Durante uma mesa redonda sobre a criação artística nas cidades médias, realizada em Coimbra, o Director-Geral das Artes, Jorge Barreto Xavier, fugiu aos protestos das companhias presentes sobre os cortes de financiamento e não respondeu às perguntas feitas pela agência Lusa, alegando que não foi esse o tema que o levou a participar na mesa redonda.
Nesta, o director da companhia A Escola da Noite, António Augusto Barros, criticou o corte cego de 10% nos valores contratualizados com o Estado para o corrente ano e “com efeitos retroactivos”. Jorge Barreto Xavier ainda ouviu o protesto, mas saiu sem responder.
Na mesma sessão, Rui Madeira, da Companhia de Teatro de Braga, realçou que um corte de cerca de 30 mil euros significa dois meses de salários, o que coloca dificuldades acrescidas ao funcionamento destas estruturas.
Em entrevista ao jornal Público desta sexta feira, a ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, confirma que “o cenário é dramático para a DGA [Direcção-Geral das Artes]”.
Confrontada pelo jornal com os cortes brutais (antes do PEC o orçamento de 236,5 milhões de euros já era o segundo mais baixo em cinco anos e terá ainda cortes importantes) e com a pergunta “se sente que está a defraudar”, diz que não. Perante a pergunta “quem vai sofrer mais?”, declara: “Claramente, vamos ter um período muito difícil para os [artistas] independentes. Vamos ver se conseguimos não reduzir em 20% a actividade dos independentes,tentar manter um mínimo de dinamismo até sobrevivermos a este ano”.
Comentando para o esquerda.net a entrevista da ministra, a deputada Catarina Martins do Bloco de Esquerda diz que Gabriela Canavilhas “admite cortes dramáticos, mas não assume que os projectos já caíram e vão cair ainda mais”. Segundo a deputada bloquista, a ministra não compreende a realidade quando distingue subsídios de contratos, “a maioria trabalha com contratos que dependem dos subsídios” e está a escamotear que “muitos subsídios já caíram” e “vão cair ainda mais”. Estes cortes “afectam a dinâmica da agenda cultural, o trabalho das pessoas e a cultura em Portugal”.
“A ministra não é ministra da Cultura, age de acordo com as ordens do ministro das Finanças e nem sequer compreende as consequências graves dos cortes”, conclui Catarina Martins.
A deputada bloquista já tinha apresentado um requerimento para que o Director-Geral das Artes, Jorge Barreto Xavier, vá à comissão parlamentar para “conhecer a situação dos apoios directos às artes, já que estão em causa projectos artísticos centrais na vida cultural portuguesa, bem como centenas de postos de trabalho e a própria existência do sector”. A comissão parlamentar de Ética, Sociedade e Cultura aprovou este requerimento, nesta quinta feira, tendo a deputada do PS Inês de Medeiros votado contra “por uma questão de agenda”. No requerimento do Bloco pode ler-se que “a agenda da senhora ministra da Cultura tem impedido a sua presença na Assembleia da República, tendo sido não só anulado um debate em plenário, como já por duas vezes foi adiada a sua presença nesta comissão”.