Endividamento por questões de saúde aumenta

19 de fevereiro 2024 - 21:16

Dados do Banco de Portugal e do INE vão mesmo sentido. Os médicos de saúde pública dizem que é um indicador dos problemas do SNS e querem que “um investimento cabal” nos cuidados primários seja prioridade para o próximo Governo.

PARTILHAR
Saúde. Foto de Paulete Matos.
Saúde. Foto de Paulete Matos.

Dados do Banco de Portugal revelados a semana passada mostram que as famílias portuguesas têm recorrido cada vez mais a empréstimos para pagar despesas de saúde, educação e energias renováveis.

A notícia é dada pelo Diário de Notícias esta segunda-feira e contabiliza que, em 2023, tenham sido contraídos créditos pessoais na ordem dos 140,9 milhões de euros nestas áreas. Isto quer dizer que houve um aumento de 332% relativamente ao crédito contratualizado para os mesmos efeitos em 2005 (32,6 milhões).

Estes números não especificam o crescimento em cada uma das categorias. Mas o jornal falou com Duarte Pereira Gomes, secretário-geral da Associação de Instituições de Crédito Especializado, cujos 28 associados fizeram empréstimos de 125 milhões de euros, ou seja 89% do total. E este explicou que, para o aumento, contribuem “sobretudo” a parte da saúde e das energias renováveis uma vez que os empréstimos para a educação se terão mantido estáveis ao longo deste período.

Em apoio a esta ideia, apresentam-se ainda números do Pordata que provam que, só no período entre 2015 e 2021, a despesa das famílias com bens e serviços de saúde subiu cerca de 37%, atingindo 8,4 mil milhões de euros no último destes anos, isto é o equivalente a 3,9% do PIB de então.

Sobre isto, a Rádio Renascença entrevistou Gustavo Tatto Borges, presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, que defende que este aumento do endividamento é um indicador dos problemas do Serviço Nacional de Saúde.

O SNS “não está a chegar onde devia”, o que considera não ser algo “novo”, declara, explicando que as despesas ocorrerão em “compras de medicamentos com recurso ao privado, com pagamento do próprio bolso, questões de medicina dentária e até alguns internamentos e cuidados paliativos”.

O especialista alerta que há perigo da população com menores rendimentos “ficar bloqueada” e sem acesso a cuidados de saúde. Daí considerar ser necessário que o próximo Governo “olhe para estes dados e coloque a saúde e a prevenção da doença em cima da mesa, de uma forma categórica, com um investimento cabal nos cuidados primários, com investimento cabal na saúde pública”.

Por sua vez, Pedro Pita Barros, especialista em Economia da Saúde consultado pelo DN, acrescenta que uma quantia importante destes empréstimos é destinada a pagar prestadores privados de saúde sem existir cobertura de seguro para as despesas. Para ele, estas dividem-se em cuidados em ambulatório, que inclui consultas e exames (38%), comparticipação em medicamentos prescritos (24%) e recurso a hospitais (15%).

Também contacto neste âmbito, o especialista em assuntos financeiros da Deco Proteste, Nuno Rico, acrescenta que o crescimento do endividamento se relaciona ainda com o aumento do custo de vida. Despesas de saúde inesperadas terão deixado de poder ser cobertas com o orçamento familiar corrente. Também para ele, o “maior recurso a tratamentos fora do SNS” é “fruto dos problemas que têm vindo a ocorrer neste serviço público”.