Líbia: Kadhafi ameaça “esmagar revolta”

23 de fevereiro 2011 - 10:33

Kadhafi afirmou que “irá morrer como um mártir no final" e instou os seus apoiantes a “esmagar a revolta”. ONU teme "êxodo significativo" e pede a países vizinhos na África e Europa que recebam refugiados.

PARTILHAR

Num espaço de 24 horas, Kadhafi fez dois discursos para a televisão, prometendo que não irá deixar a Líbia e que irá morrer como um mártir no final, mantendo-se “o líder da revolução até o fim dos tempos".

Muammar Kadhafi instou ainda os seus apoiantes a saírem às ruas para um confronto violento de forma a esmagarem a revolta e lutarem contra os “ratos gordurosos” a soldo dos inimigos, que vão desde os EUA à Al-Qaeda.

Apesar dos confrontos na Líbia já terem resultado em mais de 400 mortos, o dirigente líbio está disposto a aumentar o derramamento de sangue de forma a conter a contestação.

Relatos que chegam de Tripoli dão conta de inúmeros cadáveres deixados nas ruas, carros e lojas queimados, e da existência de vários grupos de mercenários armados, a quem a população chama de "esquadrões da morte de Khadafi".

Existem informações que indicam que algumas partes do país, incluindo a segunda cidade líbia, Benghazi, Tobruk e outras cidades do leste, já estão fora do controlo de suas forças de segurança. 

Kadhafi enfrenta contestação interna

O número de demissões de responsáveis líbios sucede-se. Esta terça-feira foi a vez de o "número dois" do regime líbio, o ministro do Interior e general Abdul Fatah Younis, apresentar a sua renúncia e exortar o exército a juntar-se aos manifestantes, segundo noticia a Al-Jazeera.

 O jornal líbio Quryna, que cita uma fonte militar, adiantou, entretanto, que "o piloto Abdessalam Attiyah Al-Abdali e o co-piloto Ali Omar al-Kadhafi ejectaram-se com pára-quedas depois de terem recusado a ordem para bombardear Bengasi", tendo  o aparelho Sukhoi 22 de fabrico russo despenhado-se em Ajdabiya.

Conselho de Segurança da ONU exige “fim imediato da violência”

O Conselho de Segurança da ONU aprovou, entretanto, e por unanimidade, uma resolução em que é exigido o “fim imediato da violência” e onde insta o regime de Tripoli a “dar resposta às exigências legítimas da população”. Neste documento, os 15 membros do Conselho de Segurança sublinharam ainda que as autoridades líbias “têm que cumprir as suas responsabilidades de protecção da sua população, agir com contenção e respeitar os direitos humanos e as leis internacionais”.

A Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay, afirmou, em comunicado, que o seu departamento não tem presença na Líbia mas que estará preparado para apoiar investigações e promover direitos civis, políticos e económicos no país do Norte da África.

A ex-juíza de crimes de guerra da ONU, defende que os "ataques sistemáticos em larga escala contra a população civil podem ser considerados crimes contra a humanidade" e que "a insensibilidade com que as autoridades líbias e os seus atiradores contratados estão a disparar munições contra manifestantes pacíficos é algo inescrupuloso”.

Segundo um comunicado oficial, também "está suspensa a participação das delegações governamentais da Líbia nas reuniões do Conselho da Liga Árabe e de todas as suas organizações dependentes até que as autoridades líbias cumpram os requerimentos" do bloco. O secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa, já reconheceu as reivindicações dos manifestantes líbios como "legítimas" e instou também ao fim da repressão por parte das autoridades líbias.