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Crise política na Irlanda após plano de resgate financeiro

Descontentes com a intervenção da UE e do FMI no sistema financeiro irlandês, com o aval do Governo, o partido Os Verdes bateu com a porta, pondo fim à coligação governativa, e pede eleições antecipadas.
O deputado do partido Sinn Féin, Aengus Ó Snodaigh, também foi "empurrado" pela polícia durante os protestos. Foto Colin Keegan/Collins, Dublin.

Já durante a tarde desta segunda-feira, um grupo de manifestantes que protestavam contra a manipulação do governo sobre a crise económica abriu caminho pela área de segurança dos edifícios do Governo, em Dublin, marcando o final de um protesto maior (com cerca de 150 pessoas) que decorria desde a hora do almoço. O grupo, com cerca de 50 pessoas, incluindo um deputado do partido católico Sinn Féin, Aengus Ó Snodaigh, protestava em frente dos edifícios do governo, na Merrion Street, pedindo a demissão do Primeiro-Ministro Brian Cowen, quando os ânimos se exaltaram com a tentativa de entrada no edifício.

A BBC divulga umas imagens dos confrontos ali gerados entre manifestantes e polícia, que assumiram algum grau de violência, e do deputado Ó Snodaigh que também foi “empurrado” pelos polícias.

Os Verdes abandonam coligação irlandesa e pedem eleições antecipadas

"Chegámos a um ponto em que o povo irlandês precisa de uma certeza política que os consiga suportar nos próximos dois meses. Por isso, acreditamos que é altura de marcar uma data para eleições gerais para a segunda quinzena de Janeiro", afirmam Os Verdes, em comunicado, citado pela Reuters.

No mesmo documento, John Gormley, o líder de Os Verdes e actual Ministro do Ambiente, diz que "lamenta muito que o país esteja nas mãos do FMI". E insiste: "Eu e os meus colegas estamos muito aborrecidos com o que sucedeu, mas acreditamos que temos sempre de manter um lugar no Governo para defender o interesse nacional".

Os Verdes, o partido com menor representação na coligação governamental irlandesa, retiraram o seu apoio ao Governo de Dublin um dia depois de a União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) terem aprovado um plano de ajuda financeira ao país, de modo a salvar o sector bancário e resolver a crise orçamental. O valor do resgate será "inferior a 100 mil milhões de euros", revelou ontem o ministro das Finanças da Bélgica, Didier Reynders, cujo país preside à União Europeia (UE).

As declarações do governante belga surgem após duas reuniões por teleconferência dos ministros das Finanças da zona euro (Eurogrupo) e da União Europeia (Ecofin), que decorreram no domingo, ao final da tarde.

Os ministros do Governo irlandês também já aprovaram um segundo plano de austeridade para os próximos quatro anos, que envolve cortes de 15 mil milhões, para reduzir o défice orçamental abaixo dos 3% do PIB até 2014. Os detalhes do pacote de cortes serão ainda conhecidos esta terça-feira.

Este ano, o 'buraco' das contas públicas da Irlanda deve rondar os 32%, devido às ajudas ao sistema financeiro do país, que está beira do colapso. Grande parte das verbas do pacote de resgate à Irlanda será destinada precisamente para injectar capital nos bancos.

Em conferência de imprensa, Brian Cowen anunciou que a dimensão do sistema bancário irlandês vai ser reduzida significativamente, no âmbito do plano de reestruturação previsto para o fundo de apoio da UE e do FMI

“Ajuda” poderá chegar já em Janeiro

A contribuição final de cada Estado dependerá, em grande parte, do valor que o Reino Unido oferecer à Irlanda, já que a sua estreita relação financeira com a ilha poderá traduzir-se em empréstimos adicionais, mas já se sabe que este vai emprestar oito mil milhões de euros, anunciou esta segunda-feira o ministro das Finanças britânico.

Já José Sócrates também já afirmou que Portugal fará na Irlanda, tal como aconteceu na Grécia, um “investimento” na compra de dívida deste país. O primeiro-ministro explicou aos jornalistas que a operação que será realizada com Dublin "não se tratará de qualquer ajuda", pois “quando se compra dívida, está a fazer-se um investimento nos países, que pagam juros", justificou.

A Irlanda pode começar a receber verbas da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional em Janeiro, disse o presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker. O Fundo Europeu de Estabilização Financeira está "preparado para agir rapidamente", enfatizou.

"Política da bancarrota está-nos a bater à porta"

O Bloco de Esquerda considera que o recurso da Irlanda ao FMI e à União Europeia vai "agravar a pressão" sobre a economia nacional, mas defende que essa intervenção não é desejável em Portugal, pelo seu carácter "profundamente recessivo".

Na opinião de José Gusmão, deputado do Bloco, a Irlanda é um exemplo a não seguir e a ajuda financeira a este país pode ter reflexos em Portugal. 

“Pode vir a afectar o nosso país se não for compreendido pelas autoridades da União Europeia o rumo que está a ser dado a todo o espaço da Zona Euro com este ciclo das políticas de auteridade e se não for compreendido pelo Governo português o exemplo que a Irlanda deu, porque este foi o primeiro país a começar a implementar políticas de austeridade o que agravou a sua situação económica”, considera este bloquista.

Francisco Louçã afirmou esta segunda-feira que a "política da bancarrota" está a "bater à porta" de Portugal, mesmo reconhecendo que o país vive uma "situação diferente" da Irlanda.

Para Louçã, os governantes portugueses "estão tão desorientados que favorecem imenso a vaga especulativa contra a economia portuguesa", e é necessário que "a banca e as grandes instituições paguem os seus impostos", lembrando a antecipação do pagamento de dividendos da PT. 

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