Jardim e a teia do poder absoluto

porLuís Branco

06 de outubro 2011 - 11:04
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São poucas famílias e estão por todo o lado na política e nos negócios madeirenses, sempre dependentes dos favores do Estado. Foram os grandes beneficiários do dinheiro da dívida, mas não esperam pagá-la após as eleições de domingo.

Em 33 anos de poder absoluto na Madeira, Alberto João Jardim nunca esteve tão perto de perder a maioria que garante o Estado laranja na Região. Mas a descoberta dos 6.328 milhões de euros de dívida - coisa que faria tremer qualquer governante com um orçamento comparável a poucos dias duma eleição - não o preocupa. Nos comícios até explica porque a escondeu do governo de Sócrates e avisa em seguida que fará o mesmo ao de Passos Coelho, se achar que é preciso. O primeiro-ministro, esse, cumpriu a sua parte desta campanha eleitoral ao congelar a publicação do resultado da auditoria e do plano de austeridade sobre os madeirenses antes de irem às urnas.



Depois de 9 de Outubro, os madeirenses com mais dificuldades vão ouvir também que "andaram a viver acima das suas possibilidades" e serão chamados a pagar o esbanjamento do dinheiro público para alimentar a clique empresarial do PSD/Madeira. Como Jaime Ramos, secretário-geral e líder parlamentar do PSD/M, o tal que ouviu em tempos um deputado da oposição lembrar que antes de ser deputado "vendia sifões de retrete". Hoje é dono de dezenas de empresas ligadas à construção civil, cimentos e imobiliário, e detém participações em áreas como a imprensa, o futebol, o aluguer de automóveis e os teleféricos da ilha.



Como Jaime Ramos, que tem no filho Jaime Filipe um sucessor na política e nos Conselhos de Administração de que já faz parte com o pai, há outras famílias instaladas há muitos anos na manjedoura do Orçamento da Madeira. Circulam entre os gabinetes do Governo Regional ou da bancada parlamentar, os lugares de nomeação política, as autarquias e as empresas que beneficiam de ajustes directos saídos dos cofres da Região. Não é por acaso que Jardim nunca aceitou uma lei de incompatibilidades como existe no resto do país e que impediria por exemplo a aprovação de leis que beneficiam directamente alguns deputados que as votam.



Sou dos que acham que a Madeira viveria melhor sem Alberto João Jardim e com mais deputados do Bloco de Esquerda e dos partidos da oposição que se recusam a governar abraçados ao polvo laranja, como quer o CDS. Mas sobre esse assunto os eleitores madeirenses decidirão por si no domingo. Acontece que na segunda-feira a dívida continuará lá e é preciso saber quem é responsável por ela, quem enriqueceu com ela e quem deve ser chamado agora a pagá-la. É para essa luta que os madeirenses precisam agora da ajuda de toda a esquerda.

Luís Branco
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