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Nato fora do Afeganistão

No encerramento da Conferência Nato para quê?, Mariam Rawi, activista da associação revolucionária de mulheres afegãs, e o Bloco de Esquerda defendem retirada imediata da NATO do Afeganistão.
Sessão de encerramento da Conferência Internacional "Nato para quê?" - Foto de Paulete Matos

A Conferência Internacional Nato para quê? Encerrou este domingo à tarde os seus trabalhos com as intervenções de Miguel Portas, Francisco Louçã e Mariam Rawi, activista da Rawa, associação revolucionária de mulheres afegãs, que se dedica à luta pelos direitos das mulheres no Afeganistão e pelo fim da ocupação das forças estrangeiras.

A activista afegã deixou o testemunho daquela que tem sido a dramática realidade vivida pelas mulheres, e pelo povo afegão em geral, durante os últimos nove anos de ocupação das forças internacionais, leia-se Estados Unidos da América e seus aliados.

Mariam Rawi defendeu que os países que estão envolvidos nas operações em território afegão não pretendem a democratização do país, e que um governo após ocupação será, na realidade, um governo “marioneta”, que irá assegurar os objectivos económicos e militares dos EUA, nomeadamente a utilização do Afeganistão como base militar.

Segundo relatos da representante da Rawa, o Afeganistão está mergulhado num clima de violência permanente. Proliferam os assassinatos, as violações, e são cada vez mais comuns os ataques a civis por parte da NATO.

A par do elevado nível de insegurança, o Afeganistão regista uma elevada taxa de desemprego e grande parte das crianças não tem, sequer, acesso à escola. A taxa de mortalidade infantil é a maior do mundo. 37 crianças morrem em cada hora. As imolações de mulheres que não têm qualquer outra forma de reivindicar os seus direitos é uma realidade.

A guerra só está a trazer mais pobreza e “infortúnio ao nosso povo”, afirmou Mariam, enquanto o Afeganistão continua a produzir a maior quantidade de ópio do mundo.

Segundo Mariam Rawi, os fundamentalistas actualmente no poder, e que usufruem do apoio da NATO, não são melhores que os talibãs, sendo que estes últimos continuam a ser financiados através da contratação de empresas de segurança para garantir o patrulhamento do país. As forças policiais oficiais estão, inclusive, muitas vezes envolvidas nas agressões contra o povo afegão e os senhores da guerra vivem em grandes palácios, ao passo que a população vive na miséria.

A eleição do actual presidente afegão, Hamid Karzai, ocorreu de forma manifestamente irregular. As eleições foram muito pouco participadas (40%) e registaram-se inúmeras queixas de irregularidades. A activista denunciou ainda que se mantêm pagamentos secretos da CIA ao governo de Karsai para a partilha de informações.

A organização Rawa apela às diferentes representações mundiais para que ponham fim à tragédia vivida pelo povo afegão e à “nova era de cativeiro” em que se encontram as mulheres afegãs. As reivindicações desta associação passam pela saída imediata de todas as forças estrangeiras presentes no país e o julgamento, em tribunal internacional, de todos os criminosos de guerra.

Mobilização para a Contra-Cimeira

O coordenador da comissão política do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, partilha da reivindicação da representante da Rawa: é imperativa a saída das tropas da NATO do Afeganistão.

O Bloco não aceita que os portugueses sejam um pilar do governo narco-traficante do Afeganistão, e que sejam o garante dos interesses económicos e militares dos EUA, assim como não aceita o desrespeito pelos direitos dos afegãos.

A participação na contra-cimeira será, nesse sentido, segundo Francisco Louçã, fundamental para a luta contra a guerra, a favor da paz e a favor da autodeterminação dos povos.

O novo papel da Nato

Miguel Portas teceu, na sua intervenção, alguns comentários sobre o que está em causa na próxima cimeira na Nato. O euro deputado esclareceu que o que está em discussão é o alargamento do espaço de intervenção da NATO, que já se vem a concretizar desde a queda do muro de Berlim. O que se pretende é confirmar a presença extra ocidental da agência – aprofundar a sua posição de polícia do mundo.

Para os EUA, o objectivo é manter a hegemonia política da decisão, mas assegurar a repartição dos custos decorrentes da guerra permanente. Para a UE, a finalidade é aumentar o seu peso político na NATO, mas com o menor custo possível, já que as medidas de austeridades entram em contradição com os custos militares.

Miguel Portas alertou também para o facto de a indústria norte americana estar com um “problema de falta de guerras”, sendo que a escolha mais provável para os EUA será o Irão, para onde estão, neste momento, “virados todos os holofotes”.

A escolha do Irão prende-se com a sua localização estratégica e com as suas reservas de petróleo.

A polémica em torno do programa nuclear do Irão tem sido utilizada para sustentar esta decisão. Para o euro deputado do Bloco, a solução para esta problemática deve passar por um processo de negociação, durante o qual deve ser reconhecido o direito do Irão, previsto na lei internacional, a desenvolver o seu programa nuclear - que o governo iraniano afirma ter fins exclusivamente civis - mas exigir a suspensão do processo de enriquecimento de urânio enquanto durarem as negociações.

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