idrees Ahmad, publicado no In These Times.

Abu Baqr al-Baghdadi declarou o califado em 29 de junho do ano passado.

O dinheiro do petróleo do Golfo está a sustentar o Estado Islâmico

Doadores privados de Estados do Golfo ajudam a suportar salários de até 100.000 combatentes do EI. Por Patrick Cockburn.

O general iraniano Qassim Suleimani passou mais tempo no Iraque que no Irão desde o verão do ano passado. Foto Isna

Washington assiste impotente à intervenção do Irão no Iraque

Diante do desmoronamento do Exército iraquiano, foram as milícias xiitas, organizadas, armadas e dirigidas por oficiais iranianos, que detiveram o avanço do Estado Islâmico em direção a Bagdade. Por Luis Leiria

Militantes do EI destróem a marreta estátuas com 3.000 anos, num vídeo divulgado pela própria organização.

O Estado Islâmico e a tentação do zero

Aquele que mata um homem – ou mil – é um assassino; o que destrói a memória da humanidade é pura Natureza: opera como esses cataclismos que, segundo Platão, destruíam a cada 10.000 anos a civilização, obrigando um punhado de “homens toscos e ásperos” a começar de novo. Por Santiago Alba Rico, Quarto Poder