O “Presidente da República saúda resultados da votação interna no SPD”, lê-se num comunicado oficial publicado no site oficial do Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa. É estranho e um pouco pateta. Porque, enfim, como o próprio indica, trata-se de uma “votação interna” de um partido. Acresce que o SPD é o Sozialdemokratische Partei Deutschlands. Partido das Alemanhas, portanto. Bem sei que durante vários anos nos comportámos como uma colónia alemã, mas não me lembro de ver a Troika exigir que o Presidente da República assumisse a função de comentador político das reviravoltas do senhor Schulz, ainda por cima para lhe esfregar na cara o fim anunciado do seu partido agora que se prepara para beber a sopa da senhora Merkel.
No comunicado, Marcelo saúda a decisão do SPD, porque “permite uma solução de Governo na Alemanha com o potencial para contribuir para que a Europa ultrapasse a encruzilhada em que se encontra”. Se é encruzilhada, então tem a forma de rotunda, porque o SPD já lá estava antes - como parceiro menor da senhora Merkel - e não deixou estória nem marcou a história. A diferença, dizem-me os macronistas militantes, é que agora o senhor Schulz vai ter o lugar do senhor Schäuble, e isso muda tudo. É desta.
Há duas teorias possíveis que explicam esta iniciativa inédita: ou Marcelo estava tremendamente aborrecido e entreteve-se a escrever um comunicado; ou Marcelo decidiu aproveitar a visita do seu homólogo alemão Frank-Walter Steinmeier para lançar uns “sinais de Belém”, uma expressão sempre providencial com que meia dúzia de jornalistas tentam interpretar sinais de fumo da lareira presidencial até alguém publicar a versão oficial segundo “fontes de Belém”. E, neste caso, a mensagem revela toda a política de Marcelo: a recomposição do centro político através do europeísmo de coração ardente, um projeto que começou agora com as negociações sobre fundos europeus entre PS e PSD.
O problema é que ninguém reparou, porque ninguém leva a sério um discurso europeísta vindo dos dois partidos alemães que mais promoveram o nacionalismo económico alemão, a única política europeia que a Alemanha teve e terá com Merkel ou Schulz. É por isso que o comunicado é pateta. Vem de um Presidente que calcula sempre o que está a fazer, e tudo o que pode fazer é lançar vivas por algo que não existe.