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Varoufakis abre o livro: “Você até tem razão, mas vamos esmagar-vos à mesma”

Na primeira entrevista após deixar o Ministério das Finanças, Varoufakis revela que defendeu a emissão de moeda alternativa como resposta à asfixia dos bancos, fala da “completa falta de escrúpulos democráticos por parte dos supostos defensores da democracia na Europa” e acusa os governos de Portugal e Espanha se serem “os mais enérgicos inimigos do nosso governo”. #ThisIsACoup
Varoufakis sobre o Eurogrupo: “Aquilo é como uma orquestra bem afinada e Schäuble é o maestro. Tudo segue a sua pauta”

“Desde o início, esses países [os mais endividados] deixaram bem claro que eram os mais enérgicos inimigos do nosso governo(…). E claro que a razão era que o seu maior pesadelo era o nosso sucesso: se conseguíssemos um acordo melhor para a Grécia, isso iria obliterá-los politicamente, teriam de responder aos seus povos porque não tinham negociado como nós fizemos”, responde Varoufakis na entrevista à New Statesman.

O ambiente no Eurogrupo é um dos temas mais tratados na entrevista e é definido assim pelo antigo ministro das Finanças grego: “Aquilo é como uma orquestra bem afinada e Schäuble é o maestro. Tudo segue a sua pauta”. Para Varoufakis, apenas o ministro francês sai do tom, mas de forma “muito subtil”, parecendo que não se está a opor ao homólogo alemão. Mas no fim, quando o Dr. Schäuble responde a definir a linha oficial, o ministro das Finanças francês acaba sempre por aceitar”, explica.

Varoufakis explica também o episódio da sua “expulsão” da reunião do Eurogrupo em junho. Quando chamou a atenção de Dijsselbloem que as declarações do Eurogrupo têm de ser aprovadas por unanimidade e que ele não pode convocar uma reunião excluindo um dos membros, “ele disse: Tenho a certeza de que posso. Então pedi um parecer legal. Isso criou alguma confusão. A reunião parou cinco ou dez minutos, os funcionários falavam uns com os outros ao telefone e acabou por chegar um responsável dos assuntos legais ao pé de mim a dizer-me isto: Bom, o Eurogrupo não tem existência legal, não há nenhum tratado que tenha previsto este grupo”.

Eurogrupo toma decisões quase de vida ou morte e nenhum membro tem de prestar contas a ninguém”

“Afinal o que temos é um grupo inexistente que tem o maior poder para determinar as vidas dos europeus. Não presta contas a ninguém, dado que não existe na lei; não há minutas das reuniões; e é confidencial. Por isso nenhum cidadão sabe o que lá é dito… São decisões quase de vida ou morte e nenhum membro tem de prestar contas a ninguém”, prossegue Varoufakis.

Quando falava nas reuniões, com argumentos económicos preparados, “as pessoas ficavam a olhar para mim, como se não tivesse falado (…) Bem podia estar ali a cantar o hino da Suécia que ia receber a mesma resposta (…) Nem sequer havia mal-estar, era como se ninguém tivesse dito nada”, revela Varoufakis.

O que mais impressionou Varoufakis nas reuniões a que assistiu foi a “completa ausência de qualquer escrúpulo democrático por parte dos supostos defensores da democracia”. O ex-ministro dá um exemplo: “Ter várias figuras muito poderosas a olharem-me nos olhos e dizerem ‘Você até tem razão no que está a dizer, mas vamos esmagar-vos à mesma’”.

Proposta de emitir moeda paralela, tomar posse do banco central e cortar dívida ao BCE foi a derrota que o levou a sair do governo

Varoufakis fala também pela primeira vez da derrota política que o levou a sair do governo. Segundo a versão do ex-ministro, propôs ao governo um plano com três ações caso o BCE obrigasse ao encerramento dos bancos: a emissão (ou o anúncio) de uma moeda paralela (uma promessa de dívida conhecida como IOU), o corte na dívida detida pelo BCE desde 2012 e tomar o controlo do Banco da Grécia. “Perdi por seis contra dois”, diz Varoufakis, que voltou a insistir no plano na noite da vitória do OXI.

Mas o governo tinha outros planos, segundo Varoufakis, que levaria a “mais concessões ao outro lado: a reunião dos líderes partidários, com o nosso primeiro-ministro a aceitar a premissa de que o que quer que aconteça, o que quer que o outro lado faça, nunca vamos responder de forma desafiante. E basicamente isso significa desistir… deixa-se de negociar”.

Artigo publicado em InfoGrécia.

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