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Passos chama Borges para privatizar mais depressa

No dia em que o representante do FMI em Lisboa negou as notícias sobre um segundo empréstimo da troika, Pedro Passos Coelho nomeou o ex-diretor do departamento europeu do FMI para trabalhar junto com a troika na ajuda aos bancos e acelerar as privatizações.
António Borges é um dos maiores defensores da austeridade na Grécia e em Portugal. Foto IMF/Flickr

Na entrevista publicada esta sexta-feira ao semanário Sol, o primeiro-ministro anunciou a escolha de António Borges para liderar a coordenação de "toda a implementação da agenda de transformação estrutural que queremos concretizar". Passos Coelho diz que a entrada do antigo quadro do banco de investimentos Goldman Sachs, que foi administrador da Jerónimo Martins antes de seguir para o FMI, «irá habilitar o Governo a dar um ritmo e uma intensidade maiores à execução destas medidas».

O anúncio surgiu no dia em que Albert Jäger, o representante do FMI em Portugal, tentou afastar a ideia cada vez mais instalada de que Portugal é "a próxima Grécia" e convencer imprensa e mercados financeiros que o país estará em condições de pagar os 9 mil milhões da dívida que vence em setembro de 2013. Em declarações ao jornal de economia alemão Handelsblatt, citado pela agência Lusa, não faltam elogios do FMI ao governo. No que respeita ao Orçamento de 2012, Albert Jäger diz que ele "demonstra que o governo português assumiu o programa de ajustamento financeiro como seu".

A identificação do programa do Governo com o da troika já tinha ficado clara nas declarações de Passos Coelho na quarta-feira, dia em que aumentou de novo o preço dos transportes públicos: "Não fazemos a concretização daquele programa obrigados, como quem carrega uma cruz às costas. Nós cumprimos aquele programa porque acreditamos que, no essencial,  o que ele prescreve é necessário fazer em Portugal para vencermos a crise em que estamos mergulhados", disse o primeiro-ministro.

Para além das privatizações e do apoio à banca, essas medidas abrangem a negociação das Parcerias Público-Privadas e a reestruturação do sector Empresarial do Estado. Uma das funções de António Borges na direção do FMI na Europa era a de supervisionar os planos aplicados à Grécia, Portugal e Irlanda. Em novembro abandonou o cargo alegando "motivos pessoais", com a imprensa a referir divergências com a diretora-geral Christine Lagarde. Durou menos de um ano a passagem de Borges pelo FMI, a convite de Dominique Strauss-Khan, e a saída motivou especulações sobre uma eventual entrada no governo português. O estatuto de "supercomissário" que lhe está destinado por Passos Coelho parece confirmar que esse é um caminho em aberto.

António Borges é antigo quadro da Goldman Sachs, tal como os atuais primeiros-ministros grego e italiano, Lucas Papademos e Mario Monti, ambos nomeados no parlamento sem eleição, após a demissão dos antecessores. Também Mário Draghi, o atual presidente do Banco Central Europeu, pertenceu aos quadros daquele banco que ganhou uma influência considerável sobre as pessoas que aplicam a receita da austeridade na Europa.  

A passagem de Borges pelo FMI ficou marcada por uma gafe numa conferência de imprensa, em que admitiu a compra de dívida espanhola e italiana diretamente pelo FMI, que desmentiu o seu diretor no dia seguinte. Em 2009, António Borges também causou polémica ao defender o modelo das carteiras de investimentos desreguladas - os "hedge funds" - que estiveram no centro da crise financeira e custaram muitos milhões aos contribuintes norte-americanos. Um ano depois, a polícia da bolsa dos EUA acusou o Goldman Sachs por fraude através da constiutição e venda destes "hedge funds" que eram na verdade "lixo tóxico".

    

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