Antiga Triumph: "Governo tem o dever de dar a cara, de apoiar estas mulheres e os seus direitos

23 de janeiro 2018 - 19:36

Esta terça-feira, organizações feministas e personalidades, entre elas Rita Ferro Rodrigues, Maria Antónia Palla e Mariana Mortágua, solidarizaram-se com a luta das trabalhadoras da antiga Triumph. A deputada bloquista defendeu que “devia ser o Estado a garantir a sua proteção”. Notícia atualizada às 20h38 de 23.01.2018.

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Foto Esquerda.net

Esta terça-feira, várias organizações, grupos feministas e personalidades, entre elas a apresentadora Rita Ferro Rodrigues, a jornalista Maria Antónia Palla, a dirigente da UMAR Manuela Tavares e as deputadas bloquistas Mariana Mortágua, Joana Mortágua e Isabel Pires, prestaram o seu apoio solidário à luta das trabalhadoras da antiga Triumph, atual TGI - Gramax Internacional, que, desde 5 de janeiro, estão em vigília à porta das instalações da fábrica, em Sacavém, concelho de Loures.

A deputada bloquista Mariana Mortágua defendeu que o "Governo tem o dever de dar a cara, de apoiar estas mulheres e os seus direitos".

"Não nos parece razoável que, para proteger os seus próprios direitos, estas mulheres tenham que acampar em turnos de 4 horas, dia e noite à porta da empresa, com prejuízo para as suas famílias e vidas pessoais. Devia ser o Estado a garantir esta proteção, a garantir um processo célere e a garantir que todos os direitos são respeitados", frisou.

Também Maria Antónia Palla lamentou o facto de as trabalhadoras da Triumph se verem obrigadas a permanecerem em vigília há três semanas, “para reclamarem uma coisa que é delas, porque é produto do seu trabalho”. “As pessoas não podem viver do ar”, destacou.

Com salários em atraso desde novembro de 2017, bem como o subsídio de Natal, e sem garantias de receber as indemnizações a que têm direito, as 463 trabalhadoras da antiga Triumph revezam-se por turnos à porta da fábrica para evitar a retirada das máquinas e restante material produzido.

Parlamento debate "situação dramática" na antiga Triumph

Esta quarta-feira, terá lugar um debate de atualidade na Assembleia da República, agendado pelo Bloco de Esquerda, sobre "a dramática situação" na fábrica da antiga Triumph, em Loures, defendendo a "salvaguarda dos salários e direitos das trabalhadoras".

“O Bloco quer discutir em que circunstâncias é que a venda da Triumph, uma fábrica que até recebeu benefícios fiscais no passado, à Gramax configurou uma falência fraudulenta […] e de que forma é que o Estado e o Governo podem proteger os trabalhadores durante o processo de insolvência, garantindo que os seus direitos são respeitados”, explicou Mariana Mortágua em declarações à Lusa.


Ler também: Parlamento discute na quarta-feira "situação dramática" na antiga Triumph

Os bloquistas pretendem ainda “dar visibilidade” à luta dos trabalhadores e procurar respostas a nível institucional, por forma a agilizar o processo de insolvência e encontrar soluções para os postos de trabalho em causa.

“As trabalhadoras da Triumph, penso, fizeram o correto e, desde o dia 05 de janeiro, estão a dar uma enorme lição a todo o país, ao proteger o seu posto de trabalho e proteger aquilo que é seu e que foi construído com o seu trabalho. Estão desde o dia 05 à porta da fábrica para impedir que os donos retirem o que há de valor e fizeram-no sem a proteção do Governo, sem uma palavra do Presidente da República, sem que o parlamento se pronunciasse de forma maioritária”, rematou a deputada.

Tribunal nomeou administradora de insolvência

Esta segunda-feira, o tribunal informou que, finalmente, nomeou uma administradora de insolvência, que deverá reunir com as trabalhadoras às 16h15 de quarta-feira.

"Agora esperamos para ouvir o que a sr.ª administradora da insolvência tem para nos dizer. Depois disso logo se vê o que vamos fazer", afirmou Mónica Antunes, trabalhadora e dirigente sindical, assinalando que a vigília vai continuar “até a administradora resolver todo este processo”.


Ver vídeo: A corajosa luta das trabalhadoras da Triumph

“Nós queremos trabalhar, mas também queremos os nossos direitos. Paguem-nos o que é nosso por direito e depois, se pensarem que isto é viável ou não, nós estamos cá para trabalhar”, salientou.

Em declarações à Lusa, Graça Silveira, na empresa há 29 anos, garantiu que não arreda pé da porta da empresa para receber o que é seu, porque “as contas do mês não podem esperar”.

“Não merecíamos. Sempre produzimos tudo o que nos era pedido e a horas e sempre na maior perfeição, porque era exigida muita qualidade, e sinto-me muito revoltada. Porque nós somos seres humanos, não somos lixo que eles varram e metam ao canto. Agora já não prestamos, agora vão partir para outros países”, vincou.

Graça Silveira reivindica “os 29 anos de casa a que tem direito e os ordenados em atraso”.

“Estou aqui porque sou mulher e respeito-me como tal e luto por aquilo que é meu, pelos meus direitos, porque é isso que eu estou a pedir, pelos meus e das minhas colegas, e para mostrar ao país que não tenham medo de lutar”, referiu.

Desagradadas com a ausência quer do Primeiro-Ministro quer do Presidente da República, as trabalhadoras estão disposta a ir na quarta-feira a Camarate, onde Marcelo Rebelo de Sousa participará numa visita oficial a uma escola.

Para fazer às despesas que se acumulam, as trabalhadoras anunciaram, entretanto, a criação de uma conta solidária para angariar donativos: PT50 0036 0160 9910 0083 6688 6.

A Câmara de Loures anunciou, por sua vez, que, no dia 18 de fevereiro, decorrerá um concerto solidário com artistas nacionais, às 16h, no Pavilhão do Sport Grupo Sacavenense. O valor arrecadado com a venda dos bilhetes terá como fim apoiar estas trabalhadoras.

 

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