Novas demolições violentas na Amadora

19 de novembro 2012 - 13:46

Na manhã desta segunda-feira, a Câmara Municipal da Amadora enviou de novo um grande batalhão policial para o Bairro de Santa Filomena, para demolir casas e desalojar famílias que ficam na rua, sem qualquer alternativa.

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Estão em risco de ficar sem habitação 280 pessoas (83 famílias) das quais 104 são crianças.

Segundo fontes locais, a Câmara Municipal da Amadora enviou esta segunda-feira um grande batalhão policial para o Bairro de Santa Filomena para continuar as demolições que tiveram início em Julho passado, desalojando famílias que ficam na rua, sem qualquer alternativa e com as suas casas destruídas.

Segundo o relato da Associação SOS Racismo, presente no local, as demolições começaram logo de manhã, por volta das 8h, ainda com todos os pertences dos moradores dentro de casa, sem que estes tenham sido avisados a tempo de poderem salvaguardar os seus bens. As demolições foram feitas "com uma enorme violência simbólica e física contra os moradores", tendo uma mulher doente sido removida de casa à força, estando quase nua, uma vez que os agentes da PSP lhe rasgaram as roupas quando ela tentava resistir e salvar os seus bens. Esta mulher que sofre de doença crónica acabou por ir parar ao Hospital Amadora/Sintra.



Dez pessoas, incluindo quatro crianças e um idoso, ficaram sem casa. “Temos pessoas com muletas e quase cegas a serem despejadas neste preciso momento”, afirma Rita Silva, do Coletivo pelo Direito à Habitação e à Cidade (Habita), que nos últimos meses tem lutado contra a demolição do bairro. Segundo a ativista, os moradores “são pessoas que vivem de pensões e rendimentos muito baixos e que não têm capacidade de arrendar no mercado livre”.



“A câmara da Amadora tem dito que reuniu com os habitantes para procurar e apresentar em conjunto uma alternativa, mas é mentira. Eles reuniram, de facto, mas não lhes foram apresentadas alternativas. As famílias foram ameaçadas que ou sairiam a bem, ou a mal”, acusa Rita Silva, citada pelo Público.



A Comissão de Moradores do Bairro e o Coletivo Habita condenam “as demolições sem alternativas” e vão denunciar e lutar contra o que consideram “um atentado contra a vida humana”.



As organizações denunciam que “não há qualquer respeito pela dignidade das pessoas, nem há responsabilidade para assegurar a proteção destas famílias que tendo rendimentos reduzidos não conseguem aceder ao mercado livre de habitação”. O município da Amadora está, assim, a atentar contra a vida daquelas pessoas e a desrespeitar direitos humanos fundamentais, defendem.



Além disso, dizem também que a Câmara Municipal da Amadora “mente” quando diz que analisou e ofereceu alternativas às famílias. “A única alternativa que ofereceu foi a rua, a bem ou a mal”, sublinham no comunicado enviado à imprensa.



Em Julho passado, a PSP cercou e ocupou o bairro de Santa Filomena onde foram demolidas casas de famílias sem alternativa de habitação. A demolição que gerou uma onda de solidariedade para com os moradores daquele bairro muito pobre, foi imposta pelo município da Amadora, presidida por Joaquim Raposo e de maioria PS.



Na altura, o Bloco de Esquerda acusou a câmara de “insensibilidade” e de tentar “passar a perna à justiça”. O deputado bloquista Pedro Filipe Soares esteve solidariamente no bairro de Santa Filomena e aí denunciou à agência Lusa que a Câmara da Amadora tenta passar “a perna à justiça” por não respeitar o período legal necessário para o tribunal responder às providências cautelares interpostas por moradores que tentaram impedir a demolição das casas.

Segundo o Coletivo Habita, estão em risco de ficar sem habitação 280 pessoas, das quais 104 são crianças.