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Viana manifesta-se contra a tourada
As festas da Senhora D'Agonia são as mais importantes em Viana do Castelo. As ruas enchem-se de gente para ver os cortejos em que são exibidos trajes tradicionais, “gigantones e cabeçudos” e “zés p'reiras”. Como é habitual nestas festas, há carrocéis, carrinhos de choque, farturas e tudo o que se encontra nas feiras portuguesas. Mas este ano houve algo de novo: a festa foi manchada com uma tourada.
Desde 2009 que a Câmara de Viana erradicou do concelho as touradas. Depois de ter declarado a cidade como anti-touradas, a autarquia decidiu adquirir a praça de touros para a encerrar à atividade tauromáquica. Durante três anos não houve tourada e a população não sentiu a sua falta. Mas os empresários tauromáquicos não perdoaram a ofensa e, tendo formado a ironicamente designada federação Prótoiro, resolveram organizar uma tourada de novo em Viana, em praça amovível.
Contra esta provocação gratuita, um grupo de cidadãs de Viana começou a mobilizar-se, via internet, para organizar um protesto. A notícia espalhou-se e a manifestação contra a tourada acabou por contar com mais de 300 pessoas, destacando-se claramente como a maior já organizada fora de Lisboa nos últimos anos. Na manifestação estiveram presentes várias associações de defesa dos animais e culturais, assim como aderentes do Bloco de Esquerda. O ex-presidente da câmara responsável por declarar Viana como concelho anti-touradas, Defensor Moura, também marcou presença.
Ao som de batuques e de frases como “Festas D'Agonia sem tauromaquia” ou “Tortura de animais em Viana nunca mais”, a população de Viana expressou a sua indignação. À medida que o público entrava para a arena, tornava-se claro aquilo que toda a gente já sabia: que a Prótoiro trouxe gente de fora, inclusive do sul do país, dado que não há em Viana suficientes “aficionados/as” para pagar 20€ por uma tourada.
Para além das provocações habituais dos toureiros, a manifestação teve ainda de lidar com a atitude agressiva de um corpo policial pago pela Prótoiro para impedir o acesso de manifestantes ao terreno onde foi montada a arena. A polícia contratada começou por tentar arrastar a manifestação para um local afastado, onde seria invisível, mas o cordão foi fraco demais para conter toda a gente e a manifestação acabou por se realizar em frente à arena. Devido sobretudo à agressividade de um polícia que se recusou a identificar, por mais de uma vez os ânimos exaltaram-se, tendo uma carga policial sido evitada pela atitude conciliadora da organização.
Tribunal autorizou a ilegalidade
O pedido de licenciamento da tourada foi rejeitado pela Câmara de Viana com base nas leis de ordenamento do território. O terreno onde foi montada a arena amovível está classificado como Reserva Agrícola Nacional e Reserva Ecológica Nacional, estando ainda integrado na rede de áreas protegidas europeia Natura 2000, pelo que até a construção de um pequeno barraco para uso dos agricultores requer uma autorização especial. Mas a federação Prótoiro interpôs uma providência cautelar junto do Tribunal de Braga, argumentando que a autarquia não poderia impedir um espetáculo que é permitido pela lei, tendo conseguido um veredicto favorável num processo que foi concluído em tempo recorde.
A autarquia, que nem sequer foi ouvida no processo, reagiu de imediato interpondo um recurso. Mas desta vez o tribunal não foi tão expedito, tendo dado na sexta-feira um prazo de cinco dias para a organização da tourada responder às questões da autarquia. Uma decisão que, na prática, permitiu à Prótoiro realizar a tourada, apesar de estar a violar a legislação de proteção do território e apesar de estar numa cidade anti-touradas.
Campanha de desinformação
Quem tiver acompanhado as notícias da manifestação pela comunicação social terá visto como a mensagem presente em (quase) todas as reportagens é a de que os confrontos físicos entre manifestantes e aficionados apenas foram evitados pela atuação da polícia. Mas quem esteve lá viu aficionados a passar pelo meio da manifestação, provocando com insultos e gestos ofensivos, sem que nada lhes tenha acontecido. A violência estava presente, mas apenas do lado de quem se diverte com o sofrimento de um animal.
