“As PPP têm de ter um número de partos de acordo com a necessidade de lucros”

11 de abril 2012 - 3:35

Afinal, porque é que o Governo quer encerrar a Maternidade Alfredo da Costa? Em entrevista ao esquerda.net, Ana Campos, médica obstetra da MAC, refere que “as parcerias público privadas têm de ter um número de partos que esteja de acordo com as suas necessidades de lucros” e alerta que a divisão das equipas de trabalho que se construíram na MAC “pode ser extremamente negativa para a saúde das mulheres em Lisboa”.

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Abraço à MAC - Foto de Paulete Matos

Afinal, porque é que o Governo quer encerrar a Maternidade Alfredo da Costa?

“As desculpas são várias”, disse ao esquerda.net Ana Campos.

Uma primeira é que, segundo o ministro, “existe aqui um grupo de médicos que faz muito trabalho e existem poucos médicos e pouco trabalho noutras instituições”. O ministro diz que o número de partos na MAC é em demasia e que é pequeno noutros hospitais, pelo que “têm de ser mais distribuídos pela região de Lisboa”. Ana Campos responde à desculpa: “ A realidade é que neste momento a maternidade é a instituição que tem maior números de partos e de diferenciações de partos e aquilo que lhes interessa, fundamentalmente, é impedir que este número reduza o número de partos nalguns hospitais, que foram criados e que precisam de ter partos, nomeadamente o hospital de Loures”.

Outro argumento do ministro é que poderão haver “mais 8.000 partos em Lisboa, que não estão a ser utilizados”.

“Ora o que acontece na realidade é que se isso acontece hoje, acontecia há um ano, portanto não devia ter aberto Loures, nem deverá abrir no próximo ano o hospital de Vila Franca de Xira com valência de obstetrícia e ginecologia” contrapõe Ana Campos. E realça: “No fundo, as parcerias público privadas têm de ter um número de partos que esteja de acordo com as necessidades e ganhos e lucros”.

Sublinhe-se que o novo Hospital de Loures é uma PPP ruinosa atribuída ao grupo Espírito Santo e que o Hospital de Vila Franca de Xira é uma PPP com a sociedade José de Mello Saúde.

Ana Campos salienta ainda que “o espaço da maternidade é um espaço central, provavelmente muito apetecível, e que, enquanto estiver no centro de Lisboa e tiver os profissionais que tem, será sempre o grande centro de atração de muitas mulheres” da população de Lisboa.

Sublinha ainda que na MAC, “as equipas aqui são multidisciplinares, são coesas, têm uma diferenciação elevada que foi constituída pelo seu próprio trabalho, o mesmo não se verificando noutras equipas” e responde ao ministro Paulo Macedo: “O senhor ministro terá de perguntar porque é que as outras equipas estão aquém das possibilidades e não dividir a maternidade que está em excesso como ele diz, em relação às capacidades”.

O encerramento da maternidade, que prejuízos pode provocar à população de Lisboa?

Para Ana Campos, os prejuízos advirão da divisão das equipas multidisciplinares e “poderão ser extremamente negativas para a saúde das mulheres em Lisboa”. Lembra a médica obstetra que “60% do movimento da maternidade são situações de alto risco e de doença materna muito complicadas, com cuidados neonatais de alta qualidade para permitir sobrevida de partos prematuros”, “tudo isso precisa de um ambiente de multidisciplinaridade” e “quando as equipas são cortadas as coisas já não vão funcionar da mesma maneira”. “Uns técnicos precisam dos outros e foi isso que nós conseguimos e soubemos criar ao longo de muitos anos” salienta Ana Campos, realçando que “é isso que neste momento vai estar em causa”.

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