EUA: polícia divulga vídeo que mostra oficial a disparar contra afro-americano desarmado

23 de setembro 2016 - 15:35

Vídeo contradiz versão anterior da polícia de Tulsa, no Estado de Oklahoma, para a morte de Terence Crutcher, que tinha as mãos ao alto e não transportava armas.

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Imagem de vídeo mostra Crutcher com as mãos ao alto pouco antes de ser morto
Imagem de vídeo mostra Crutcher com as mãos ao alto pouco antes de ser morto

O departamento de polícia de Tulsa, no Estado de Oklahoma, divulgou nesta segunda-feira (19 de setembro) um vídeo que mostra o momento em que uma oficial branca dispara contra Terence Crutcher, um homem negro de 40 anos, morto na última sexta-feira (16 de setembro) durante uma abordagem policial. As imagens mostram que Crutcher estava desarmado e contrariam a versão apresentada anteriormente pela corporação de que ele não tinha obedecido à ordem de manter as mãos para cima.

Segundo o jornal norte-americano USA Today, Crutcher teve problemas com a sua carrinha, que parou a meio de uma estrada na área arborizada da cidade. O departamento de polícia afirmou que os oficiais foram chamados para averiguar um veículo abandonado a interromper a via.

Pelas imagens, gravadas de um helicóptero e pela câmara do painel de uma das viaturas, é possível ver que Crutcher caminha com as mãos ao alto - desarmado - a afastar-se dos polícias, no sentido do seu carro. Ele é seguido pela oficial Betty Shelby, que aponta a sua arma, juntamente com outros colegas, contra o homem.

No vídeo gravado desde o helicóptero da polícia é possível ouvir um oficial dizendo “aquele parece um homem do mal, ele pode estar drogado”.

Depois de alguns segundos, Terence Crutcher aparentemente apoia-se no seu veículo, momento em que recebe pelo menos um tiro disparado por Shelby e cai no chão.

Crutcher morreu no hospital pouco depois.

À imprensa, o chefe de polícia de Tulsa, Chuck Jordan, classificou o caso como "muito preocupante".

“Vou dizer-vos agora que não havia nenhuma arma junto ao suspeito ou dentro do seu veículo (...) Vamos fazer a coisa certa, não encobriremos nada", afirmou ele na segunda, ao descrever o vídeo como "muito difícil de assistir".

Inicialmente, um porta-voz da polícia tinha afirmado que Crutcher tinha-se recusado a obedecer às ordens dos agentes, entre elas a de manter os braços ao alto.

Tanto Shelby como outro polícia identificado como Tyler Turnbough foram suspensos - o procedimento habitual nestes casos -, até que a investigação da polícia de Tulsa sobre o caso seja concluída.

O Departamento de Justiça dos Estados Unidos já anunciou a abertura de uma investigação independente para apurar violações de direitos civis no caso.

O advogado da família, Damario Solomon-Simmons, qualificou o vídeo de "inquietante" e acusou a polícia de ter deixado Crutcher a sangrar no chão.

A irmã gémea do falecido, Tiffany, por sua vez, disse que a sua família exige saber o que ocorreu na sexta-feira e mostrou-se aborrecida pelo comentário no vídeo que descrevia o seu irmão como um “homem do mal”.

"Estamos devastados, toda a família está devastada. Esse homem do mal era pai, esse homem do mal era filho, esse homem do mal estava matriculado na Universidade Comunitária de Tulsa para nos deixar orgulhosos, esse homem do mal amava Deus e cantava na igreja em todos os fins de semana", disse a irmã da vítima.

Organizações de direitos civis pronunciaram-se exigindo a prisão imediata de Shelby sob a acusação de assassinato.

A morte de Crutcher ocorreu dois dias após a polícia da cidade de Columbus, em Ohio, matar Tyre King, um garoto negro de 13 anos que transportava uma arma de brinquedo. As autoridades dizem que o assassinato ocorreu na quarta-feira (14 de setembro), após King ter tirado uma arma de pressão do bolso ao ser enquadrado pela polícia em um beco.

Segundo a polícia, King era suspeito de um assalto e, de acordo com o presidente da câmara de Columbus, Andrew Ginther, a arma que ele carregava era "quase idêntica" às armas dos oficiais da cidade. No sábado (17/09), o presidente da câmara também disse que investigações estão a ser realizadas para averiguar o que ocorreu.

Os EUA têm debatido com mais intensidade o racismo institucional e a violência policial contra pessoas negras nos EUA desde agosto de 2014, quando Michael Brown, de 18 anos, foi morto pela polícia da cidade de Ferguson, no Estado de Missouri, enquanto estava desarmado. Desde então, os casos de violência de agentes brancos contra pessoas negras - especialmente as mortes de pessoas negras desarmadas nas mãos da polícia - têm vindo à tona, com protestos em todo o país contra o racismo e a impunidade policial.

Artigo publicado em Opera Mundi