Está aqui

Estudos comprovam que aumentar o salário mínimo melhora o emprego e o consumo

Investigadores dos Estados Unidos mostram como é errada a visão de que o aumento do salário faz subir o desemprego, e comprovam que é o oposto que acontece: o aumento do salário mínimo reduz o desemprego e sem afetar de forma significativa os preços. Por Marco António Moreno, El Blog Salmón.
Salário mínimo nos Estados Unidos: apogeu e queda 1960-2013

A crise tem sido especialmente dura para o emprego. Em Espanha e na Grécia o desemprego bateu todos os recordes. Os economistas convencionais consideram sempre que se reduz o desemprego diminuindo os salários. Como todo o ajuste económico, deve ser feito via preços, neste caso o preço do trabalho, segundo reza a teoria do mercado do trabalho. Foi este o caminho implantado na Europa através dos planos de austeridade. Procura-se reduzir os salários como parte da deflação geral de preços, para começar a mover a economia “a partir de baixo”.

No entanto, e tal como assinalávamos neste post de outubro de 2010, aumentar o salário mínimo pode reduzir o desemprego, e não aumentá-lo, como pensam os economistas convencionais. Neste post passamos em revista parte das novas investigações sobre o salário mínimo e o seu impacto na atividade económica, a desigualdade e a pobreza.

Melhora o emprego e o consumo

O tema do desemprego preocupa todo mundo, não só a Europa. Por isso ganhou relevância o trabalho do economista da Universidade de Massashussets Arindrajit Dube que comentamos há três anos. Dube dedica-se há mais de 20 anos a pesquisar o tema do emprego em diferentes regiões dos Estados Unidos e pôde demonstrar que o aumento do salário mínimo não só é bom para o emprego como também para o consumo. No ano de 2010 publicou este documento junto com William Lester, da Universidade de Carolina do Norte, Chapel Hill, e Michael Reich da Universidade de Califórnia, Berkeley.

Os ajustes “por baixo” realizados ao salário nos Estados Unidos durante as últimas décadas levaram o salário mínimo federal a 7,25 dólares a hora, menos 25% do que era em 1968, como mostra o gráfico com que Aridrajit Dube ilustra o seu artigo no New York Times, “The Minimun We Can Do”. Se o salário só tivesse sido reajustado pela inflação e a produtividade, hoje seria de 23 dólares a hora, três vezes o valor atual. Se nos anos 60 o salário mínimo representava 47 por cento da média salarial dos Estados Unidos, hoje está reduzido a 37 por cento. Por isso o governo do presidente Obama procura elevar o salário mínimo para 10,10 dólares a hora e indexá-lo ao índice da inflação. Num recente discurso, Obama destacou os perigos económicos e políticos da crescente desigualdade de rendimentos. Como era de esperar, os opositores do aumento do salário mínimo usaram de imediato o habitual estribilho defendido pelos economistas da corrente dominante: um aumento do salário mínimo só dará lugar a mais desemprego, especialmente entre os trabalhadores pouco qualificados.

Aumenta a produtividade

A investigação de Dube, Lester, Hill e Reich indica que apesar de um aumento de 10 por cento no salário mínimo implicar inicialmente maiores custos à empresa, estes mais tarde são compensados pela diminuição da rotação laboral e o aumento da produtividade que ocorre devido à permanência laboral. Os trabalhadores que ganham o salário mínimo geralmente são do sector de serviços (principalmente fast food) e a rotação laboral produz atendimento de má qualidade que pode melhorar se o trabalhador se estabilizar no emprego. Uma melhor qualidade do atendimento pode também fidelizar o cliente e com isto a empresa recupera o aumento dos custos.

Por outro lado, um aumento gradual no salário mínimo não necessariamente afeta os preços de maneira significativa. A nível macroeconómico, um aumento de 10 por cento no salário mínimo associa-se a uma subida de menos de meio ponto percentual no nível geral de preços, de acordo com este trabalho de Jared Berstein, que desmente as hipóteses convencionais que afirmam que um aumento do salário mínimo provoca a espiral inflacionária.

O tema do salário mínimo é também abordado pelos economistas David Card e Alan B. Cruger, que realizaram uma meticulosa investigação e a recompilaram no seu livro “Myth and Measurement: The New Economics of the Minimun Wage”, onde também desafiam a visão convencional de que os salários mínimos mais altos reduzem postos de trabalhos para os trabalhadores de baixos salários. Tal como o trabalho de Arindrajit Dube, o de Card e Cruger não se baseia em sofisticados modelos matemáticos, mas sim em pôr a teoria no mundo real, mostrando como o salário mínimo tem um impacto na distribuição geral dos salários, na desigualdade e na geração de pobreza.

Reduz a pobreza

Outro dos estribilhos dos economistas convencionais é que a maioria dos trabalhadores com salário mínimo são adolescentes, mas este relatório de David Cooper e Dão Essrow indica que 88 por cento dos trabalhadores têm uma idade média de 35 anos, com 55 por cento a trabalhar a tempo completo, com um salário de 15.080 dólares anuais, 19 por cento abaixo do limiar da pobreza para uma família de três pessoas. Muitas famílias que dependem destes trabalhos exercem-no em locais de fast food e requerem programas de assistência pública a um custo de 7.000 milhões de dólares anuais. Nestes casos, o aumento do salário mínimo é uma ferramenta poderosa para reduzir a pobreza.

Mas não é apenas a pobreza o ponto relevante destas análises. O aumento do rendimento das pessoas mais vulneráveis ajuda a estimular a despesa e o consumo em momentos em que a procura continua deprimida, impedindo uma recuperação sólida que fortaleça a recuperação de emprego. Por isso que, contra todas as advertências e slogans da economia ortodoxa, um aumento do salário mínimo permitiria melhorar o nível de emprego e não piorá-lo, como reza a troika. Os trabalhadores de baixos salários destinam todo o seu rendimento ao consumo, portanto um aumento do seu salário tem um impacto direto na procura e o consumo, e portanto no emprego. Aumentar o salário mínimo é uma ferramenta de política que pode ajudar a sair da crise. Só falta que chegue a ouvidos da troika.

Tradução de Luis Leiria para o Esquerda.net

Artigos relacionados: 

Termos relacionados Sociedade
(...)