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O meu Estado é mais laico do que o teu
A história é simples e, infelizmente, demasiado comum. Ao observar uma rapariga que usava um hijab numa escola secundária, um membro da comunidade escolar indignou-se e afirmou que o melhor seria adotar o exemplo francês e abolir a presença de qualquer símbolo religioso dentro das escolas. Poderia ter ficado por aqui mas não acredito que uma opinião seja apenas uma opinião – já o deixei bem claro noutro texto – e muito menos acredito que a opressão seja arma de combate à opressão.
A argumentação utilizada por este membro da comunidade escolar também não é nova: alegava a laicidade do Estado e, consequentemente, a obrigatoriedade das escolas públicas não estarem associadas a qualquer religião. Até aqui, estamos de acordo. Contudo, não posso concordar com a conclusão, que só é possível obter pela distorção promíscua do conceito de Estado laico.
A laicidade do Estado não se expressa na proibição dos cidadãos de professarem a sua fé, seja qual for. Significa, isso sim, que o Estado não pode impor qualquer religião a ninguém, nem basear as suas decisões em doutrinas religiosas. Para além disso, mais do que laico, vivemos num Estado democrático e isso significa que as pessoas são iguais nas suas diferenças e, como tal, também devem ser respeitadas nas suas diferentes religiões. A anulação de qualquer simbologia religiosa, essa sim, é opressora das pessoas.
Podemos afirmar que o hijab ou a burca são armas de opressão feminina - não o nego -, mas não acredito que a proibição do seu uso seja produtiva na luta pela emancipação das mulheres. Pelo contrário, acredito que isso apenas afastaria raparigas e mulheres de espaços tão importantes como as escolas. O uso destes símbolos religiosos não pode ser comparado ao uso de um chapéu, que constitui apenas uma opção estética; é uma obrigatoriedade (rígida e inflexível), intrinsecamente associada à pessoa que o usa.
É curioso como, por vezes, em busca da liberdade, acabamos por oprimir mais ainda quem nos rodeia; como, em nome dos valores mais elementares da democracia, abolimos a liberdade individual de cada um. Mais curioso é o facto de disfarçarmos preconceitos e fazer deles uma bandeira de liberdade. Se a discussão pela laicidade do Estado fosse séria, questionaríamos também o uso de cruzes ao pescoço ou a moda dos terços, na adolescência.
A emancipação das mulheres é urgente mas não acontecerá se ultrapassarmos todos os passos na luta e saltarmos diretamente para a proibição do hijab e da burca. Principalmente se essa proibição for baseada na distorção de conceitos basilares da democracia; se o que mobilizar a luta contra o uso destes símbolos for a xenofobia e não a própria emancipação da mulher.
Comentários
A questões da laicidade não
A questões da laicidade não se resumem à utilização (ou proibição) de utilização de símbolos religiosos.
Assim, gostava de saber que tipo de laicidade defende o Bloco de Esquerda.
Obrigado.
Quanto ao hijab, ok. Quanto a
Quanto ao hijab, ok. Quanto a burca... sou motociclista, por exemplo, achava bem se eu passear por espaços publivos com capacete integral e passa montanhas ? E que tal eu juntar meia duzia de colegas assim vestidos e entrar num banco ?
Pois é, a esquerda também
Pois é, a esquerda também pode ser de um conservadorismo atroz! Triste!
Só espero, um deste dias, não encontrar nenhum camarada a defender o direito o uso da burka .
Em nome da liberdade
Em nome da liberdade religiosa.
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