"Felizmente temos José Sócrates!", diz o líder dos patrões

16 de julho 2008 - 12:08
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Van Zeller à entrada da concertação social, junto ao protesto dos Precários Inflexíveis. Foto LusaFrancisco Van Zeller foi entrevistado pelo Jornal de Negócios para falar da revisão do Código do Trabalho. O presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP) diz que Vieira da Silva fez melhor que um governo de direita, e que os governos do PS "são mais ousados" no que respeita a mudar as relações de trabalho. O patrão dos patrões acha "injusto que este governo esteja a pagar de uma maneira tão severa a crise internacional".

 

A satisfação dos patrões com o governo Sócrates fica bem expressa em toda a entrevista de Van Zeller, que não se coíbe de comparar a prestação do PS com a dos anteriores governos: "Os governos de direita são mais tímidos no que respeita a relações de trabalho. Os governos de esquerda são mais ousados, porque é uma matéria que conhecem bem. Este ministro e esta equipa são especializados e souberam muito bem até onde podiam ir. Isto é mérito de especialistas", conclui o "patrão dos patrões".



Quanto à forma como o governo está a lidar com a crise, Van Zeller volta a desfazer-se em elogios. "Felizmente temos um José Sócrates - não é por ser socialista, porque como sabe não sou - que está a fazer um bom trabalho". E vai mais longe, ao dizer que o novo Código de Trabalho já está "desajustado da crise" e devia ir ainda mais longe nos despedimentos.



Na discussão do detalhe do Código, o líder patronal não se mostra muito preocupado com o efeito das medidas sobre os falsos recibos verdes. "Há uma certa aceitação de que devemos ter uma Inspecção de Trabalho policial, do género da ASAE, e se isso acontecer cria-se um certo medo nas empresas que não têm outro remédio: despedir ou reconverter, até porque as coimas são gigantescas", diz Van Zeller. Mas logo em seguida contraria este discurso e desvenda o que pode ser um plano B para os patrões fintarem o alegado combate à precariedade que o Código promoveria: "Mas as empresas podem também mudar os esquemas ou falsear o sistema", conclui o presidente da CIP.



Sobre a taxa adicional que o governo instituiu para quem empregue precários, e que os sindicatos e a oposição de esquerda acusam de servir apenas para "legalizar os falsos recibos verdes", Van Zeller acaba por dar razão a estes: "Embora haja uma diferença de 4% entre ter pessoal a prazo e no quadro, penso que as empresas vão preferir manter o pessoal a prazo e pagar mais. Ninguém se quer comprometer com uma pessoa até aos 65 anos, apeteça-lhe ou não lhe apeteça trabalhar", afirma Francisco Van Zeller



O representante dos industriais congratula-se com a introdução do banco de horas no novo Código: "No fundo, é para acabar com o conceito de horas extraordinárias. Trabalhar mais duas horas além do horário passa a ser regular", diz Van Zeller, para quem esta medida "na prática trata-se de conter os custos em troca de outra regalias".