Trabalhadores da PT temem “esquartejamento” da empresa

As notícias sobre a intenção de venda das 3.000 torres de comunicações móveis da PT aumentam as suspeitas de que a empresa possa vir a ser retalhada.

19 de outubro 2014 - 19:27
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As últimas semanas têm sido de grande preocupação para os trabalhadores da PT Portugal. Na sexta-feira, a Bloomberg deu a notícia de que a Oi já terá contratado o Barclays para negociar a venda das 3.000 torres de comunicações móveis da PT para obter um valor próximo dos 300 milhões de euros. A espanhola Abertis Infraestructuras SA, a American Tower Corp e vários fundos como o KKR & Co. estariam interessados em fazer ofertas.

Esta notícia, atribuía a fontes próximas do processo, não foi confirmada nem desmentida por nenhuma das empresas referidas. Em comunicado, a Comissão de Trabalhadores da PT exigiu explicações para se saber “se esta abordagem do negócio se insere ou não numa estratégia de esquartejamento da PT Portugal e posterior venda às postas”. Os trabalhadores dizem-se ainda “preocupados com o futuro da PT Portugal e as consequências que decisões erradas podem ter para o País, para a Soberania e a Economia Nacional e para os trabalhadores."

Quanto ao negócio das torres, o comunicado da CT avisa que “as empresas ao participarem em operações financeiras, chamadas de sale-leaseback, deixam de ser proprietárias dos seus activos. Independentemente das consequências para a PT Portugal, o que a Oi não pode pretender é no imediato só obter vantagens fiscais e de capital para si, já que se comprometeu com o projecto da criação do grande operador de telecomunicações luso-brasileiro à escala global".

A venda de torres de comunicações móveis tem sido uma das formas da Oi reforçar o capital e liquidez na empresa. Em dezembro passado, anunciou a venda de 2.007 torres no Brasil aos norte-americanos da SBA por cerca de 490 milhões de euros. Seis meses depois, nova venda de 1.641 torres ao mesmo grupo, desta vez por cerca de 376 milhões de euros.

Nestas operações, a empresa vendedora passa a pagar pela utilização das torres à empresa que comprou, enquanto a empresa compradora assegura os custos com a manutenção, ampliação e outros investimentos nas torres de comunicações móveis. Por isso os trabalhadores de PT afirmam que “uma das questões mais importantes é saber se a ideia da venda das cerca de três mil torres de telecomunicações móveis da PT Portugal salvaguarda ou não as operações e a manutenção das mesmas, logo se estão salvaguardados todos os postos de trabalho desta área”.

Sindicatos e CT multiplicam contactos para discutir futuro da empresa

A notícia da Bloomberg surgiu no dia da primeira visita a Portugal de Bayard Gontijo, desde que substituiu interinamente Zeinal Bava à frente da Oi no passado dia 8 de outubro. Os trabalhadores pediram para serem recebidos pelo nº 1 da Oi, mas Gontijo não os chegou a receber nos dois dias que esteve em Lisboa.

A Comissão de Trabalhadores pediu uma nova reunião de urgência sobre a venda das torres ao presidente da PT Portugal, Armando Almeida, que em agosto substituiu Zeinal Bava. Na reunião que tiveram no dia 9, logo a seguir à saída de Bava da Oi, Armando Almeida disse aos trabalhadores ter passado as primeiras semanas no cargo a conhecer a empresa, depois de ter passado 17 anos fora do país. De acordo com o relato da CT, o gestor acrescentou que estava empenhado em elaborar um plano de atividade para mostrar aos acionistas da Oi que a empresa pode valorizar os seus ativos e afastou a hipótese da venda das operações em Portugal, que ao contrário das de África, eram considerados ativos estratégicos por parte da Oi, que detém a totalidade do capital da PT Portugal.

No dia 14 realizou-se um encontro entre as estruturas representativas dos trabalhadores da PT - CT, SINTTAV, STPT, SINDETELCO, SNTCT, TENSIQ, STT, SINQUADROS e FE/SERS - para procurar coordenar as iniciativas em defesa dos postos de trabalho e contra a alienação da PT Portugal. Ficou decidido o pedido de encontros com o presidente da PT SGPS, o primeiro-ministro, o ministro da Economia, os grupos parlamentares e as centrais sindicais.

Logo no dia seguinte teve lugar a reunião com o presidente da PT SGPS, Mello Franco, que disse aos trabalhadores que “os acionistas da PT continuam empenhados na fusão com a Oi”. Nesse mesmo dia, a empresa brasileira anunciava que Mello Franco passava de efetivo a suplente no conselho de administração da Oi. E que Rafael Mora, da Ongoing, entrava como membro efetivo da administração.  

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