Ambientalistas lançam petição contra “abate massivo de árvores” pela IP

27 de março 2024 - 10:13

Por todo o país, a Infraestruturas de Portugal estará a proceder “de forma continuada, injustificada e sistemática” ao corte de árvores nas bermas das estradas e ferrovia. Alerta-se para o perigo de “desarborizar estes territórios”.

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Foto da Infraestruturas de Portugal.

“Ecocídio” é a expressão utilizada por um grupo de ambientalistas, entre os quais dirigentes de 17 associações, que lançou uma petição online intitulada “Contra o abate massivo de árvores perpetrado pela Infraestruturas de Portugal” para designar a prática desta empresa pública nas bermas da rede rodoviária e ferroviária.

Os signatários pretendem alertar entidades como o Governo, as Câmaras Municipais, o ICNF, a APA, entre outras, para o abate de arbustos e árvores “de pequeno e grande porte, “de forma continuada, injustificada e sistemática”, por aquela entidade. Dão como exemplos recentes os cortes de “milhares de árvores adultas” no Parque Natural Sintra-Cascais (ER-247), Santarém (EN-362), Ponte da Barca (EN-101) ou na Prelada-Porto (VCI).

Acusa-se a IP de matar “árvores que demoraram décadas a crescer, quando precisamos delas mais do que nunca”. “contra a vontade das populações locais”, “com rapidez e leviandade, muitas vezes sem cumprir o aviso prévio legal”.

O texto defende ainda que desarborizar estes territórios “afeta a qualidade do ar que respiramos, diminui sombras e humidade, traz mais calor e desconforto, expõe mais os veículos em andamento ao vento e aumenta risco de despiste, contribui para as alterações climáticas, reduz o habitat de flora e vida animal, gera perda de biodiversidade, desqualifica a paisagem e, no fundo, degrada os ecossistemas em que nos inserimos, incluindo os ecossistemas urbanos e urbanizados, que também são ecossistemas e necessitam de um reequilíbrio urgente entre natureza e infraestruturas humanas”.

Criticam-se os “espaços desqualificados” que resultam destas ações “onde impera a falta de vegetação e o excesso de cimento e barreiras”, “nomeadamente barreiras sonoras esteticamente deploráveis, com materiais poluentes e de má qualidade”.

O texto finaliza com um apelo ao Estado para que “faça da Infraestruturas de Portugal uma empresa pública ambientalmente responsável” e ao municípios para que “não permitam que a Infraestruturas de Portugal continue este ecocídio.”

Ao Expresso, o primeiro subscritor da petição, Rui Mourão, dirigente do Movimento Muda de Árvore (MUDA), acrescenta que “todos os dias chegam relatos de abates desenfreados por todo o país”. Outro dos subscritores, Júlio Ricardo, usa a expressão “catástrofe ambiental” para designar o fenómeno que afeta também a sua zona, Rio Maior e avança uma possível causa: “há muito apetite por esta madeira e nunca se viram tantos madeireiros a concorrer à gestão de faixas de combustível, como agora”. Os madeireiros ouvidos pelo semanário confirmam que há “elevada procura de rolaria pelas centrais de biomassa” e que o negócio é “facilitado pela rapidez com que se efetua o abate". "É cortar e carregar”, afirmam.

Também ouvidos pelo jornal, Tiago Oliveira, presidente da Agência para a Gestão Integrada de Fogos Florestais, defende que “a gestão das faixas de combustível não é para abater árvores, apenas arbustos secos, ramos e resíduos” já que “o fogo começa junto ao solo, não nas copas das árvores”; e Joaquim Sande e Castro, da Universidade de Coimbra, corrobora que “as execuções das faixas de gestão de combustível não são eficazes no combate ao fogo, estando a destruir património arbóreo, genético e a capacidade de enfrentar pragas e doenças.”