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Crise põe em causa saúde mental de gregos e portugueses

Mediante o agravamento da austeridade e a deterioração das condições de vida, Portugal e Grécia têm registado um aumento no número de transtornos psicológicos diagnosticados e no número de suicídios. Em ambos os países, os serviços de saúde têm vindo a ser estrangulados devido aos cortes orçamentais.
Foto de Marta Vieira Pereira, Flickr.

O Financial Times alerta que as consequências da crise na saúde mental da população grega têm sido descuradas, já que outras questões mais urgentes se impõem, como a fome e a pobreza, contudo, sublinha que o aumento dos diagnósticos de depressão e o aumento exponencial dos suicídios espelham bem esta nova realidade.

"Todos os tipos de transtornos psicológicos têm aumentado - ansiedade, depressão, abusos, comportamento anti-social...", adianta Argyro Voulgari, psicólogo clínico no Centro Helénico para a Saúde Mental e Pesquisa. Neste centro, o número de crianças e adolescentes em acompanhamento subiu 51% entre 2006 e 2011.

A permanente incerteza sobre o futuro, o aumento exponencial do desemprego, tornaram-se nos principais geradores do “stress crónico” entre os helénicos.

A manifestação mais preocupante da pressão psicológica a que está submetida a população grega é o aumento da taxa de suicídio. Entre 2009 e 2011 este indicador disparou 37%, segundo adianta o governo grego, no entanto, a realidade poderá ser bastante mais dramática, já que a estigmatização associada ao suicídio leva à ocultação de muitos casos.

Paralelamente ao acréscimo de transtornos psicológicos, a Grécia assiste ao estrangulamento dos seus serviços de saúde, sujeitos aos cortes orçamentais impostos pela troika, o que se traduz na fragilização dos serviços e cuidados que deveriam ser disponibilizados aos cidadãos.

Crise agrava problemática da saúde mental em Portugal

À semelhança do que se passa na Grécia, os peritos portugueses alertam para o agravamento da problemática da saúde mental em Portugal.

Com a crise, “as depressões estão a subir a pique, as perturbações de ansiedade e de humor são cada vez mais", advertia Joaquim Passos, professor da Escola Superior de Saúde do Vale do Ave, em junho.

No Programa Nacional para a Saúde Mental (PNSM), elaborado pela Direção Geral de Saúde, e divulgado em setembro, é também referido que "a crise financeira que vivemos vai ter seguramente impactos muito significativos na saúde mental das populações", sendo "plausível a ocorrência de um aumento da prevalência de algumas doenças mentais, assim como o aumento da taxa de suicídio em alguns setores da população".

A Associação de Apoio aos Doentes Depressivos e Bipolares também alerta que a crise pode estar a contribuir para o aumento de algumas doenças mentais e tentativas de suicídio, na medida em que muitos doentes deixaram de ter dinheiro para os medicamentos, levando ao agravamento dos respetivos quadros clínicos.

Segundo o Instituto de Medicina Legal (IML), em 2011, registaram-se mais 110 suicídios do que em 2010, num total de 1208. Até julho de 2012 foram, por sua vez, confirmados 490 casos de suicídio, estando este número, contudo, longe de representar a real dimensão deste fenómeno.

Ao contrário do que seria desejável, o aumento do número de casos de transtornos psicológicos não se tem traduzido numa maior oferta no que respeita aos cuidados de saúde nesta área. Na realidade, “a crise financeira pode criar o risco de fragilizar os serviços e cuidados que temos obrigação de disponibilizar a estes doentes”, alertou José Miguel Caldas de Almeida, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa.

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