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FMI reconhece erro: austeridade agudizou crise na Europa

O FMI reconhece que subestimou o impacto negativo da austeridade na economia europeia, um erro que custou bem caro aos países intervencionados pela União Europeia e FMI, como é o caso de Portugal. Por cada euro de cortes públicos, a economia perdeu quase dois euros, diz o Fundo no seu último relatório.
Christine Lagarde, presidente do FMI.

Dois anos depois de violentos programas de austeridade terem lançado a maioria dos países europeus na recessão, originando um mar de desempregados e o aumento em cascata do endividamento público, o Fundo Monetário Internacional veio reconhecer que “subestimou” o efeito recessivo gerado pela austeridade.

O “erro”, reconhece agora o FMI no relatório semestral sobre o estado da economia mundial, estava nos modelos económicos utilizados para calcular os efeitos da política de austeridade na economia. Num estudo intitulado "Estaremos a subestimar os multiplicadores orçamentais de curto prazo?", os economistas do Fundo tentam perceber porque razão as previsões para a evolução da economia têm falhado sistematicamente.

Enquanto nos cálculos efetuados para definir o programa seguido nos memorandos para Portugal, Grécia ou Irlanda, se previa uma diminuição de 0,5 euros na riqueza do país por cada euro a mais nos impostos ou de corte na despesa pública, o FMI reconhece agora que esse impacto é muito superior. Assim, desde o início da crise financeira de 2008, o produto dos países europeus está a diminuir entre 0,9 e 1,7 euros por cada euro retirado à despesa do Estado.

O “mea culpa” do FMI surge dois anos depois de esta intuição ter reconhecido o papel dos seus modelos no deflagrar da crise financeira que levou à atual recessão.

"Esta descoberta é consistente com investigação que sugere que, no actual ambiente de fraca utilização da capacidade produtiva, de política monetária limitada pelas taxas de juro zero e de ajustamento da política orçamental simultâneo em vários países, os multiplicadores podem estar bem acima de um", defende-se no relatório do FMI.

O que o relatório do FMI escamoteia é que os cálculos utilizados pela instituição sempre foram contestados por um sem número de economistas, como os prémios Nobel Paul Krugman ou Stiglizt, por não levarem em consideração o impacto recessivo da austeridade.

O certo é que um erro tão grosseiro no cálculo do efeito das medidas de austeridade, e com uma dimensão que chega mesmo a ser surpreendente, teve impacto nas economias europeias, principalmente das que estão intervencionadas pela Comissão Europeia e FMI (como é o caso de Portugal).
 

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