Bispo emérito de Setúbal: portugueses devem “gritar bem alto para serem ouvidos”

03 de novembro 2012 - 14:38

Portugal está atualmente a viver uma situação idêntica à que se vivia em Setúbal nos anos 80, existindo cada vez “mais pobres, mais pessoas sem pão, sem trabalho, sem casa”, alerta o bispo emérito de Setúbal, D. Manuel Martins. “Os mais pobres não têm outra alternativa senão gritar bem alto para serem ouvidos”, defendeu.

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"É uma situação generalizada em Portugal e que eu julgo que não vai melhorar, porque tem raízes filosóficas e económicas muito profundas, muitos discutíveis e eu ia dizer até muito condenáveis", afirmou o bispo emérito de Setúbal, citado pela agência Lusa, adiantando que às vezes sente que “pregar a esperança parece quase uma heresia, porque vai ser muito difícil sairmos desta situação".

“Quando estava em Setúbal, eu recebia grupos de pessoas de todo o lado - associações, desempregados, gente de todo o lado -, e dizia-lhes para irem para a rua e para gritarem alto. E para arranjarem muita gente para gritar com eles, porque só gritando muito alto teriam alguma possibilidade de serem ouvidos por quem estava no poder", recordou.

D. Manuel Martins acredita que "a situação vai piorar” e que vão existir “cada vez vai haver mais pobres, mais pessoas sem pão, sem trabalho, sem casa".

Cáritas recebe cada vez mais pedidos de ajuda

O presidente da Cáritas, Eugénio Fonseca, alerta para o facto de estarem a surgir milhares de novos pedidos de ajuda a esta instituição.

Para além de milhares de pessoas que já beneficiavam dos apoios da Cáritas Portuguesa surgem agora pedidos por parte de “milhares de pessoas que tinham uma vida estável, que pertenceram à chamada classe média, que estavam bem integradas na sociedade, e que, de repente, ficaram sem trabalho". Algumas destas pessoas "não têm qualquer apoio, devido às alterações no subsídio de desemprego e noutras medidas de proteção social", avançou Eugénio Fonseca, sublinhando que quando chegam à Cáritas "já estão com problemas tão graves que a instituição já não tem capacidade para resolver".

"A região onde a pobreza é mais dramática e onde há um grande número de desempregados e beneficiários do Rendimento Social de Inserção (RSI), é o Grande Porto", afirmou Eugénio Fonseca, frisando, contudo, que os níveis de pobreza também são preocupantes na região de Lisboa, na Península de Setúbal e no Algarve.