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O Bloco de Esquerda e o PCP

Faz todo o sentido aprofundar uma acção unitária. Sem hipocrisia, porque isso significaria esconder diferenças reais, mas também sem sectarismos.

Primeiro facto: todos conhecemos as diferenças substanciais que existem entre o Bloco e o PCP. Desde logo, uma diferente concepção das liberdades públicas que se reflecte no seguidismo do PCP face a regimes ditatoriais como a China e a Coreia do Norte. Por outro lado, uma distinta articulação com o espaço público: o Bloco quer ser um partido-movimento-social e o PCP reproduz a estratégia leninista da vertical cadeia de transmissão, bem patente na forma como se relacionam com os sindicatos. Além do mais, as visões de funcionamento “interno” são bem diferenciadas: o Bloco reconhece tendências e estimula a diversidade de posições e opiniões, enquanto que o PCP mantém o centralismo democrático. Finalmente, o PCP olha a Europa com desconfiança e viés nacionalista, ao mesmo tempo que o Bloco a encara como possibilidade de internacionalizar as lutas.

Segundo facto: Bloco e PCP convergem nas tomadas de posição no Parlamento e no espaço público, nas votações (em mais de 4/5 dos casos) e nas plataformas reivindicativas, nomeadamente na CGTP.

Deste modo, faz todo o sentido aprofundar uma acção unitária. Sem hipocrisia, porque isso significaria esconder diferenças reais, mas também sem sectarismos, porque isso levaria a um enfraquecimento do combate anti-capitalista, particularmente numa conjuntura de forte ofensiva reaccionária, como a que estamos a viver.

Assim, uma coligação pré-eleitoral seria um absurdo, porque estes dois partidos têm mais votos separados. Mas novas e cada vez mais arrojadas modalidades de convergência pós-eleitorais são não apenas desejáveis mas, acima de tudo, necessárias.

Sobre o/a autor(a)

Sociólogo, professor universitário. Doutorado em Sociologia da Cultura e da Educação, coordena, desde maio de 2020, o Instituto de Sociologia da Universidade do Porto.
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