Falta uma semana para terminar a votação do Prémio da Vergonha atribuído anualmente pela organização internacional Public Eye. Duas empresas recebem esse prémio todos os anos. No ano passado, os agraciados foram a petrolífera Shell e o banco Goldman Sachs.
O prémio existe desde 2005 e já o “venceram” 21 empresas. Os dois prémios são atribuídos de forma diferente: um é decidido por um júri e o outro por votação popular na Internet.
O objetivo é premiar a pior empresa do ano. A cerimónia de entrega dos galardões normalmente coincide com o Fórum Económico Mundial de Davos. O evento é uma conferência de imprensa com representantes conhecidos. Além da sociedade civil e de vítimas da má conduta empresarial no mundo todo, uma gama variada de pensadores, incluindo Oskar Lafontaine, Mary Robinson, John Ruggie e Joseph Stiglitz, já esteve presente nos eventos da Public Eye.
FIFA na disputa
A novidade, este ano, é que, ao lado de empresas como a Gazprom ou a Esko, este ano, concorre também a FIFA – isso mesmo, a Federação Internacional de Futebol Associado, que realiza o Mundial de futebol no Brasil.
A Fédération Internationale de Football Association, com sede em Zurique, na Suíça, emprega cerca de 310 pessoas de 35 nações. Em 2012, declarou um lucro líquido de 89 milhões de dólares e reservas financeiras de 1.378 milhões de dólares. Está amplamente isenta do pagamento de impostos e é considerada oficialmente como uma organização sem fins lucrativos (!!).
A associação esteve envolvida em vários casos de corrupção e é fortemente criticada pela sua cumplicidade em casos de violação de direitos humanos. No entanto, a FIFA nega veementemente a veracidade dessas alegações.
A candidatura da FIFA à pior empresa do ano é patrocinada pela ANCOP, Articulação dos Comités Populares da Copa, uma coligação brasileira de comités locais criada nas 12 cidades anfitriãs do Mundial (Copa do Mundo) da FIFA de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016. Trabalha com movimentos sociais, organizações de direitos humanos, associações de residentes, pesquisadores e académicos afetados pelos efeitos negativos resultantes desses megaeventos. A outra patrocinadora é a Campanha Global para Desmantelar o Poder Corporativo. Uma extensa lista de movimentos sociais, entre eles o MST – Movimento dos Trabalhadores rurais Sem Terra – apoia a proposta de que a FIFA receba o prémio da vergonha.
Motivos
“O Brasil enfrenta diretamente os impactos negativos da realização da Copa do Mundo da FIFA de 2014, especialmente para as pessoas que vivem nas áreas das obras dos projetos ou perto delas”, afirma-se na justificação. “Centenas de milhares de pessoas nas 12 cidades anfitriãs foram forçadas a deixar as suas moradias, perdendo os lares e a subsistência. Além disso, a FIFA não tem nenhuma intenção de permitir que pequenas empresas e negócios familiares se beneficiem das oportunidades emergentes durante o torneio”.
As patrocinadoras da candidatura acusam a FIFA de manter “zonas de exclusão num raio de dois quilómetros dos seus estádios e concentrações de torcedores, onde controlam o movimento das pessoas e a venda de produtos, fazendo com que uma infinidade de vendedores de rua perca os seus trabalhos. As pessoas mais pobres estão arcando com o maior ónus e enfrentam repressão intensa caso tentem defender seus direitos”.
Quem estiver interessado em saber mais sobre esta candidatura ou outras e saber mais sobre o Hall of Shame pode fazê-lo aqui. A candidatura da FIFA está aqui, onde também se pode votar.