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Ucrânia à espera de novo Governo

Com o presidente deposto em parte incerta, a recém-libertada Iulia Timochenko discursou na praça da Independência. Os deputados da oposição escolheram o seu braço direito para chefe de Estado até às eleições de 25 de maio e Angela Merkel já lhe deu os parabéns pelo regresso à política.
Com o desaparecimento da polícia, milhares de pessoas aproveitaram o sábado para visitarem uma das propriedades pessoais do presidente, entretanto "nacionalizada" pelos deputados da oposição. Foto aaawmc/Flickr

Os acontecimentos precipitaram-se durante o dia de sábado. A polícia que dias antes enfrentara em Kiev os manifestantes concentrados na Praça da Independência simplesmente desapareceu das ruas, que ficaram entregues aos comités de auto-defesa popular, onde a presença da extrema-direita é significativa. O presidente Viktor Yanukovich também ficou com paradeiro desconhecido, aparecendo apenas num vídeo gravado com palavras duras contra o “golpe de estado” em curso no país, a fazer lembrar “a tomada do poder pelos nazis alemães nos anos 30”. Os deputados aprovaram a sua destituição - apesar de terem ficado longe dos dois terços necessários por lei, devido à demissão dos eleitos pelo Partido das Regiões que não abandonaram o presidente - e agendaram eleições presidenciais para o dia 25 de maio.

Entretanto, a ex-primeira-ministra Iulia Timochenko, derrotada por Yanukovich nas presidenciais de 2010, foi libertada da clínica onde cumpria pena de prisão por abuso de poder durante o seu mandato à frente do governo ucraniano. Logo em seguida dirigiu-se com a comitiva do seu partido Batkivshchina para a Praça da Independência, onde  discursou em direto para todo o mundo, colocando-se na primeira linha dos presidenciáveis na próxima eleição. A Reuters diz que a chanceler alemã Angela Merkel falou com Iulia para lhe dar os parabéns pela libertação e “expressar a certeza de que o seu regresso à política será um dos principais fatores de estabilidade para o país”. No seu discurso, Iulia Timochenko também apelou à população para continuar os protestos na Praça, mas apenas algumas centenas de pessoas seguiram o seu conselho após os festejos de vitória. Na manhã de domingo foram transportadas tendas gigantes para a baixa de Kiev, com o perímetro do acampamento a espalhar-se para além da Praça.

Este domingo, o parlamento nomeou o braço direito de Iulia Timochenko, Oleksander Tuchinov, para presidente interino do país. Outras propostas que os deputados irão em breve debater são a proibição quer do Partido das Regiões quer dos seus aliados do Partido Comunista, que viu a sua sede em Kiev totalmente destruída, bem como um blackout à imprensa russa, acusada de distorcer a imagem dos protestos. Para além da destituição de governantes próximos de Yanukovich, a decisão mais aguardada é a da composição de um novo governo na próxima semana.

Rússia acusa oposição de não cumprir acordo

O ministro dos Negócios Estrangeiros russo Sergei Lavrov responsabilizou a oposição ucraniana de não ter respeitado o acordo a que chegou na véspera com o presidente agora deposto, sob os auspícios da troika europeia composta pela França, Alemanha e Polónia. “Não só a oposição fracassou em cumprir qualquer das condições do acordo, como procurou impor novas condições, influenciada por extremistas armados e bandidos cujas ações ameaçam diretamente a soberania e a ordem constitucional da Ucrânia”, afirmou Lavrov, citado pelo portal da Voz da Rússia.

As negociações irão prosseguir nos próximos dias, com a Rússia e o FMI de acordo quanto aos pacotes de financiamento ao país, que irão permanecer congelados até que haja uma definição sobre o governo da Ucrânia. “Eles têm muitas ferramentas prontas a usar para este tipo de acontecimentos e essa experiência será muito útil ao tratar o caso da Ucrânia”, disse o ministro das Finanças de Moscovo, Anton Siluanov, referindo-se ao FMI.

A situação política no país deverá agravar-se nos próximos dias, com a mobilização da população do leste, que não reconhece a autoridade do poder saído das ruas de Kiev. Este domingo circularam imagens de manifestações com milhares de pessoas a inscrever-se em milícias para defender a Crimeia em caso de ataque vindo da capital. A aprovação pelo parlamento do ucraniano com única língua oficial do país veio aumentar ainda mais a revolta nas regiões onde a maioria dos habitantes fala russo.

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