Está aqui
Varoufakis abre o livro: “Você até tem razão, mas vamos esmagar-vos à mesma”
“Desde o início, esses países [os mais endividados] deixaram bem claro que eram os mais enérgicos inimigos do nosso governo(…). E claro que a razão era que o seu maior pesadelo era o nosso sucesso: se conseguíssemos um acordo melhor para a Grécia, isso iria obliterá-los politicamente, teriam de responder aos seus povos porque não tinham negociado como nós fizemos”, responde Varoufakis na entrevista à New Statesman.
O ambiente no Eurogrupo é um dos temas mais tratados na entrevista e é definido assim pelo antigo ministro das Finanças grego: “Aquilo é como uma orquestra bem afinada e Schäuble é o maestro. Tudo segue a sua pauta”. Para Varoufakis, apenas o ministro francês sai do tom, mas de forma “muito subtil”, parecendo que não se está a opor ao homólogo alemão. Mas no fim, quando o Dr. Schäuble responde a definir a linha oficial, o ministro das Finanças francês acaba sempre por aceitar”, explica.
Varoufakis explica também o episódio da sua “expulsão” da reunião do Eurogrupo em junho. Quando chamou a atenção de Dijsselbloem que as declarações do Eurogrupo têm de ser aprovadas por unanimidade e que ele não pode convocar uma reunião excluindo um dos membros, “ele disse: Tenho a certeza de que posso. Então pedi um parecer legal. Isso criou alguma confusão. A reunião parou cinco ou dez minutos, os funcionários falavam uns com os outros ao telefone e acabou por chegar um responsável dos assuntos legais ao pé de mim a dizer-me isto: Bom, o Eurogrupo não tem existência legal, não há nenhum tratado que tenha previsto este grupo”.
“Eurogrupo toma decisões quase de vida ou morte e nenhum membro tem de prestar contas a ninguém”
“Afinal o que temos é um grupo inexistente que tem o maior poder para determinar as vidas dos europeus. Não presta contas a ninguém, dado que não existe na lei; não há minutas das reuniões; e é confidencial. Por isso nenhum cidadão sabe o que lá é dito… São decisões quase de vida ou morte e nenhum membro tem de prestar contas a ninguém”, prossegue Varoufakis.
Quando falava nas reuniões, com argumentos económicos preparados, “as pessoas ficavam a olhar para mim, como se não tivesse falado (…) Bem podia estar ali a cantar o hino da Suécia que ia receber a mesma resposta (…) Nem sequer havia mal-estar, era como se ninguém tivesse dito nada”, revela Varoufakis.
O que mais impressionou Varoufakis nas reuniões a que assistiu foi a “completa ausência de qualquer escrúpulo democrático por parte dos supostos defensores da democracia”. O ex-ministro dá um exemplo: “Ter várias figuras muito poderosas a olharem-me nos olhos e dizerem ‘Você até tem razão no que está a dizer, mas vamos esmagar-vos à mesma’”.
Proposta de emitir moeda paralela, tomar posse do banco central e cortar dívida ao BCE foi a derrota que o levou a sair do governo
Varoufakis fala também pela primeira vez da derrota política que o levou a sair do governo. Segundo a versão do ex-ministro, propôs ao governo um plano com três ações caso o BCE obrigasse ao encerramento dos bancos: a emissão (ou o anúncio) de uma moeda paralela (uma promessa de dívida conhecida como IOU), o corte na dívida detida pelo BCE desde 2012 e tomar o controlo do Banco da Grécia. “Perdi por seis contra dois”, diz Varoufakis, que voltou a insistir no plano na noite da vitória do OXI.
Mas o governo tinha outros planos, segundo Varoufakis, que levaria a “mais concessões ao outro lado: a reunião dos líderes partidários, com o nosso primeiro-ministro a aceitar a premissa de que o que quer que aconteça, o que quer que o outro lado faça, nunca vamos responder de forma desafiante. E basicamente isso significa desistir… deixa-se de negociar”.
Artigo publicado em InfoGrécia.
Comentários
Só mostra o quão preparado
Só mostra o quão preparado politicamente este senhor estava. Só quem tem unhas é que toca guitarra e a verdade é que não temos, nem eles nem nós. E a política do "contra tudo e todos" nem em Cuba deu resultado. Aliás, lá até deu, mas foi para alguns lá irem passar férias. Eu infelizmente nunca tive dinheiro para tal... Este senhor está revoltado porque afinal a teoria é boa nos livros, mas o que vale é a prática e ai Tsipras parece comecar a dar cartas, porque pouco a pouco...
Não faltam carneirinhos..
Não faltam carneirinhos...infelizmente
deixe lá, sabe que em Cuba
deixe lá, sabe que em Cuba viviam tão bem que tão pouco conseguiam sair de lá para visitar o que quer que fosse, mas não era só em Cuba, era na Polónia, na Roménia, na Bulgária Na DDR, na Ucrania...enfim em todos os países satelites de um socialismo de que todos diziamos maravilhas e sobre o qual fabulávamos (pobres tontos) :) mas os cidadãos que lá viviam passavam horas na fila para comprar pão ou algum outro bem, onde tudo se comprava no mercado negro ( e mesmo assim só os que fossem amigos do partido) e onde ninguém podia sequer dizer algo que fosse sobre os governos porque desapareceria sem registo. Oh Yeah ;)
deixe lá, sabe que...
Ali naquela zona havia duas alternativas ser Cuba ou ser Haiti. É para ficar a pensar.
Este Varoufas é um tretas;
Este Varoufas é um tretas; pensou que por escrever umas teorias dos jogos chegava aqui e papava tudo. Sobranceiria não lhe faltava. Mas quando percebeu que afinal os outros líderes europeus tinham mais pedalada que ele ficou à nora, ou seja, a fuga em frente foi a única saída. Ele fala tanto mal do ministro alemão das finanças mas afinal parece que ambos estavam de acordo (um e outro queriam a saída da Grécia do euro). Mas isto é o que o Varoufas conta agora depois de sair, sem ter que prestar contas a ninguém e a viver do estrelato efémero que conseguiu. Mas a luzinha dele está a apagar-se e não é com muitos posts nas redes sociais que vai conseguir "explicar-se" pelas asneiras graves que cometeu!
A Verdade da Mentira
Adorei esta noticia, fez-me lembrar a publicidade enganosa que coloria os doces anos 70 e 80, quando ainda acreditávamos que na esquerda estava a solução, infelizmente caiu o muro de Berlim e com ele caiu o pano e apareceu a verdade do que é , foi e sempre será o socialismo.
No papel o Socialismo é o uma verdadeira utopia, a verdade é que quando aplicado só sai asneira, e os exemplos multiplicam-se , mesmo sem olhar ao passado temos o exemplo da Venezuela, a Grecia nao chegou a esse ponto ainda porque continua sendo amparada pelos seus pares Europeus.
Adorei este comentário, fez
Adorei este comentário, fez-me lembrar a publicidade enganosa que coloria os amargos anos 90 e 2000, quando ainda acreditávamos que na Europa do capital estava a solução, infelizmente caiu a miragem do "pelotão da frente" e com ela caiu o pano e apareceu a verdade do que é, foi e sempre será o capitalismo europeu: a austeridade permanente em nome do Quarto Reich.
Adicionar novo comentário