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A política no posto de comando no Festival Subversivo de Cinema em Zagreb

Termina sábado o Festival e o Forum, com um grande debate com Aleida Guevara sobre a “experiência da América Latina”, onde começaram as maiores contestações das últimas décadas contra os programas de ajustamento estrutural. Mas ontem foi dia de política: Eric Toussaint apresentou o seu livro recente sobre a dívida, Chantal Mouffe conduziu um debate sobre as diversas interpretações estratégicas acerca dos movimentos de rua, e Slavoj Zizek falou sobre “o amor como categoria política”.
6º Festival Subversivo de Cinema em Zagreb. Foto Francisco Louçã

Além destes momentos de plenário, o Festival inclui seminários sobre diversos temas. De manhã foi a experiência dos movimentos sociais de Portugal e da Grécia, ou ainda a preparação da AlterSummit, que reúne dentro de poucas semanas em Atenas para preparar novas formas de resposta à austeridade europeia. Ou ainda a experiência do referendo na Croácia sobre a adesão à União Europeia e as razões dos sectores de esquerda que defenderam a rejeição da adesão. 

Nos debates em plenário, Chantal Mouffe criticou a estratégia de deserção ou de êxodo, que Toni Negri e outros têm defendido, e reivindicou uma estratégia política de confrontação e de representação, de modo a combater as escolhas neoliberais na Europa. O “centro radical” de Blair foi descrito como um processo de destruição de identidades e de perspectivas políticas, abrindo caminho para a reinvenção liberal da Europa. Mouffe criticou ainda o conceito de “somos 99% e eles são 1%”, porque significa uma criação de identidade na base de um proclamado consenso, de um unanimismo (“somos 99%”) que não é verdadeiro: uma estratégia política explora o espaço de diferenciações e alianças, porque sabe que não existe consenso mas conflito.

Zizek, ao falar do amor como categoria simbólica nas religiões, nas culturas mas também nos Estados, lembrou um poema de duas linhas escrito por Kim Jong Il: “Assim como as flores se viram para o sol para se desenvolverem/ Também o povo norte-coreano fixa os olhos no seu líder para se desenvolver” – um exemplo auto-proclamado de amor absoluto, como legitimação do poder. A política no posto de comando. Mas que há outras formas de amor, lá isso há.

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Sobre o/a autor(a)

Professor universitário. Ativista do Bloco de Esquerda.
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