"Não pergunte quanto ganha um actor ou um bailarino. Calculo que sabe que não é muito e que a sua derradeira glória poderá vir a ser a de morrer pobre. Pergunte sim, por exemplo, quanto aufere o administrador da Lusomundo/Zon, o abafador, aquele que esconde os nossos filmes, e que não responde mais depois de se assegurar com um contrato, e que não responde nem a nós nem a quem quer ver e mostrar os filmes portugueses", escreve Manoel de Oliveira no artigo "Defesa do cinema português" no "Público" desta sexta-feira, um texto dirigido à ministra Gabriela Canavilhas.
"Senhora ministra, peço-lhe que pense bem nos problemas que estamos a viver, de modo a encontrar soluções eficazes e justas", diz o centenário realizador, opondo-se aos anunciados cortes nos apoios aos criadores culturais. Oliveira argumenta que o país ganha mais com o cinema português que o que gasta em subsídios à produção de filmes. "Todos, seja dentro ou fora do filme, pagam impostos e esses impostos, feitas as contas, serão montantes aproximados, se não iguais ou até superiores, ao subsídio que o Ministério da Cultura dá para cada um desses filmes".
"Neste momento difícil, penso sobretudo nos meus colegas realizadores mais jovens. Para eles, estes cortes são profundamente injustos", alerta o realizador, acrescentando que "eles não podem viver sem uma Cinemateca Nacional forte" nem "sem um laboratório de imagem e de som, como o da Tobis, onde há mais de setenta anos faço os meus filmes".
"Eles precisam de uma lei do cinema que efectivamente proteja o cinema português. E precisam de ser ouvidos para isso. Eles, como eu, sempre viveram na precariedade e na insegurança, sem reforma nem subsídio de desemprego, e sem nunca sabermos se não estaremos a fazer o nosso último filme. Eles, como eu, só temos um desejo: todos ambicionamos morrer a fazer filmes", conclui o centenário cineasta português.
Manoel de Oliveira: cortes na cultura "são profundamente injustos"
09 de julho 2010 - 14:58
Numa carta aberta à ministra da cultura, o realizador defende os jovens cineastas e produtores que "sempre viveram na precariedade e na insegurança, sem reforma nem subsídio de desemprego" e diz que "o cinema português está longe de ser motivo de ruína para o país".
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"Não pergunte quanto ganha um actor ou um bailarino. Calculo que sabe que não é muito e que a sua derradeira glória poderá vir a ser a de morrer pobre", diz Oliveira à ministra da Cultura. Foto piwiyan/Flickr.