Apenas o Esquerda.net entrevistou as organizadoras da manifestação, tendo a SIC, televisão onde não passam touradas, sido a única que mostrou imagens da manifestação. A TVI ignorou o protesto e a RTP fez uma reportagem em que deu oportunidade ao presidente da Prótoiro, José Reis, para lançar acusações falsas de supostos atos de violência por parte dos manifestantes. Nada de novo, já que a RTP se tem unido ao Jornal de Notícias e ao Correio da Manhã para dar tempo de antena ao empresário tauromáquico que se queixa de um “ecoterrorismo” que nunca existiu.
Tal como aconteceu com os chamados “indignados”, as manifestações anti-touradas têm sido capazes de quebrar o muro de silêncio mediático, através da internet e da comunicação boca-a-boca. Esta é a face mais visível de um novo tipo de ativismo pelos direitos dos animais, que funciona em rede, de forma descentralizada e democrática, e que rejeita a atitude legalista de quem acha que as causas se ganham em reuniões fechadas com governantes e não na rua. Um ativismo que tem crescido exponencialmente, tanto em número de pessoas como em reivindicações.
Comentários
Vai desculpar-me, mas eu vi
Vai desculpar-me, mas eu vi imagens na televisão da manifestação. Ao longe e ao perto e até vi a spessoas a ser entrevistadas. Posso enviar-lhas, se quiser. Tenho todo o gosto em fazê-lo.
As pessoas antitouradas e
As pessoas antitouradas e anticaça, por norma, são pessoas da cidade que só conhecem florestas de betão, mas como acham que fica bem e é bonito fazer parte de alguma coisa ou têm que se ocupar com alguma coisa julgam ter mais mural e ética. A barbaridade e sangue tem sido dirigida com ameaças de morte, violência e sangue nas manifestações destes mesmos.
Sou Português com muito orgulho de todas as nossas tradições, usos e costumes que são para sempre honrar. Tanta coisa desta gentinha como chamam aos do outro lado, que se ocupem com outras coisas mais úteis, como Pobreza, Miséria e desgraças de crianças e famílias, a Humanidade sempre acima de tudo.
A Portugalidade abrange todas as pessoas (dirigido ao Sr Pres da câmara de Viana de Castelo, que se devia abster destas coisas, foi eleito provavelmente pelos dois lados. Ocupe-se de coisas que diz respeito ao município. Estas coisas são do povo e não consigo).
A Praça de Touros foi feita para os aficionados, não se ache dono disto.
Fique sabendo que a maioria
Fique sabendo que a maioria das pessoas contra maus-tratos a animais são maioritariamente "não urbanas", tendo muitas sido ameaçadas física e verbalmente (eu incluída, ameaçada de morte).
O ser português é de menor importância, o equilíbrio ecológico não tem fronteiras políticas, e a humanidade não está acima de nada, se o planeta se esgotar o que é que acha que acontece à superioridade da espécie humana?
Tradições, há as que merecem ser preservadas e as que devem ser imediatamente abolidas.
E que tal ir você tratar dos humanos com dificuldades em vez de gastar tempo e dinheiro com espectáculos mórbidos e doentios como as touradas?
O Sr. Presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo está a tratar do que lhe diz respeito, uma violação destas não pode ficar impune. E se não sabe, a antiga praça de touros foi comprada pela CM de Viana, não sabia? Pertence à Câmara, não aos aficionados. A fazer o comentário que fez não é de admirar que lhes chamem gentinha!
Se olhar para a História vai
Se olhar para a História vai de certeza encontrar os "jogos" de satisfação dos romanos onde colocavam "os outros" na arena e se divertiam em ver os massacres. Se a tradição passa por aqui, posso pedir a Vª Exc. que vá para a arena sem nada e espere pelo "digno animal" que coitado não tem culpa da "nobreza" que lhe deram. Deixemo-nos de hipocrisias, e das barbaries que se fazem à custa de um animal chmado touro para entreterem outros "animais" esses sim sem nobreza, porque gozam o momento à custa de sangue saido pelos ferros dos cobardes.
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