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Implementação da TDT em Portugal "é um escândalo", acusa CT da RTP

A Comissão de Trabalhadores da RTP acusa o Governo e a ANACOM de colocarem os interesses privados das operadoras de telecomunicações móveis à frente do interesse comum das populações. E a Associação das Aldeias do Xisto quer saber por que se gastaram 30 milhões a enterrar cabos e eliminar antenas nas aldeias históricas, se agora o Governo quer obrigar a população a instalar uma parabólica em cada telhado.
Graças ao plano do Governo, a TDT pode encher de parabólicas os telhados na aldeia de Piódão. Foto Samuel Santos/Flickr

Em comunicado divulgado esta terça-feira, a CT da RTP diz que a forma como está a ser desenvolvida a implementação da Televisão Digital Terrestre em Portugal "é um verdadeiro escândalo económico e político com graves consequências sociais a curto, médio e longo prazo".

Os trabalhadores do serviço público de televisão interrogam-se sobre o facto de na Europa a TDT ter sido o "catalisador de uma explosão de variedade de oferta televisiva", com muitas dezenas de canais de acesso livre em cada país, enquanto Portugal "terá como triste distinção o facto de ser o país europeu com o menor número de canais nesta plataforma". Para a CT da RTP, a explicação é simples: "porque tudo neste processo da TDT foi motivado, não pela defesa do bem público, mas sim pela defesa do bem privado, nomeadamente das operadoras de telecomunicações móveis".

A entrega do desenvolvimento da plataforma TDT à Portugal Telecom, "que tem como principal atividade a venda de pacotes de cabo através do Meo", é alvo de fortes críticas dos trabalhadores da RTP, bem como as "decisões políticas de todo incompetentes", como a "de assegurar a cobertura de uma percentagem de território em vez de assegurar a cobertura de uma percentagem de população", uma diferença que parece de pormenor, mas que é responsável por deixar mais de um milhão de pessoas sem acesso à televisão. Os elogios de responsáveis da ANACOM ao modelo seguido apesar de todas as queixas das populações do interior, as mais afetadas por esta exclusão tecnológica, só podem explicar-se, no entender da CT da RTP, "pela dolorosa evidência de que, em Portugal, o regulador do setor das telecomunicações é financiado por aqueles que regula".

Os trabalhadores da RTP exigem um outro modelo de TDT "que integre os canais que atualmente existem e os que facilmente podem ser criados, tendo em atenção o interesse da população, e com cobertura total do território de forma a garantir um serviço público de televisão e rádio - direito fundamental constitucionalmente consagrado, daqueles que o pagam, os Portugueses", conclui o comunicado.

As autarquias do interior continuam a contestar o processo de implementação da TDT, que prevê cortar o sinal analógico por completo no fim de abril. Depois dos autarcas de Arganil, Oliveira do Hospital e Seia terem reunido com deputados na semana passada, agora foi a vez do presidente da Câmara de Vouzela, eleito pelo PSD, apelar ao adiamento deste prazo. Telmo Antunes fez as contas e diz que quase metade da população do concelho vive em zonas sem cobertura da TDT, o que vai obrigar toda a gente a comprar parabólicas para continuar a ver televisão.

Também a Agência para o Desenvolvimento Turístico das Aldeias do Xisto denunciou que “quase todas as aldeias, das 27 que existem na rede, não têm cobertura da Televisão Digital Terrestre a não ser através do satélite”. A Agência com sede no Fundão lembra os 30 milhões de euros que foram gastos na recuperação de habitações das Aldeias do Xisto, onde as antenas foram eliminadas e os cabos enterrados, para agora serem obrigados a colocar uma parabólica em cada telhado destas aldeias históricas.

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