“Vivemos tempos de indignação”

20 de abril 2013 - 11:19

Durante o Jantar comemorativo dos 39 anos do 25 de Abril, organizado pelo Congresso Democrático das Alternativas, o economista José Reis defendeu que “as políticas de austeridade foram vendidas sobre a falsidade e o autoritarismo dogmático de que não havia outra solução, de que eram o único caminho” e que, na realidade, “o Estado Social é a verdadeira condição de superação da crise, é a solução”.

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Segundo o Diretor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, a mensagem da iniciativa, que teve lugar na Cantina Velha da Cidade Universitária, e que contou ainda com as intervenções de Fernando Vicente e Ana Nicolau, foi “dizer que as bandeiras de abril, nos dias de hoje, são o equivalente a denunciar o memorando [de ajuda externa], a renegociar a dívida e sobretudo a defender o Estado Social”.

“Vivemos tempos de indignação. Os tempos que vivemos são obscuros”, afirmou José Reis em declarações à agência Lusa, defendendo ainda que “as políticas de austeridade foram legitimadas com falsidades”.

Referindo-se a algumas dessas “falsidades”, o economista mencionou “a de que as pessoas se tinham endividado, quando uma análise rigorosa mostra que se endividaram porque foram levadas a comprar casa, e também sobre a despesa pública, quando afinal a despesa e a dívida do Estado português andaram sempre abaixo das outras economias”.

José Reis desmontou também a ideia de que o peso dos custos salariais estaria a impedir o crescimento, lembrando que “foi com os custos salariais que Portugal tinha que se criaram mais de cinco milhões de postos de trabalho, coisa que nunca tinha acontecido”.

Portugal “é das economias europeias em que mais gente trabalha e que mais empregos criou, apesar dos ditos custos salariais”, salientou, adiantando que “o que qualquer economista sereno pode garantir é que não há nenhuma teoria boa ou má que diga que a austeridade é uma boa solução ou a única solução”.

“Muitos exercícios que se fazem tratam, no fundo, de encontrar argumentos para aquilo que é um pressuposto político e que muitas vezes é um viés político. Esse famoso excel é afinal o exemplo de uns quantos exercícios que se fizeram para se encontrar justificações científicas para políticas, mas não tem nada de científico”, frisou o Diretor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, fazendo uma alusão ao estudo “Crescimento em tempo de dívida” de Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff publicado em 2010 (ver notícia “Economistas debatem erro na fórmula da austeridade”).

José Reis insistiu que “a economia é economia política”, realçando que em economia o que há a fazer “é escolher, decidir, sobre os caminhos vários” que podem ser seguidos.

“As políticas de austeridade foram vendidas sobre a falsidade e o autoritarismo dogmático de que não havia outra solução, de que eram o único caminho”, asseverou.

“É possível demonstrar que a realidade não pode ser reduzida a uma variável simples, ainda por cima escolhida à medida do cliente e tudo se torna mais caricato quando essa variável é mal manipulada”, concluiu.