“Governo e PSD preparam OE de guerra social”

21 de setembro 2010 - 15:33

Francisco Louçã reuniu esta manhã com Carvalho da Silva, secretário-geral da CGTP, na véspera da interpelação do Bloco ao Governo sobre os cortes nos apoios sociais. “O Governo está a preparar, com o PSD, um OE de guerra social contra os portugueses”, disse Louçã no final da reunião.

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Para Carvalho da Silva, “há uma campanha de pressão sobre estas pessoas, no sentido de que elas têm de fazer ainda mais sacrifícios quando estão no limite”. Foto Ana Feijão

Em declarações aos jornalistas no final de uma reunião com o secretário-geral da CGTP, na sede do Bloco, que também contou com a presença da deputada Mariana Aiveca, Francisco Louçã considerou que existe “perseguição aos mais pobres, aos desempregados” e vincou que as opções para o próximo Orçamento do Estado vão marcar a interpelação ao Governo que os bloquistas têm agendada para esta quarta-feira.

“Esta violência contra a parte mais desprotegida da sociedade é uma forma de mostrar por onde vai o caminho deste Orçamento”, considerou, criticando o acordo entre o PS e o PSD para o Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) e antevendo um Orçamento com medidas de austeridade reforçadas.

“Estamos a viver, com este Orçamento que o PS e o PSD estão a preparar em conjunto, uma guerra social contra os portugueses, há centenas de milhares de pessoas que estão a passar os seus dias nas filas dos centros de emprego para poderem ter ‘password’ para um computador que não têm e para uma Internet que não conhecem, para poderem justificar o pequeníssimo abono de família, o apoio para a compra dos livros dos seus filhos, o subsídio social de desemprego ou os apoios que têm”, criticou.

Francisco Louçã reconheceu que Portugal tem um problema de conseguir receita, defendendo que este pode ser contrariado com combate à “evasão fiscal gigantesca” que diz existir. “Se pagassem impostos, os capitais e valores que fogem todos os anos aos impostos, não teríamos défice orçamental”, assinalou.

“O Bloco quer acentuar, e assim o faremos na Assembleia da República, a resposta de soluções que à esquerda tragam solidariedade, tragam justiça, tragam Estado Social, tragam política de emprego, tragam distribuição do rendimento e, portanto, melhorem a economia, em vez de correrem para este abismo do sacrifício e da destruição do salário”, concluiu.

“O tempo do trabalho ser retribuído apenas com subsídios de subsistência nós conhecemo-lo, era no século XIX”

Falando aos jornalistas no final da audiência com o Bloco, Carvalho da Silva defendeu também que “no contexto actual, é inadmissível que não se cumpra em Janeiro o compromisso do salário mínimo nacional, de 500 euros”.

“O tempo do trabalho ser retribuído apenas com subsídios de subsistência nós conhecemo-lo, era no século XIX e no início do século XX, o salário ganhou dignidade e é imprescindível repor o valor do salário”, defendeu.

Neste contexto, Carvalho da Silva, referiu-se especificamente à precariedade dos trabalhadores mais jovens: “Estamos a ficar num país onde o salário dos novos trabalhadores se resume, para mais de 90 por cento deles, à aplicação do salário mínimo nacional como limite, porque muitas vezes, com a aplicação do trabalho a tempo parcial o salário é ainda inferior, isto é inadmissível”, advogou.

O secretário-geral da CGTP adiantou que as manifestações previstas para Lisboa e Porto, a 29 de Setembro, irão sublinhar a reivindicação do emprego e o próprio debate do emprego, porque o que se quer é “emprego com qualidade” e não o “emprego como fonte de criação de riqueza só para alguns”, pois é isso que se consegue com o roubos nos salários, explicou. 

Carvalho da Silva considerou que actualmente existe uma “campanha de pressão ignóbil” sobre os trabalhadores. “Vemos indivíduos que ganham dezenas de milhares de euros por mês a receitar para quem ganha o salário mínimo que se desça o salário mínimo, a receitar para os que têm protecção social mínima a redução ou a eliminação dessa protecção, mas isso é um escândalo”, afirmou, em tom crítico.