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A primeira vez dos novos deputados: Sandra Cunha, a deputada que veio de França

A deputada Sandra Cunha, falou ao esquerda.net sobre a sua experiência na Assembleia da República e o seu envolvimento na Primeira Comissão de Direitos, Liberdades e Garantias. Por Andreia Rodrigues.
Foto de Mário Cruz/Lusa

Sandra Mestre Cunha era a número dois pela lista de Setúbal, depois de Joana Mortágua. Assim que ouviu o seu nome abraçou-se à sua companheira. A próxima paragem iria ser a Assembleia da República. Sandra Cunha é uma das novas deputadas eleitas pelo Bloco de Esquerda.

Pretendemos alterar as condições de vida das pessoas nas diversas vertentes. Alterar a vida das pessoas para melhor. Esse é um peso, uma responsabilidade enormes

A socióloga é a filiada número 487. No ano de 2005, em conjunto com outros camaradas, iniciou o núcleo de Sesimbra e, mais tarde, a concelhia do partido na mesma localidade. Mas agora, na assembleia, o trabalho é outro. O escrutínio mediático é bem maior. A deputada explicou como foi a sua passagem para este cargo público: "Aqui temos a responsabilidade, temos o poder de alterar a vida das pessoas, que é o que se pretende aqui. Pretendemos alterar as condições de vida das pessoas nas diversas vertentes. Alterar a vida das pessoas para melhor. Esse é um peso, uma responsabilidade enormes".

O trabalho que o conjunto de deputados eleitos pelo partido , para os próximos 4 anos, têm como principal objectivo alterar, para melhor, a vida dos cidadãos. Para os próximos tempos, numa espécie de futurologia, a deputada espera uma mudança na vida das pessoas, em todas as áreas.

"A recuperação daquilo que foi roubado, a recuperação da dignidade das pessoas. A conquista de mais condições. Há muito a fazer em várias áreas. Espero que, com esta nova maioria parlamentar que temos agora, seja possível alcançar estes feitos. Tenho a noção que isto não se faz de um dia para o outro. Conseguimos, aos poucos, aprovar uma série de medidas que podem fazer a diferença na vida das pessoas. Espero que nestes quatro anos seja possível concretizarmos várias medidas, em várias áreas. Medidas que permitam melhorar as condições de vida dos portugueses e das portuguesas", são estes os desejos da deputada. Nos últimos quatro anos (governo PSD/PP), os portugueses sofreram grandes cortes nos salários, pensões e na criação de emprego. O nível de vida assemelha-se ao de 1990 e cada vez mais os jovens (extremamente qualificados) são obrigados a procurar emprego noutros países, sendo os pólos mais atractivos Angola, Brasil ou França.

Há muito a fazer em várias áreas. Espero que, com esta nova maioria parlamentar que temos agora, seja possível alcançar estes feitos. Tenho a noção que isto não se faz de um dia para o outro. Conseguimos, aos poucos, aprovar uma série de medidas que podem fazer a diferença na vida das pessoas.

Filha de emigrantes, nasceu em França, fez a escolaridade em Portugal e regressou a França, onde viveu por mais três anos. Quando voltou a Portugal sentiu uma grande diferença nos estilos de vida. Este "choque" marcou o seu início na política, mesmo tendo um passado de esquerda.

"Quando cheguei a Portugal comecei a reclamar imenso. Aquelas reclamações que se fazem nas mesas de café até que me apercebi que tinha que fazer algo mais. Foi quando comecei a pesquisar, a interessar-me mais pelos programas políticas e propostas dos vários partidos políticos. O Bloco de Esquerda, que tinha acabado de ser formado, foi aquele que mais e melhor representava aquilo que defendia", conta Sandra Cunha.

A deputada relembra este período da sua vida como um "despertar" mas acredita que se nunca tivesse saído do país iria naturalmente envolver-se activamente na política. Quando questionada se algum dia se tinha imaginado como deputada na Assembleia da República, responde: "eu sempre fui uma pessoa que se envolveu em muita coisa, para além da política. Envolvi-me numa série de activismos que vai desde a protecção de animais até à das mulheres. Para mim é natural trabalhar, envolver-me e dar o máximo pelas causas de uma forma muito intensa. Mas de facto não. Não me imaginava estar aqui sentada nesta casa enquanto deputada. Não me imaginava porque não projectava para o futuro. Naquela altura vivia o presente. Era preciso fazer, mudar mas nunca pensava na política como uma profissão".

Não é uma profissão mas, mesmo assim, envolve muita pressão: "Sinto o peso da responsabilidade pois temos que corresponder ao que as pessoas esperam de nós e temos que estar à altura dessa confiança. É uma responsabilidade enorme. O maior nervorsismo para quem chegou agora, como eu, que é a primeira vez que sou deputada, não é o que se passa cá dentro, em frente de deputados que cá estão há uma série de anos em funções e com muita mais experiência na política do que eu. É principalmente a responsabilidade que este cargo nos oferece e as pessoas que estão lá fora".

Sinto o peso da responsabilidade pois temos que corresponder ao que as pessoas esperam de nós e temos que estar à altura dessa confiança. É uma responsabilidade enorme.

A deputada continua a ver a política como um serviço público e não como uma profissão ou uma carreira. "Não quero dizer com isto que a política deve ser desconsiderado, pelo contrário. Não a encaro como uma profissão a curto, médio ou longo prazo. Encaro isto como um serviço público que desempenho durante um determinado período de tempo a bem daqueles que representamos", confessa. Para ela é um serviço público temporário. Apenas enquanto o povo lhes der a confiança do seu voto.

Quando perguntamos o que deveria mudar já no país, responde: "já mudaram algumas coisas que eu considerava muito importantes, por exemplo: a igualdade no acesso à adopção por casais do mesmo sexo. O fim da discriminação e o consagrar da igualdade. Isso já foi uma alteração enorme. Há muitas outras coisas e prendem-se todas com as políticas de austeridade que foram impostas nos últimos anos pela maioria de direita. É necessário reverter já essas medidas que nos foram impostas. Essa austeridade, esse empobrecimento forçado que nos foi imposto e exigimos a melhoria das condições de vida em termos da devolução do que nos foi roubado: salários, pensões, melhoria das condições de trabalho. Respeito e dignidade pelos trabalhadores. Existe o problema do emprego, da criação de emprego. Isto tudo está interligado. A verdade é que não acabei por falar de uma coisa mas de várias. Todas elas têm uma causa muito bem definida, identificada".

Sandra Cunha participa na Primeira Comissão dos Direitos, Liberdades e Garantias. "Aqui englobamos os direitos que estão consagrados na Constituição portuguesa. A Primeira Comissão trata dos assuntos da justiça e tudo o que esteja sob a alçada da Administração Interna, exceptuando forças de segurança militarizadas. O trabalho nesta comissão também já começou". A deputada do Bloco está mais ligada à Administração Interna e ainda vai participar na sub-Comissão para Igualdade e Não Descriminação. Esta sub-Comissão ainda não começou a reunir. Ainda existe uma terceira sub-Comissão, a da ética.

Quando questionada se seria capaz de resumir a política portuguesa em apenas uma palavra, a recém-eleita deputada considera que se pode descrever o atual momento político como sendo de esperança. Essa "é a última a morrer".

Entrevista realizada por Andreia Rodrigues, para esquerda.net.

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