Krugman contra “falcão monetário” à frente do BCE

21 de junho 2010 - 18:33

O economista norte-americano Paul Krugman considera o presidente do Banco Central Alemão, Axel Weber, “um risco para a zona euro”, e adverte contra a sua eleição para presidir ao Banco Central Europeu.

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Nobel americano considera Axel Weber um “falcão da política monetária”. Foto Wikimedia Commons.



Paul Krugman afirmou esta segunda-feira que o risco de “um efeito de dominó da Grécia, através da Espanha e de Portugal, até à Itália, é muito maior, se o Banco Central Europeu (BCE) tiver um presidente tão conservador como Weber”.

“À frente do Banco Central Europeu não deve estar nenhum falcão da política monetária”, afirmou o Prémio Nobel da Economia 2008, na edição desta segunda-feira do jornal alemão de economia alemão Handelsblatt, referindo-se a Axel Weber, presidente do Bundesbank (Banco Central Alemão).

Krugman defendeu ainda que os países da zona euro devem contrair mais dívida, “para evitar um regresso à recessão”, em vez de optarem pela actual política de contenção orçamental. Além disto, o economista fez também votos para que, após o fim do mandato de Jean-Claude Trichet na presidência do BCE, em Outubro de 2011, esta instituição passe a ser dirigida por um presidente “que dê mais importância aos riscos da deflação e ao risco de uma longa estagnação”.

Na opinião do economista norte-americano, Axel Weber (que tem sido referido pelos observadores políticos como principal candidato à sucessão de Trichet) “não é a pessoa adequada, porque se preocupa com uma inflação que nem sequer existe”.

“A deflação é um perigo muito maior do que a inflação”

Krugman advogou que as metas da inflação na zona euro sejam “claramente mais elevadas” do que os dois por cento recomendados no Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC), propondo que possam atingir três a quatro por cento. As economias europeias “devem acertar o passo”, propôs o economista, considerando que a condição prévia essencial é passarem a ter uma política fiscal comum. “O mundo não precisa de menos, mas sim de mais programa de apoio à conjuntura, e a política de estabilidade alemã actualmente é o caminho errado”, advertiu o economista norte-americano.

“Só quando a armadilha da depressão estiver afastada é que os governos devem ocupar-se dos défices”, disse Krugman, sublinhando que “a deflação é um perigo muito maior do que a inflação”.

Krugman não exclui também sanções contra a Alemanha, se o Governo de Angela Merkel “continuar a tentar tirar vantagem” do euro fraco para aumentar as exportações. “Se o euro passar a ter paridade com o dólar, os europeus vão ficar admirados com as exigências que o Congresso dos EUA fará, e eu apoiarei”, ameaçou Krugman.

“Não permitiremos que alguns países exportem a sua política de austeridade e façam aumentar o desemprego nos Estados Unidos”, concluiu.

Esta entrevista é publicada no mesmo dia em que o Bundesbank anuncia a previsão de um forte crescimento da economia alemã no segundo trimestre do ano motivado pelo impulso da indústria e da construção. No boletim mensal de Junho, publicado esta segunda-feira, o Banco Central Alemão assegura que "a economia alemã ganhou dinamismo com o começo da Primavera".