Casas para o Povo, de Catarina Alves Costa

Esta instalação nasceu da experiência de trabalhar arquivos de imagens e sons do período entre Agosto de 1974 e Outubro de 1976. É a história do SAAL, Serviço de Apoio Ambulatório Local (1974 - 1976), um movimento lançado após a revolução por um grupo de arquitectos que respondia à luta de rua dos moradores pobres que no Verão quente de 1974 gritavam “Casas Sim! Barracas Não!”.

04 de abril 2014 - 17:13
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Exibição: 25 de abril, 21h, sala Salgueiro Maia
Duração: 15 minutos
Realização: Catarina Alves Costa (2010)

Esta instalação nasceu da experiência de trabalhar arquivos de imagens e sons do período entre Agosto de 1974 e Outubro de 1976. É a história do SAAL, Serviço de Apoio Ambulatório Local (1974 - 1976), um movimento lançado após a revolução por um grupo de arquitectos que respondia à luta de rua dos moradores pobres que no Verão quente de 1974 gritavam “Casas Sim! Barracas Não!”.

Se em Lisboa as operações do SAAL acontecem em subúrbios e em zonas de bairros de lata recentemente urbanizadas, no Porto tudo acontece no centro urbano, nos bairros históricos, com populações que aí vivem há longa data. Aí, experimentou-se a ideia de uma cidade em que os pobres têm direito ao centro histórico, onde velho e novo coexistem.

O filme acompanha este processo, o movimento das ruas e a dinâmica de uma arquitectura colaborativa. No SAAL, os arquitectos organizaram-se em brigadas técnicas, que trabalhavam por zonas. A brigada trabalhava de forma a apressar a construção. Por isso, começa por projectar e construir em terrenos já disponíveis, sem necessidade de recurso a processos de expropriação, sempre lentos. O processo ganha uma enorme autonomia, avança rapidamente.

O SAAL foi uma proposta alternativa, utópica, uma reflexão nova sobre a cidade.  O sonho era grande.  A história que conto começa com este sonho e acaba com o seu fim. A paisagem urbana, e nela o grupo de arquitectos e moradores pobres envolvidos é retratada aqui de modo parcial, subjectivo, fragmentado. Em vez da história institucional, escolhi a história engajada presente em arquivos pessoais, em super 8 e 16mm, em slides que revelam a urgência do registo, em fotos das ocupações e manifestações de rua, sons de gravações de reuniões e de encontros onde se cantavam as músicas revolucionárias. Trata-se de dar conta do ambiente subjectivo e poético, pessoal, manipulando estes materiais, voltando aos locais onde tudo aconteceu, remexendo gavetas e recordações, o que fiz com a ajuda e o enorme entusiasmo do meu pai, Alexandre.

Texto de Catarina Alves Costa

Nasceu no Porto. Estudou Antropologia Social, fez o Mestrado em Antropologia Visual no Granada Centre for Visual Anthropology da Universidade de Manchester e o Doutoramento na Universidade Nova de Lisboa com a tese Camponeses do Cinema. Representações da Cultura Popular no Cinema Português 1960-1970. Entre 1994 e 2000 trabalhou no Museu Nacional de Etnologia. Desde 1997 é professora no Departamento de Antropologia da FCSH da Universidade Nova de Lisboa, onde lecciona nas áreas da Antropologia Visual e Filme Etnográfico. É investigadora integrada do CRIA, Centro em Rede de Investigação em Antropologia. Realizou, entre outros filmes, Senhora Aparecida (1994), Swagatam (1998) Mais Alma (2000), O Arquitecto e a Cidade Velha (2004), Nacional 206 (2009) Falamos de António Campos (2010). Recebeu entre outros, o 1º Prémio do festival VII Rassegna Internazionale di Documentari Etnografici, (1996), o Prémio de Excelência da Society for Visual Anthropology American Anthropological Association Film Festival, EUA(1996), Prémio Planéte no Bilan du Film Ethnographique (1999), Prémio da Crítica nos Caminhos do Cinema Português (2009)

Podes consultar o programa de todas as sessões de cinema aqui.

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