O governo rebentou com tudo, diz cientista

22 de novembro 2013 - 21:13

Manuel Sobrinho Simões, um dos mais conhecidos cientistas de Portugal e uma referência na investigação do cancro, disse em entrevista ao jornal “Público” que o atual governo PSD/CDS-PP “fez uma rutura”, e não só na ciência, “fez uma espécie de destruição criativa: rebentou com tudo”.

PARTILHAR
O cientista Manuel Sobrinho Simões, que dirige o Ipatimup - Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto, diz que o instituto “aguenta mais dois ou três anos, depois acaba”

O cientista Manuel Sobrinho Simões dirige o Ipatimup - Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto e deu uma entrevista ao jornal “Público”, publicada nesta sexta-feira, 22 de novembro de 2013.

Sobrinho Simões avalia positivamente o caminho seguido por Portugal em ciência nos últimos 15 anos, considera que ele foi mérito do ex-ministro Mariano Gago, sublinha que outros ministros do PSD mantiveram a estratégia, mas realça que o atual governo rompeu com esse caminho.

Na entrevista, o cientista acusa o atual governo PSD/CDS-PP: “Este Governo fez uma rutura, o que não aconteceu só na ciência. Mas na ciência foi mais grave, porque é um tecido relativamente novo. Fez uma espécie de destruição criativa: rebentou com tudo, esperando que, das cinzas, nasça algo de novo. Na ciência, não nasce.”

Sobrinho Simões diz que com a austeridade se perdeu “esperança” e “muita gente”, salienta que “na ciência” os jovens portugueses “têm capacidade para serem contratados, no estrangeiro”, mas alerta: “vão muito feridos de asa e dificilmente voltarão”.

O cientista atribui a responsabilidade desta situação a “uma política cega em relação ao ensino superior” e realça: “O Governo não percebeu que não pode rebentar com o tecido universitário.”

Sobre a proposta de OE para 2014, o cientista diz que ela é “péssima, porque corta de uma forma cega” e acusa: “ há uma ideia de que um investigador muito bom pode juntar dois amigos e vai ali para o pátio do Hospital de S. João [no Porto] fazer um projeto de investigação”.

Sobrinho Simões critica também a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) que “está de uma incompetência como eu nunca vi”, mudando “permanentemente as regras e os prazos”. O investigador critica ainda os critérios de avaliação, baseados na produtividade científica e na obtenção de patentes, considerando que são “terríveis”, porque colocam “os investigadores das ciências sociais e humanas numa situação de dificuldade” e porque considera que “é mais importante a repercussão da nossa atividade no mundo científico e na sociedade do que o facto de se publicar numa revista com muito impacto”.

Questionado sobre quanto tempo Portugal aguenta o desinvestimento na ciência, Sobrinho Simões afirma: “Não sei, e tenho muito medo de que aguentemos menos do que aquilo que as pessoas pensam”. Falando sobre o Imatimup, o cientista diz que o instituto “aguenta mais dois ou três anos, depois acaba” e esclarece: “Tivemos uma redução do nosso financiamento de base do Estado de 45% em quatro anos. Antes, representava 1/3 e, nesta altura, é 1/7, correspondendo a cerca de 900 mil euros”.