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Cônsul português terá recebido suborno para compra de submarinos

Um cônsul honorário de Portugal na Alemanha terá recebido um suborno de 1,6 milhões de euros da Man Ferrostaal para ajudar a concretizar a compra de dois submarinos pelo Estado português. Paulo Portas era então ministro da Defesa.
Um cônsul honorário de Portugal na Alemanha terá recebido um suborno de 1,6 milhões de euros da Man Ferrostaal para ajudar a concretizar a compra de dois submarinos pelo Estado português. Paulo Portas era então ministro da Defesa.

A revista alemã Der Spiegel revelou, esta terça-feira, dados do processo aberto pelo Ministério Público de Munique, que terá identificado "mais de uma dúzia de contratos suspeitos" para influenciar a decisão final através de suborno. Os novos desenvolvimentos na investigação já levou nos últimos dias à prisão de dois quadros da empresa alemã.

Na altura, o Estado português contratualizou com o consórcio alemão German Submarine Consortium (que integra a Man Ferrostaal) a compra de dois submarinos U-214 em 2004, quando Durão Barroso era primeiro ministro e Paulo Portas ministro da Defesa.

De acordo com a revista alemã, a suspeita de corrupção contra a Ferrostaal, que actualmente é alvo de várias investigações na Alemanha, "é maior do que se pensava", visto que a empresa terá "não apenas pago, ela própria, luvas durante anos, mas também ajudado outras empresas a organizar este tipo de pagamentos".

A revista aponta como centro do escândalo de corrupção"a entrega de dois submarinos a Portugal", lembrando que o German Submarine Consortium ganhou em Novembro de 2003 o contrato no valor de 880 milhões de euros referentes à entrega de dois submarinos Tridente.

Nos autos de investigação, citados pela revista alemã, é referido que "um cônsul honorário português ajudou a concretizar o negócio" e terá alegadamente "recebido 1,6 milhões de euros em luvas pela sua ajuda".

O diplomata português, cujo nome não é referido, terá também organizado, no Verão de 2002, uma "reunião entre a administração da Ferrostaal e o antigo primeiro ministro português José Manuel Durão Barroso", actual presidente da Comissão Europeia.

As autoridades judiciais de Munique, que efectuaram várias buscas, na semana passada, na Ferrostaal, encontraram "mais de uma dúzia de contratos de consultoria suspeitos", que visavam "dissimular os canais de pagamento" para que "subornos pudessem ser enviados a responsáveis do Governo [português], dos Ministérios e da Marinha", refere a revista.

A Ferrostaal, que é detida em 70 por cento por um fundo de Abu Dhabi e em 30 por cento pela Volkswagen, escusou-se a comentar as acusações, alegando que as investigações estão em curso.

Entretanto o Governo português já suspendeu o cônsul honorário de Portugal em Munique, Jurgen Adolff, de "todas as funções relacionadas com o exercício do cargo", na sequência da investigação na Alemanha de suspeitas de corrupção na venda de submarinos.

Já o cônsul Jurgen Adolff, garantiu à Lusa desconhecer as acusações que lhe foram atribuídas no processo de compra de dois submarinos, bem como a decisão do Governo de o suspender de funções.

"Não sei de nada, nem faço ideia do que me está a falar", respondeu Jurgen Adolff ao ser contactado telefonicamente pela Lusa a partir de Lisboa.

"Seria simpático se me tivessem informado de que estou suspenso", acrescentou o homem de negócios de Munique que é cônsul honorário de Portugal na capital da Baviera há 15 anos.

O Bloco de Esquerda manifestou-se “muito preocupado” com a existência destas suspeitas de corrupção no negócio de venda de submarinos a Portugal, desafiando o Governo a colaborar no esclarecimento “o mais célere e o mais transparente possível” sobre o caso.

O deputado do Bloco Heitor de Sousa, disse em declarações à Lusa, que o Governo deve neste caso “prestar todos os esclarecimentos à opinião pública, nomeadamente sobre o que pensa ainda fazer relativamente ao esclarecimento de todo este processo”. De resto, acrescentou Heitor de Sousa, o esclarecimento do caso “compete às autoridades judiciais da Alemanha e de Portugal”, que dispõem agora de “maiores dados e aspectos mais claros” sobre o caso, cujo esclarecimento pode ir agora “até ao fim”. 

Ler notícia em inglês na edição online do Der Spiegel.

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