Artistas, técnicos e produtores foram terça-feira à Comissão de Cultura da Assembleia da República denunciar o calote a que os artistas continuam sujeitos pela Guimarães Capital da Cultura. Os pagamentos contratualizados continuam por cumprir desde março, colocando os artistas como os verdadeiros financiadores da Capital Europeia da Cultura.
Esta iniciativa, que congregou uma parte significativa dos artistas portugueses, foi desde o início marcada por uma gestão incompreensivelmente danosa para o erário público e, sobretudo, para os artistas, que se disponibilizaram a tolerar atrasos nos pagamentos. No entanto, após quase um ano de atividades e sucessivos anúncios de pagamento eminente das dívidas, a grande maioria dos artistas continua sem ser ressarcida.
Com uma estrutura de gestão e financiamento contestada e duvidosa desde a sua criação, a Fundação Guimarães está sujeita a financiamentos do QREN, cuja burocracia, associada a uma desresponsabilização das sucessivas tutelas governamentais, criou um insolúvel colapso de tesouraria.
"Incumprimento total dos contratos"
Tiago Guedes, da Materiais Diversos, denuncia o "incumprimento total dos contratos" por parte da direção da Fundação, com consequências desastrosas para estruturas já fragilizadas pela crise e por decisões de anteriores governos, que não estão por isso com capacidade para sustentar atrasos de pagamentos. Ainda segundo Tiago Guedes, estes artistas "recorreram a poupanças pessoais e a empréstimos pessoais. O balão de ar que a capital da cultura deveria ter representado para o setor tornou-se o carrasco de todo os artistas e estruturas envolvidas."
Assim mesmo o confirma Francisco Camacho, da Eira, uma estrutura que se dedica a atividades e iniciativas que dinamizam o desenvolvimento da dança contemporânea, que "após 30 anos de atividade, está em risco de falência por ter participado numa Capital Europeia da Cultura."
O Movimento "eu fiz parte e não fui pago" acrescenta que pior do que o incumprimento dos contratos é a total ausência de comunicação, um problema que afeta todos os envolvidos na iniciativa. A direção da Capital da Cultura não só não presta contas aos artistas como não apresenta qualquer plano de pagamentos nem sequer se dignando a avisar formalmente alguns artistas do não pagamento de cachets. Assim o denuncia Alex Oliva, do OpusEnsemble, que, no próprio dia da apresentação, foi avisado pelo motorista de que não seriam pagos pelo concerto realizado.