O jantar anual que comemora o 25 de Abril em Lisboa, promovido por personalidades de vários quadrantes da esquerda, voltou a reunir centenas de participantes na Cantina Velha da Cidade Universitária. Em nome da Comissão Promotora do evento, José Tavares reafirmou o lema do jantar, realçando a necessidade de juntar forças no momento atual da democracia portuguesa.
“No 25 de Abril foi possível fazer mudanças e hoje também é possível”, defendeu o comandante Mário Simões Teles, referindo-se à necessidade da esquerda encontrar “um acordo no essencial”, sem ter pressa de mudar tudo o resto. Para este orador, o consenso sobre o fim da guerra colonial no ocaso da ditadura apresenta semelhanças com o consenso atual sobre a dívida, até porque “a divida é hoje o que era a guerra no que diz respeito ao estrangulamento económico do país”. Mário Simões Teles elogiou a iniciativa do Manifesto dos 74 em defesa da reestruturação da dívida, como um exemplo de que é possível a sociedade reunir-se “em torno do essencial”.
O jantar contou também com a intervenção de Sofia Roque, bolseira de investigação e ativista da Associação de Combate à Precariedade – Precários Inflexíveis. Para além da evocação de alguns dos momentos de um “25 de Abril que não vivi”, Sofia Roque referiu-se aos “tempos sombrios que se vivem no seio da investigação científica” e criticou a vaga austeritária que se abateu sobre os investigadores. São em grande maioria “eternos bolseiros que dificilmente têm acesso a um contrato de trabalho e, perante a sua condição precária, pretendem emigrar”, como mostram as respostas a um inquérito promovido pela ACP-PI.
Noutra intervenção da noite, Eduardo Paz Ferreira lembrou o ambiente que testemunhara naquela mesma cantina há 40 anos como “um espaço vivo de debate e lutas estudantis”. O catedrático da Faculdade de Direito também evocou o lema da iniciativa, sublinhando que na diversidade dos grupos então existentes havia unidade no empenho em acabar com as desigualdades e a ditadura. Destacou também o Congresso da Oposição Democrática como um desses momentos importantes na unidade para derrubar o regime e manifestou-se esperançado na capacidade das novas gerações para manterem viva a chama da mudança e da luta contra as injustiças.