No dia do SNS, são os privados que lucram

15 de setembro 2010 - 2:45

Esta quarta-feira comemora-se o Dia Nacional do Serviço Nacional de Saúde, uma data aproveitada pelos hospitais privados para revelar que o seu volume de negócio deverá ultrapassar os mil milhões de euros em 2010.

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Os dados da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada, questionada pela agência Lusa a propósito do dia em que se comemoram os 31 anos do SNS, revelam uma subida de cem milhões no volume de negócios dos hospitais privados em relação ao ano passado. Os maiores grupos privados de saúde em Portugal são a Espírito Santo Saúde (220 milhões de euros em 2009), HPP Saúde (150 milhões de euros) e a Mello Saúde (265 milhões de euros), que detêm 70 por cento da quota de mercado.



A mesma associação revela ainda que os privados já asseguram um quarto dos internamentos e cinco por cento das urgências e representam hoje 40 por cento dos cuidados de saúde assegurados em Portugal, em boa parte graças à promoção dos seguros de saúde.



Por seu lado, o histórico socialista António Arnaut, fundador do SNS, diz ser preciso “averiguar porque é que alguns médicos não podem prestar os cuidados de saúde nas unidades públicas e no mesmo dia os prestam nas unidades privadas onde trabalham simultaneamente, sendo o Estado a pagar as intervenções cirúrgicas”.



Analisando os problemas e desafios que o SNS hoje enfrenta em Portugal, Arnaut defendeu "mais rigor na gestão dos dinheiros: o SNS tem uma dotação razoável, e talvez não seja necessário gastar mais, mas é preciso gastar melhor e, sobretudo, eliminar parte do desperdício que o Tribunal de Contas reconheceu ter (25 por cento)”.



O peso da despesa com os medicamentos é outro factor negativo, na opinião de Arnaut, uma vez que "levam um quarto dos gastos do SNS. Há medicação excessiva, assim como há meios complementares de diagnóstico desnecessários”.   



Mas para este fundador do SNS universal, há um problema maior que o “magoa, choca e incomoda”: a “desumanização que ainda subsiste em algumas unidades de saúde, apesar dos esforços para a eliminar". António Arnaut dá o exemplo de situações “nalguns serviços de urgência em que as pessoas se amontoam sem haver ninguém vestido com uma bata branca que venha ter com elas com uma palavra de compreensão e de solidariedade”. “Ser médico, enfermeiro ou funcionário do SNS não é ser um mero funcionário público, é exercer uma função social com relevante incidência humanista”, sublinhou.