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Força Argentina e os abutres que vão à merda!

O que as manchetes da imprensa ao serviço do capitalismo mais feroz deveriam ter dito é: "Argentina suspende o pagamento dos fundos abutres", diz o escritor Luís Sepúlveda, numa nota do seu Facebook, a propósito do “incumprimento” do país sul-americano.
Fora Abutres! Foto de Benjamin Dumas
Fora Abutres! Foto de Benjamin Dumas

As manchetes da imprensa espanhola não podiam ser hoje mais escandalosos e pior intencionados. Argentina na falência! E a leitura da maioria das informações leva a pensar numa sociedade e num governo incapazes de fazer frente às dívidas contraídas, mas omitem dizer quem são os credores e a natureza dos fundos abutre cujos pagamentos exigem de maneira imediata.

Que são os fundos abutre? Na gíria dos especuladores, na língua maldita do que conhecemos sob a denominação de "os mercados financeiros", são chamados "capital de alto risco ou fundos de investimento livre" e consistem em dívida pública de Estados com graves problemas económicos, ou dívidas de empresas à beira da falência, que são comprados a preços infinitamente mais abaixo do valor com que foram postos à venda. Assim, os fundos da dívida pública argentina foram comprados a bancos e outros investidores que não conseguiram especular como desejavam, a 20 ou 30 % do seu valor nomimal e, com truques de duvidosa legalidade – para isso serve o FMI, o Banco Mundial e o Tribunal Federal dos EUA – querem receber 100% do seu valor.

Uma breve olhadela à história recente da Argentina permite-nos recordar que depois dos desastrosos governos de Menem, o país caiu em falência no ano 2001 – corralito incluído – e uma grande quantidade de títulos da dívida pública argentina foram comprados pela NLM Capital Aurelius, uma das grandes firmas especuladoras especializadas em fundos abutre, que agora pretende cobrar 100% dos títulos comprados a 6% do seu valor real. Esta compra, realizada em Nova York, faz com que seja a justiça norte-americana a principal avalista e defensora dos especuladores. Assim, a NLM Capital Aurelius comprou em 2008 outro lote de fundos da dívida pública argentina por um custo de 48 milhões de dólares, e agora pretende cobrar 832 milhões de dólares, aos quais há que juntar outros 1500 milhões de dólares dos títulos comprados entre 2005 e 2010.

E essa breve olhadela à história recente da Argentina permite-nos recordar que o presidente Néstor Kirchner renegociou a dívida pública do país valendo-se de um argumento muito capitalista mas que os especuladores entenderam: "se a Argentina deve um milhão de dólares tem um problema, mas se Argentina deve mil milhões de dólares o problema têm-no vocês". O FMI, o Banco Mundial, a Justiça norte-americana anunciaram o fim da Argentina como Nação, como Estado, seria apagada do mapa, mas o presidente Kirchner manteve-se firme e a maioria, 93 % dos detentores de títulos da dívida pública, aceitaram ter um problema, e que era melhor aceitar o pagamento oferecido pela Argentina do que perder tudo. Mas uma minoria, entre eles a NLM Capital Aurelius, levaram a questão à Justiça norte-americana, que indubitavelmente decidiria a seu favor.

Kirchner podia ceder aos especuladores, tratava-se de dívida pública, muito fácil de pagar fazendo cortes na educação, na saúde, na cultura, nas infraestruturas, em tudo o que dá razão de ser ao Estado a serviço dos cidadãos. Por sorte para a Argentina, Néstor Kirchner era um presidente leal ao seu povo.

Kirchner podia ceder aos especuladores, tratava-se de dívida pública, muito fácil de pagar fazendo cortes na educação, na saúde, na cultura, nas infraestruturas, em tudo o que dá razão de ser ao Estado a serviço dos cidadãos. Por sorte para a Argentina, Néstor Kirchner era um presidente leal ao seu povo e não um miserável fantoche ao serviço dos especuladores.

O que as manchetes da imprensa ao serviço do capitalismo mais feroz deveriam ter dito é: "Argentina suspende o pagamento dos fundos abutres", mas a chantagem a que se quer submeter a nação Argentina inclui também o descrédito e a calúnia, a ofensa à dignidade de um país.

A presidenta Cristina Fernández falou com contundência, o povo argentino não vai satisfazer a criminosa ânsia de lucro de uns miseráveis especuladores.

Força Argentina! Isto deve ser um exemplo a seguir para muitos países cujas economias estão em mãos de especuladores. Essa dívida não é para pagar.

Tradução de Luis Leiria para o Esquerda.net

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