Solidariedade com Palestina

Universidades de Espanha suspendem parcerias com Israel. Em Lisboa chamam a polícia para reprimir estudantes

10 de maio 2024 - 11:46

A polícia entrou na Faculdade de Psicologia em Lisboa na quinta à noite para expulsar os estudantes acampados. Oito estudantes foram detidos e queixam-se de violência policial. 

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Estudante pendura faixa no interior da Faculdade de Psicologia da UL
Foto do Coletivo pela Libertação da Palestina/Instagram

A acampada contra o genocídio em Gaza foi reprimida pela polícia na noite de quinta-feira. Por volta das 22h, agentes da PSP entraram nas instalações da Faculdade e “algumas pessoas foram obrigadas a sair e oito pessoas foram detidas, algemadas e levadas pela polícia”, contou à agência Lusa Catarina Bio, da organização do protesto. Cá fora estavam algumas dezenas de pessoas, entre ativistas e pais de estudantes, que foram testemunhas e nalguns casos vítimas da repressão. “Falo de fortes empurrões e bastonadas, deixando inclusivamente pais de estudantes, que se encontravam a apoiar o protesto, no chão", relatou Joana Fraga, outra porta-voz do evento que decorre desde terça-feira.

— esquerda.net (@EsquerdaNet) May 14, 2024

Este protesto pacífico foi discutido logo ao início entre a organização e a direção da Faculdade, e “houve um compromisso de não despejar e dar ordem de dispersão desde que se fosse mantida a atividade letiva normal e que esta ocupação não perturbasse a atividade letiva normal”, o que nunca deixou de acontecer, acrescentou a estudante, garantindo que “todas as aulas têm acontecido com normalidade”.

“Houve aqui, de certa forma, uma quebra desta palavra que ainda estamos a tentar perceber, ainda estamos a tentar dialogar e entrar em contacto com a direção para perceber o que é que aconteceu”, acrescentou.

Catarina Martins: “Opinião pública é a única superpotência capaz de derrotar Israel”

Ao longo dos últimos dias, pelo relvado da Cidade Universitária foram passando ativistas da causa palestina e representantes políticos. A candidata do Bloco às eleições europeias de 9 de junho foi uma das pessoas a intervir, defendendo que “o problema não é só o silêncio cúmplice da UE, de Portugal e dos EUA perante o que está a acontecer”, mas sua “cumplicidade ativa“ no financiamento do massacre de Gaza.

“Nós também nos levantámos com bandeiras de Timor-Leste e fizemos a diferença”, prosseguiu Catarina Martins, lembrando que se hoje as superpotências estão do lado de Israel, a verdade é que “há uma superpotência que não controlam e essa é a da opinião pública, a da força de quem se levanta” e que neste momento “é a única superpotência capaz de derrotar Israel”.

Universidades espanholas, irlandesas e norueguesas cortam parcerias com Israel

Em Espanha, todas as 76 universidades públicas e privadas anunciaram que vão suspender acordos com faculdades e centros de investigação israelitas caso o governo de Telavive não acabe de imediato com a guerra em Gaza. Em comunicado, a Conferência de Reitores das Universidades Espanholas exige “o fim imediato e definitivo das operações militares do exército israelita, bem como de qualquer ação de carácter terrorista, e a libertação das pessoas sequestradas pelo Hamas” e que Israel “respeite o direito internacional e permita a entrada em Gaza de toda a ajuda humanitária que possa ser fornecida para cobrir a emergência da sua população civil, e que as medidas adequadas sejam articuladas pelos organismos internacionais para empreender a reconstrução e a recuperação do território palestiniano o mais rapidamente possível”.

Os reitores espanhóis comprometem-se a “rever e, se for caso disso, suspender os acordos de colaboração com universidades e centros de investigação israelitas que não tenham manifestado um compromisso firme a favor da paz e do respeito pelo direito humanitário internacional“.

Outro compromisso aprovado pelas universidades espanholas é o de “intensificar a cooperação com o sistema científico e de ensino superior palestiniano e alargar os nossos programas de cooperação, de voluntariado e de refugiados”. No plano interno, comprometem-se a “assegurar que, no exercício da liberdade de expressão, não haja comportamentos igualmente repreensíveis de antissemitismo ou islamofobia, bem como quaisquer outros comportamentos de ódio no seio das comunidades universitárias”.

Também na Irlanda, a Trinity College de Dublin anunciou o fim das parcerias com empresas israelitas ao fim de cinco dias de protestos na universidade.

Os governos espanhol e irlandês tinham anunciado que iriam fazer o reconhecimento do Estado da Palestina no primeiro semestre do ano e a televisão pública irlandesa diz que tudo indica que a data escolhida será o dia 21 de maio, antes do início da campanha eleitoral para as eleições europeias. Hoje em dia o Estado da Palestina é reconhecido pela grande maioria dos países, sendo já 143 a fazê-lo, com os EUA e os estados da UE isolados nesta matéria face ao resto do planeta.

Esta semana, quatro universidades norueguesas -  Universidade de Bergen, Escola de Arquitectura desta Universidade, a OsloMet e a South Eastern Norway (USN) - decidiram acabar com os seus programas de intercâmbio de estudantes com Israel. “As autoridades israelitas optaram por ignorar as declarações do Tribunal Internacional de Justiça e não tomaram quaisquer medidas para melhorar a situação humanitária. É por isso que não queremos continuar a ter um acordo de cooperação com as universidades de Israel”, afirmou a reitora da USN, Pia Cecilie Bing-Jonsson ao site University World News, citada pelo Público.