Escândalo: Governo apoia OPA's à Cimpor e à Brisa

04 de abril 2012 - 1:42

A Camargo Corrêa lançou uma OPA à Cimpor, o Governo impôs à CGD que venda a parte que detém da cimenteira (9,6%) à empresa brasileira, apesar do valor baixo da oferta. Simultaneamente, o grupo José de Mello e o fundo Arcus lançaram uma OPA à Brisa, que será financiada pela CGD. A economia está estrangulada, mas a preocupação do Governo é com o apoio aos grandes grupos privados. Bloco questiona Governo.

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Passos Coelho e Vítor Gaspar durante a reunião do Conselho para a Internacionalização da Economia, criado pelo Governo, 24 de fevereiro de 2012 – Foto de Miguel A. Lopes/Lusa

O grupo brasileiro Camargo Corrêa decidiu lançar uma OPA à Cimpor, oferecendo 5,5 euros por cada ação da cimenteira. Meia hora depois do anúncio da OPA, a Caixa Geral de Depósitos (CGD), comunica à CMVM (Comissão do Mercado de Valores Mobiliários), que decidiu vender os 9,58% que detém na Cimpor. Há dois anos, a CGD recusou vender a sua parte a 6,18 euros por ação, há meses divulgou que só venderia por 6,5 euros por ação, agora a parte que a CGD detém será vendida a 5,5 euros por ação.

Segundo o “Jornal de Negócios”, a OPA da Camargo Corrêa terá sido negociada entre o grupo brasileiro, o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, e o consultor do Governo para questões de privatizações e capitalização da banca, António Borges, antigo vice-presidente do banco Goldman Sachs. Na reunião terá ficado assente que a Camargo Corrêa ofereceria 5,5 euros por ação e a CGD venderia a sua parte. Ainda segundo o jornal, o banco público nem sequer foi chamado a pronunciar-se. O Governo decide assim delapidar o Estado português e entregar o controlo da Cimpor ao grupo brasileiro Camargo Corrêa, e ainda por cima por baixo preço.

Também na semana passada, o Grupo José de Mello e o fundo de investimento Arcus decidiram lançar uma OPA à Brisa, com o objetivo de reforçarem o controlo da empresa, da qual detêm atualmente 49,4% das ações (o Grupo José de Mello 30,3% e o Arcus 19,1%).

Segundo Vasco Mello, líder do grupo José de Mello, a operação será financiada “em dois terços por dívida e em um terço por capitais próprios”. No financiamento da operação vão participar o BCP, o BES e... a CGD (através da Caixa Banco de Investimento).

Num momento em que o desemprego dispara brutalmente, a economia está mergulhada em queda e tem graves dificuldades de financiamento, a atuação do banco público imposta pelo Governo, através do ministro das Finanças, Vítor Gaspar, é absolutamente escandalosa. Até o presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, afirma, referindo-se ao financiamento da CGD à OPA: “Estou escandalizado, isto é inadmissível”.

Rui Rio, apoiante declarado do Governo e destacado militante do PSD, diz ainda que “não sabia, nem sonhava que podia ser possível” a CGD financiar esta OPA de uma empresa sobre outra, considera esse financiamento um escândalo e um boicote à necessidade da banca financiar a economia: “Esse dinheiro que está ali faz falta a muitas pequenas empresas que precisam de vender, precisam de trabalhar, precisam de exportar a bem do país”, diz.

Nesta terça feira, o Bloco de Esquerda questionou o Governo acerca do financiamento da CGD à OPA sobre a Brisa. No documento (aceda ao texto na íntegra), os deputados Pedro Filipe Soares e Catarina Martins referem que “na situação de crise atual, seria de esperar que a CGD, banco público, estivesse direcionada para o financiamento da economia, das pequenas e médias empresas, e de projetos que permitam gerar emprego e aumentar a capacidade produtiva do país”.

Sublinhando que “a CGD deveria assumir uma posição de destaque na injeção de liquidez à economia”, os deputados afirmam que “a operação de financiamento da OPA à Brisa não aparenta cumprir qualquer um destes critérios, prioritários para a recuperação da situação económica nacional” e perguntam ao Governo, através do ministério do Estado e das Finanças: se confirma a “decisão da CGD de financiar parte da operação de aquisição da totalidade do capital da Brisa”, em caso afirmativo, qual o montante envolvido na operação e se considera “que esta operação contribui de forma decisiva para a liquidez da economia portuguesa”.

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